Representações como ferramentas para criar narrativas arquitetônicas

Quando ouvimos o termo visualizações arquitetônicas, é provável que a primeira imagem em mente, seja um render chamativo com pessoas, acabamentos ofuscantes e uma sensação de movimento sobre o local em questão. Além de renderizar um espaço tridimensional, os arquitetos também precisam desenvolver suas habilidades na representação de ideias intangíveis, de forma a direcionar a narrativa por trás de seus argumentos. Em vez de criar conceitos pontuais, que são apresentados em uma sequência tradicionalmente linear, os arquitetos precisam criar uma história, estruturar seus projetos como uma tese e considerar como as apresentações têm o poder de revelar as prioridades de um projeto.

Diagrama do livro Graphic Design for Architects / volume 2. Imagem © Karen Lewis

As representações espaciais são apenas uma, das inúmeras ferramentas utilizadas para configurar uma visão, mas diagramas, análise de dados, texto, cores e layout são tão importantes, quanto as imagens semi-literais do projeto em si. Karen Lewis, professora de arquitetura da Escola Knowlton da Ohio State University, é especialista em explorar como os arquitetos estruturam argumentos, através de uma variedade de representações baseadas em dados. Na primeira edição de seu livro, Graphic Design for Architects (Routledge, 2015), ela fornece dicas e truques detalhados sobre como os arquitetos podem aprimorar suas habilidades gráficas e desenvolver argumentos poderosos para expressar a intenção do projeto. Seu trabalho se concentra na maneira como os arquitetos transmitem suas ideias não apenas para os outros profissionais, mas também para o público interessado em ouvir, o que a arquitetura tem a dizer e o poder de mudança que ela pode trazer.

Diagrama do livro Graphic Design for Architects / volume 2. Imagem © Karen Lewis

Quando perguntada sobre quais tendências ela sentia, que na representação gráfica, a profissão estava se afastando, Lewis comentou que a visualização de dados e a síntese parecem ser menos populares do que eram antes, provavelmente devido ao quão onipresente se tornaram. "Houve um momento em que a medida foi simplificar as informações, mas agora chegamos ao extremo da simplicidade, que se tornou prejudicial ao argumento. O que vemos agora é um apelo à complexidade, porém precisamos encontrar uma maneira de esclarecer, ao invés de simplificar, assuntos difíceis, especialmente considerando o estado atual do mundo, a informação e o poder de se envolver são críticos.” Lewis também recordou das propagandas políticas, que a Starbucks fez para seus clientes, antecedendo a eleição presidencial dos Estados Unidos, em 2008. “Na época, era uma ideia encantadora que nosso café trouxesse um apelo político, mas agora com o consumo excessivo de dados que ocorre em nossas vidas, as pessoas estão evitando a representação de estatísticas numéricas, em favor de algo mais complexo”, acrescenta Lewis.

À medida que as tendências e as estratégias de design sofrem alterações, a maneira como representamos nossas ideias, também não é a mesma. As cópias impressas, outrora populares, estão sendo substituídas por formas digitais de representação, como sites pessoais e perfis do Instagram. O conteúdo dos portfólios, também está em constante evolução, a intenção de um usuário de mostrar que conhece o Revit ou o AutoCAD, não é tão importante, quanto ao fato dele ter domínio e experiência ao projetar e conhecer as implicações que cada linha representa.

Participação no concurso Geografia da Violência. Imagem © Karen Lewis

O futuro do modelo físico também está sob a forte influência das representações analógicas e digitais. Com o avanço das impressoras 3D, máquinas a laser e CNC de grandes formatos, o modelo físico seguirá o exemplo e se tornará menos uma representação literal e mais uma ferramenta diagramática. As maquetes têm o poder de nos mostrar muito mais, do que apenas o volume em uma escala reduzida, elas representam os limites dos aspectos performativos de um projeto.

Lewis também apresenta três indicadores principais a serem considerados pelos arquitetos ao elaborar suas narrativas. Primeiro, comece com o público em mente, pense em quais informações precisam ser destacadas para reforçar o conceito. Segundo, é importante que o modelo represente você, injetar um pouco de sua personalidade em suas representações e ter orgulho do que está compartilhando. É ótimo usar outros arquitetos como inspiração, mas verifique se o seu trabalho representa a sua voz. Lewis observou que a inspiração pessoal vem de uma variedade de cores e tipos de letra. Por fim, elimine a estratégia de agrupar desenhos semelhantes e, em vez disso, pense na estrutura da narrativa. Os argumentos geralmente precisam de mais de um tipo de representação. Portanto, não hesite em misturar visualizações, mesmo que pareçam estar fora de ordem.

Participação no concurso Geografia da Violência. Imagem © Karen Lewis
Concurso de Paisagem Industrial Leve. Imagem © Karen Lewis
Concurso de Paisagem Industrial Leve. Imagem © Karen Lewis

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "Representações como ferramentas para criar narrativas arquitetônicas" [Visualizations as an Architectural Storytelling Tool] 08 Jul 2020. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/942982/representacoes-como-ferramentas-para-criar-narrativas-arquitetonicas> ISSN 0719-8906

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