Periodicamente, a costa de Quintana Roo, no México, sofre fortes infestações de sargaço, uma alga marinha comum em regiões tropicais. Isso representa um grande problema para os habitantes locais, que ano após ano têm se dedicado exaustivamente à limpeza das praias durante a temporada de abril a agosto. A causa do sargaço ainda é desconhecida, mas algumas teorias ligam sua ocorrência à mudança climática e às mudanças no Oceano Atlântico. Atualmente, a Organização Não-Governamental Red de Monitoreo del Sargazo de Quintana Roo monitora a presença da alga na região e, de acordo com seu mais recente levantamento, há 22 locais com presença excessiva destes seres.
Durante a temporada de 2018, quase 60 toneladas de sargaço haviam sido retiradas das costas e os habitantes locais se perguntavam como reverter este fenômeno natural para utilizá-lo em seu benefício. Seis anos antes, esta pergunta levou Omar Vázquez Sánchez a fundar a Blue-Green de Puerto Morelos, uma empresa que demonstrou a utilidade do sargaço como um biomaterial no setor da construção civil, erguendo - em apenas 15 dias - uma casa com blocos feitos de adobe e sargaço. Esta mistura foi submetida a testes de resistência pela UNAM e provou ser capaz de resistir a fortes terremotos e ventos de furacões.
Este mês de setembro marca o quarto aniversário da construção da "Casa Angelita", a primeira casa sargaço do mundo. Atualmente, a empresa Blue-Green já está trabalhando também em Belize e na República Dominicana, e assinou um acordo com a Embaixada da França para as Antilhas Francesas. O material está se tornando popular porque seus custos são entre 30% e 40% menores do que o custo médio para construir uma casa, graças ao projeto do sistema de construção, que economiza 70% dos materiais, como cimento e vergalhões. Além disso, o material tem demonstrado grandes propriedades térmicas e acústicas, o que despertou o interesse do setor da construção civil.
Hoje, graças aos estudos realizados por Omar Vázquez Sánchez e Blue-Green, é possível materializar o primeiro bloco feito de sargaço. A mistura é feita a partir da desidratação e trituração do sargaço para combinar os outros 60% com resíduos de poda e calcário, o bloco não requer cozimento e seca em aproximadamente 6 horas, seu custo é de US$12. Tem dois furos internos de 2 polegadas cada um que facilitam a construção, instalação hidráulica e elétrica, e também ajudam a climatizar o ambiente, pois promovem a evaporação do calor.
Esta forma de agir sobre os fenômenos naturais para transformá-los em algo benéfico para a população despertou o interesse de várias empresas e construtoras em levá-lo a escalas muito maiores, aplicando-o a futuros empreendimentos habitacionais sustentáveis. Esta é uma grande oportunidade para continuar a estudar os fenômenos naturais e pensar em uma arquitetura que atenda às necessidades específicas dos locais onde ela é construída sem prejudicar o meio ambiente. Até hoje, a empresa Blue-Green continua a crescer com o apoio de diferentes organizações focadas em fomentar iniciativas que promovam o resgate do ecossistema através de estratégias de inovação como os Laboratórios Aceleradores do PNUD. Atualmente, 13 casas foram doadas a pessoas de baixa renda.
Para mais informações visite Blue-Green.
Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: O futuro dos materiais de construção. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
