Andar a pé eu vou: como podemos defender cidades para pedestres?

Hoje, dia 08 de agosto, é comemorado o Dia Mundial do Pedestre. A data ficou reconhecida pela foto icônica dos Beatles atravessando a Abbey Road, em 1969. Estamos em 2020, mais de cinquenta anos se passaram e ainda encontramos muitas dificuldades em ser pedestre nas cidades: quantas vezes você enfrentou o desafio de atravessar a rua? Ou de ter que caminhar por calçadas estreitas e mal iluminadas?

A mobilidade a pé trata sobre a condição do movimento de pedestres pelos espaços coletivos, pelos espaços das cidades, em seus diferentes contextos. Movimentos curtos, longos, rápidos ou demorados, que acontecem todos os dias, a todas as horas, em qualquer lugar. Não é à toa que o refrão “somos todos pedestres” é usado em coro pelas organizações que defendem o caminhar: ser pedestre nos une. A pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (2017) estima que 40% dos brasileiros se deslocam exclusivamente a pé, ou seja, somos aproximadamente 130 milhões de pedestres em movimento pelas ruas do Brasil.

Apesar do deslocamento a pé ser o meio de transporte mais antigo, natural, inclusivo, saudável, econômico e com menor impacto ambiental, ele é ainda o mais negligenciado: as más condições da infraestrutura o tornam inacessível e inseguro. O caminhar é feito, muitas vezes, pela falta de opções, ausência de infraestrutura de transporte público, escassez de recursos para pagar uma passagem ou falta de acesso a outras alternativas, como um carro, uma bicicleta ou, mais recentemente, aplicativos e patinetes. Andar a pé não é, para a maioria das pessoas, motivo de orgulho. Por isso, indivíduos têm dificuldade de se identificar como pedestre: ser pedestre também nos separa. 

Escadarias no Jardim Ângela na zona sul de São Paulo/SP. Crédito: Cidade Ativa

A valorização da mobilidade a pé deve acontecer, então, em dois espaços: junto à sociedade civil, a partir da sensibilização quanto aos desafios e benefícios da caminhada; e junto aos governos, apoiando a formulação de políticas e projetos inclusivos que garantam acessibilidade, segurança, conforto, conectividade com outros meios de transporte e atratividade nos trajetos de pedestres. Esses são os grandes objetivos que inspiram as organizações e indivíduos que defendem a mobilidade a pé nas cidades brasileiras.

Paulista Aberta. O programa Ruas Abertas trouxe oportunidade de expandir a oferta de áreas de lazer à população. Crédito: Cidade Ativa

Vislumbrando as eleições municipais previstas para acontecer no Brasil no segundo semestre de 2020, e entendendo esse momento como oportuno para incidir nos espaços de sensibilização e de formulação de políticas públicas democráticas, é preciso mapear, disseminar, facilitar a replicabilidade e apoiar novas iniciativas que defendam o caminhar. A valorização e o compartilhamento de experiências, somados à articulação desses grupos que atuam no tema, são vitais para que o movimento da mobilidade a pé se mantenha atuante, especialmente em um contexto político marcado pelo desprezo e desestímulo à atuação das organizações da sociedade civil.

A publicação digital e interativa “Andar a pé eu vou: caminhos para a defesa da causa no Brasil” foi concebida como uma resposta a esse chamado: desenvolvida no âmbito do projeto Como Anda, e com a colaboração de mais de 100 indivíduos e organizações, ela foi inspirada pelo desejo de reunir experiências e grupos. O trabalho apresenta uma série de estudos de caso nacionais voltados para o reconhecimento dos deslocamentos a pé e traz em detalhe as principais estratégias, táticas e ferramentas que os grupos utilizaram nas ações para fortalecer o caminhar na agenda política.

Publicação já está disponível para download. Crédito: Projeto Como Anda

Toda a investigação contida na publicação trouxe muitos aprendizados de como podemos - tanto organizações da sociedade civil quanto indivíduos - contribuir com o fortalecimento do movimento de defesa da mobilidade a pé no Brasil. Para isso, alguns passos precisam estar em constante movimento:

  • Reconhecer e valorizar todas as formas de defesa da mobilidade a pé;
  • Defender a mobilidade a pé para defender também uma cidade feita para pessoas;
  • Compreender que as ruas são territórios complexos que adquirem múltiplas funções ao longo do tempo;
  • Expandir e aprofundar o levantamento de experiências no tema sobre o caminhar; 
  • Reconhecer as especificidades dos diferentes contextos geográficos, sociais, culturais e econômicos onde surgem essas iniciativas e que podem se abrir para novos caminhos;
  • Visualizar as experiências dos estudos de caso como oportunidades de inovação social a serem exploradas, adaptadas, replicadas e aprimoradas.

Uma cidade pensada para o deslocamento a pé é uma cidade pensada para pessoas. Crédito: Cidade Ativa

A defesa de um modelo de cidade mais inclusiva, mesmo antes da pandemia causada pela COVID-19, já era urgente, mas agora se tornou inadiável. Na incerteza sobre como voltaremos a ocupar os espaços públicos, fica mais evidente a necessidade de repensar o ambiente construído e investir em novas políticas e infraestruturas que possam enfrentar várias agendas e crises que já estavam postas. A cidade acessível aos deslocamentos a pé permite que pessoas voltem a sair às ruas, frequentem os espaços públicos, trabalhem e realizem suas atividades do cotidiano de forma segura.

Sobre o projeto Como Anda
Como Anda é o ponto de encontro de organizações que promovem mobilidade a pé no Brasil, fruto de uma parceria entre as organizações Cidade Ativa e Corrida Amiga e apoio do iCS (Instituto Clima e Sociedade) e tem o objetivo de criar um ambiente fértil para o empoderamento desses grupos, disponibilizando dados e disseminando informações sobre iniciativas e projetos e promovendo oportunidades para trocas e parcerias.

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Sobre este autor
Cita: Cidade Ativa. "Andar a pé eu vou: como podemos defender cidades para pedestres? " 08 Ago 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/945338/andar-a-pe-eu-vou-como-podemos-defender-cidades-para-pedestres> ISSN 0719-8906

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