O passado ditará a estética do futuro?

A atual produção arquitetônica enfrenta diversos paradigmas e um deles é o estético. Num cenário de constantes incertezas, edifícios com projeções, hologramas ou completamente automativos que a ficção científica tanto deslumbrou, assim como a própria tecnologia aponta como uma possibilidade porvir, parecem cada vez mais distantes da realidade. Hoje, a busca por uma maior identificação com o espaço construído tem sido ampliada ao invés de idealizar o novo pelo novo. Por isso, olhar para o passado tem apresentado diferentes perspectivas e é nessa mirada que talvez possamos imaginar uma nova estética futurística. 

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Colorscape / Francis Keré. © Tim Tiebout. Cortesia de PMA

No livro Anti-Architecture and Deconstruction: The Triumph of Nihilism, o matemático Nikos A. Salingaros faz uma análise das raízes e de como o modernismo evoluiu até chegar ao desconstrutivismo. A partir de diagnósticos matemáticos e argumentos que passam pela filosofia e psicologia, o autor demonstra como a arquitetura contemporânea tem se quebrado em fragmentos que não mais condizem com o próprio espírito, de forma que o ponto de vista desorientado que vemos hoje na sua produção afeta diretamente as nossas emoções e noções de pertencimento. 

Ao criticar os vazios dados pela ordem do minimalismo ou os espaços fractais da desconstrução, Salingaros aproveita para destacar a monumentalidade de edifícios das antigas civilizações, as simples ornamentações e detalhes decorativos de arquiteturas vernáculas como formas de expressão criativa do ser humano através da espacialidade, na qual, a busca por uma identidade passa por aquilo que foi construído. 

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© Victor Delaqua

Se seus argumentos buscam provar cientificamente seus pontos de vista, o que vemos hoje, e pode reforçar tal visão, é uma tendência em busca de elementos e símbolos do passado para compor o espaço no qual vivemos. Segundo o Pinterest, há um aumento significativo na busca por termos como "estátua grega", "estética da Grécia antiga", "coluna coríntia", demonstrando um interesse da geração Z - a primeira que nasceu num ambiente completamente digital - em relação às ordens clássicas e como incorporá-las na decoração de seus espaços.

Além disso, finalmente outras matrizes estéticas que destoam do senso do belo colocado por uma visão eurocentrada têm ganhado cada vez mais relevância e deixam de ser vistas dentro do míope escopo de algo "primitivo", "rústico" ou "selvagem", adjetivos que criam uma falsa análise e geram um desequilíbrio perante as noções hegemônicas do que é aceito esteticamente. Recorrer a culturas ancestrais de diferentes povos e etnias tem sido uma alternativa genuína e necessária para muitos daqueles que pretendem se conectar com suas raízes, para compreender o passado e trabalhar ainda mais a própria identidade na contemporaneidade. 

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Espaço Agô / Gabriela de Matos. Foto: © Paulo Pereira – Teia Documenta

Portanto, o ornamento pode até não ser necessário num ponto de vista funcional, mas está longe de ser um crime, e como afirma Salingaros, ele é "necessário para definir uma arquitetura viva". Uma arquitetura que conta histórias, remonta ao passado e pode apontar para outros futuros, nos quais a compreensão dos símbolos que nos formaram como sociedade e indivíduos faça parte do nosso cotidiano através do espaço e não sigam apagados da nossa história.

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Casa Olaria / NJ+ Arquitetos Associados. Foto: © Denilson Machado – MCA Estúdio

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Sobre este autor
Cita: Victor Delaqua. "O passado ditará a estética do futuro?" 14 Jun 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/982559/o-passado-ditara-a-estetica-do-futuro> ISSN 0719-8906

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