Há algo mais natural que a própria natureza? O argumento das casas “verdes”

Muitas vezes eu mesmo não fui capaz de decifrar se um edifício em meio ao bosque poderia ser considerado “sustentável”. Ao longo do caminho, fui obrigado a convencer amigos e familiares de que este ou aquele edifício poderia ser completamente a antítese do próprio termo.

O greenwashing transformou-se em uma importante ferramenta de marketing na arquitetura contemporânea. O conceito de sustentabilidade na arquitetura foi banalizado a tal ponto que já não significa absolutamente nada de concreto. Neste contexto, é praticamente impossível diferenciar um projeto que contribui de fato para minimizar o impacto ambiental e para construir ambientes mais saudáveis daqueles que simplesmente pretendem estar fazendo algo similar. Quando observamos projetos residenciais sob esta lente, esta questão se torna ainda mais nebulosa.

Pensando nisso, decidimos perguntar aos nossos leitores: O que faz com que uma casa seja considerada "verde"? Seria apenas saber de onde vem e quem comercializa os materiais utilizados para construí-la? Seria o fato de produzir toda a energia necessária para a sua manutenção a partir de fontes renováveis?

A quantidade de respostas foi impressionante, e depois de ler e compilar todos os comentários enviados por nossos leitores, sejam eles profissionais da indústria da construção, estudantes de arquitetura ou apenas interessados no tema, a grande maioria deles concordam que para ser considerada verde a arquitetura deve procurar ser mais eficiente em seus ciclos, deve nos ensinar a ser mais conscientes e responsáveis. A seguir, os diferentes pontos de vista de nossos leitores:

Ponto de vista 1: Ciclos mais eficientes

Existe algo mais natural ou mais verde do que a própria natureza? Vamos pensar por um momento em uma árvore, na primavera ela floresce, trazendo cores e alegria para as nossas vidas, no outono, ao perder suas folhas, ela fornece matéria orgânica para uma série de microorganismos que depois devolverão minerais ao solo, permitindo que ela se mantenha saudável no futuro. Isso é um ciclo eficiente, ainda que a primeira vista pareça ser um desperdício, tudo tem uma razão de ser neste ciclo que se retroalimenta. Precisamos pensar da mesma maneira quando se trata de arquitetura, devemos pensar não apenas em reutilizar edifícios e espaços, mas também seus materiais e elementos construtivos. - Estudante de arquitetura do Uruguai.

Nas grandes cidades, tudo depende de apostarmos na reabilitação de edifícios existentes na construção de novas estruturas pensando sempre em como incorporar materiais sustentáveis, considerando o ciclo de vida e a energia utilizada para a produção e transporte de cada elemento utilizado. A energia mais verde é aquela que menos se utiliza. - Interessado em arquitetura escreve desde a Espanha.

Ponto de vista 2: Aprendendo a ser mais conscientes e responsáveis 

Há alguns anos, quando íamos a uma loja de discos para comprar um CD, tínhamos que procurar primeiramente pelo gênero musical que nos interessava, e nem sempre um determinado álbum pertencia apenas à um único gênero. Embora a música siga sendo categorizada em diferentes gêneros (porque é isso que fazemos com tudo), as fusões e mesclas são exatamente aquilo que enriquece não só música, mas tudo aquilo que nos cerca. Com a arquitetura deveria acontecer o mesmo, considero que não precisamos rotular ou definir limites entre uma arquitetura e outra, mais ou menos sustentável, mas descobrir dentro de cada projeto o que é que ele tem para nos oferecer. Ecologia e sustentabilidade, neste caso, são coisas impossíveis de se separar dos seus processos, conceitos, tradições, climas, da sua relação com o meio ambiente, etc ... Chegamos à um momento que, seja na arquitetura ou em qualquer outra disciplinas ou profissão, é necessário uma busca constante por uma maior sustentabilidade, que consideremos todas as questões e variáveis possíveis para alcançá-la. - Comenta um arquiteto da Argentina.

A realidade é que na arquitetura, somente podemos tomar medidas que possam mitigar ou minimizar o impacto e o consumo de recursos. Apenas uma parte dos materiais utilizados podem ser reaproveitados, e no final, sempre haverão resíduos com os quais teremos que nos preocupar. Então, o que faz com que uma casa seja considerada “verde”? o que a faz sustentável?, no meu ponto de vista isso tem a ver com compromisso e responsabilidade, uma consciência de que devemos sempre buscar mitigar o impacto das estruturas que construímos através de nossas decisões—proporcionando um novo modo de viver e ver o mundo - Comenta um arquiteto do México.

Acredito que deve haver um equilíbrio entre como vivemos em meio à natureza e como construímos nossos edifícios junto a ela. Todas as nossas decisões devem visar a otimização de recursos e minimização dos possíveis impactos ambientais. Ainda assim, é importante destacar, que para encontrar um equilíbrio entre um modo de vida e uma arquitetura sustentável, devemos buscar soluções estruturais e não superficiais, estratégias que possam ser adaptadas e evoluir de acordo com as demandas e necessidades especificas de cada momento. É preciso controlar a nossa pegada e reduzir emissões, desenvolver políticas públicas que possam catalizar as mudanças que se fazem tão necessárias. - Responde uma profissional da arquitetura do Chile

Ponto de vista 3: Promovendo a vida

O problema é que passamos a associar o “verde” a tudo aquilo que ele sempre representou, como a vegetação e o meio ambiente. De que adianta construirmos em meio ao verde se não somos capazes de promover as diferentes formas de vida que ali residem? Se o verde deve promover a vida, então para que uma casa seja considerada verde, de nada adianta incorporar a natureza apenas para torná-la mais bonita e agradável aos nossos olhos, ela deve estar no centro de tudo, como algo capaz de traduzir uma necessidade em benefícios para as pessoas que ali vivem. - Explica um profissional da Venezuela.

Costumamos relacionar o termo “arquitetura verde” com os prefixos “bio”, que significa vida; e “eco”, que significa casa. Há algo nisso que nos passa uma sensação de que o verde representa a natureza, mais especificamente plantas, por isso é tão normal utilizar uma árvore para simbolizar o verde aba arquitetura—e é exatamente ai que está o nosso erro. Se pudéssemos combinar os prefixos bio e eco, obteríamos um significado semelhante ao de “ecossistema”, onde vários componentes bióticos e abióticos coexistem entre si em equilíbrio, e a arquitetura verde deveria assumir exatamente essa lógica... É um pouco ambíguo, mas a conclusão é que a arquitetura vede deveria ser capaz de pertencer a um determinado ecossistema sem causar nenhum impacto negativo a ele. - Nos ensina um leitor da Colômbia.

Sobre este autor
Cita: Dejtiar, Fabian. "Há algo mais natural que a própria natureza? O argumento das casas “verdes”" [¿Hay algo más natural que la propia naturaleza? Nuestros lectores opinan sobre casas "verdes"] 08 Mar 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/957987/ha-algo-mais-natural-que-a-propria-natureza-o-argumento-das-casas-verdes> ISSN 0719-8906

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