Andaimes: de equipamento auxiliar a protagonista na arquitetura

Fala-se pouco sobre a contribuição dos andaimes na história da construção. Estas estruturas geralmente foram tratadas como meros equipamentos e, por isso, seus registros são bastante escassos. Sem elas, no entanto, seria quase inviável construir a maioria dos edifícios que conhecemos. Os andaimes permitem atingir e deslocar materiais a pontos difíceis em uma construção, proporcionando segurança e algum conforto aos trabalhadores. Mas além do seu papel de estrutura de apoio para as construções, temos visto que os andaimes também podem servir para estruturas móveis, temporárias e mesmo permanentes. Conheça um pouco da história e das suas possibilidades a seguir.

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© Marcel Gautherot

Estima-se que os primeiros usos de andaimes tenham sido feitos há cerca de 17.000 anos, no período paleolítico. Furos nas paredes para a fixação destas estruturas de apoio em cavernas no sudoeste da França, sugerem que andaimes rudimentares auxiliaram nossos antepassados a realizar pinturas rupestres [1]. Outro registro importante de uso é no Egito, em torno do ano 1450 aC, em que pinturas egípcias ilustram a construção de um obelisco com o auxílio de andaimes [2]. Também há evidências documentais de que os egípcios usaram andaimes de madeira para a construção das pirâmides.

Além da madeira, um material importante na história dos andaimes é o bambu. Ele foi e permanece sendo largamente utilizado para a construção de armações de suporte às construções, sobretudo na Ásia. Como já abordamos aqui, trata-se de um material altamente resistente estruturalmente para esforços de tração e compressão, além de crescer muito rapidamente e poder ser colhido e utilizado facilmente. As conexões entre os troncos de bambu podem ser amarrados através de cordas vegetais ou plásticas.

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Clément Bucco-Lechat, CC BY-SA 3.0 , via Wikimedia Commons

De fato, a junção entre as peças tratava-se da principal fragilidade e algo que demandava tempo considerável durante a montagem. Um ator importante para torná-los mais eficientes foi Daniel Palmer-Jones, que montou junto ao irmão a empresa Patent Rapid Scaffold Tie Company Ltd na Inglaterra. Eles patentearam em 1911 um conjunto de fixações para os troncos de madeira e para os tubos de metal que vinham sendo introduzidos no mercado na época. A solução foi batizada de rapid scaffixers e utilizava correntes de ferro amarradas a pequenas peças cravadas na madeira.

Já em 1923, com o avanço da metalurgia, os tubos metálicos tornaram-se mais e mais comuns, e a mesma empresa desenvolveu outros sistemas de fixação, que até hoje são muito vistos nos canteiros de obra. Este sistema unia as peças tubulares por braçadeiras com parafusos e porcas, atingindo muito mais resistência e praticidade na montagem. Outra patente extremamente importante foi o do sistema de quadros, criado por um trabalhador da construção que havia sobrevivido a uma queda de um andaime de madeira que colapsou. Durante sua recuperação, Reinhold A Uecker concebeu um quadro de aço mais seguro e prático do que os cavaletes de madeira que ele costumava usar [2].

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Pavilhão Schaustelle / J. Mayer H. Architects. Image © Markus Lanz © Pinakothek der Moderne
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Mercado Dadad / Bangkok Tokyo Architecture + OPH. Image Cortesia de OPH

Atualmente é quase impossível encontrar uma construção que não tenha utilizado andaimes em alguma etapa da obra. Mas além de seu uso tradicional, temos visto a utilização dos andaimes como protagonista em alguns projetos. Seja em pavilhões, estruturas temporárias, instalações de arte e até projetos de interiores, a flexibilidade estrutural e a facilidade de montagem possibilitadas, juntamente com a leveza e a translucidez quase caótica das estruturas de andaime, têm fascinado os arquitetos.

Um projeto icônico que utilizou os andaimes de forma permanente foi o Teatro Oficina, da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi e de Edson Elito. Segundo o crítico Rowan Moore, autor de um artigo publicado sobre a obra no jornal inglês The Guardian, "Um espaço longo e estreito como uma rua em uma envoltória queimada de um antigo teatro que é assistido por uma empena de galerias construídas com andaimes. O Teatro Oficina tem ângulos de visão desafiadores, assentos duros e uma forma que é exatamente a que os teatros não deveriam ter, mas é tanto mais intenso precisamente por isso." Suas arquibancadas empilhadas em estruturas de andaime permanecem sendo utilizadas 60 anos depois da construção.

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Teatro Oficina / Lina Bo Bardi e Edson Elito. Image © Nelson Kon

Outra obra de destaque, ainda que temporária, foi o Pavilhão Humanidade2012, de Carla Juaçaba e Bia Lessa. Os andaimes adquirem total protagonismo, conformando uma estrutura que parece se desmaterializar na sua translucidez, mostrando o movimento do público e os volumes opacos dos programas da enorme edificação.

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Humanidade2012 / Carla Juaçaba + Bia Lessa. Image © Leonardo Finotti
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“Yolechang2020” Market / UAO Design. Image © Ran Jia

Outro uso bastante nobre para os andaimes é o de criar estruturas temporárias para locais de encontro, como centros comunitários, lugares para reuniões de bairro e espaços públicos. Como reunido neste artigo, os andaimes permitem compor rapidamente o espaço trabalhando com flexibilidade horizontal, vertical e diagonal, combinados com outros materiais como tecidos, madeira, policarbonato e metal.

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Hacking SP - Adidas Ultraboost19 / Victor Delaqua + bloco B arquitetura. Image © Gabriela Favero

Como um enorme jogo de montar, os andaimes permitem criar estruturas sólidas rapidamente, possibilitando a criação de edifícios erigidos em dias ou mesmo horas. Veja, nesta pasta, alguns projetos publicados no ArchDaily cujos andaimes são utilizados em um papel protagonista.

Notas
[1] Waters, Colin. Reaching for the sky – A potted history of scaffolding. scaffmag: The Scaffolding Magazine. Disponível neste link.
[2] Campolina, Felipe de Paula. Andaimes: a evolução do sistema e novas aplicações na construção metálica. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas. Departamento de Engenharia Civil. Mestrado Profissional em Construção Metálica. 2017.

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Sobre este autor
Cita: Eduardo Souza. "Andaimes: de equipamento auxiliar a protagonista na arquitetura" 21 Dez 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/953400/andaimes-de-equipamento-auxiliar-a-protagonista-na-arquitetura> ISSN 0719-8906

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