Como o desenho urbano pode salvar vidas?

Quando a questão sobre mortes e lesões no trânsito é colocada em pauta, rapidamente a associamos aos limites de velocidade. Especialistas do mundo todo concordam que essa é uma das principais e mais eficientes medidas que asseguram a segurança viária: quanto maior a velocidade do veículo, menor a chance de sobrevivência em um impacto. Por exemplo, ser atingido por um veículo a 80km/h é o mesmo que cair de uma altura de 9 andares (cerca de 30 metros de altura). Mas, se as velocidades são indicadas por placas de trânsito, qual é então o papel do desenho urbano na segurança e proteção das pessoas?

A verdade é que o desenho viário interfere diretamente no comportamento dos motoristas. Se uma via é projetada com largas dimensões de faixas de rolamento, sem travessias, ou com grandes raios de curvatura em esquinas, implantar somente um sistema de sinalização não é suficiente para que o veículo trafegue em velocidade baixa. É por isso que existem diversas medidas físicas que podem ser adotadas nas ruas das nossas cidades para garantir a segurança de quem caminha, de quem pedala, de quem usa o transporte público e de quem dirige.

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Várias cidades ao redor do mundo estão adotando medidas para melhorar a segurança viária e evitar mortes e lesões no trânsito. Uma iniciativa amplamente difundida é a “Visão Zero”, iniciada na Suécia, que define que nenhuma vida perdida no trânsito é aceitável, apresentando o redesenho viário como solução para salvar vidas. Além disso, ela aponta diversos atores responsáveis pelas ocorrências, como engenheiros e planejadores urbanos, além dos motoristas.

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É nesse contexto que surgiu o Global Street Design Guide (Guia Global de Desenho Viário), um documento desenvolvido pela NACTO e lançado em outubro de 2016, que aborda diversos conceitos e possibilidades de transformação das cidades a partir da priorização de pedestres e ciclistas.

O manual é estruturado a partir de três grandes seções:

  • Sobre as ruas: seção que discute porque as ruas são importantes, os processos envolvidos no desenho e implementação de projetos viários e maneiras para medir e avaliar ruas e suas intervenções viárias.

  • Orientações para o desenho viário: seção que discorre sobre a importância de considerar o contexto e cultura locais na concepção de projetos, maneiras para identificar os diferentes grupos de usuários e desenhar estratégias para suas necessidades, além de estratégias de gestão, operação e parâmetros para futuras intervenções viárias.

  • Transformação das ruas: seção que identifica possíveis reconfigurações viárias de acordo com as diversas tipologias de ruas e interseções, além de estudos de caso que revelam como cidades no mundo transformaram suas ruas em prol da segurança viária para os usuários.

A seguir destacam-se algumas estratégias presentes no guia para medir e analisar e, assim, subsidiar projetos para espaços plenos, justos e equitativos para todos os usuários do sistema viário.

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COMO ANALISAR RUAS  

As ruas devem ser compreendidas como redes de transporte e espaços públicos que se conectam e podem abrigar uma grande diversidade de atividades como caminhar, pedalar, sentar em um bar ou café, celebrar, fazer compras, encontrar amigos, relaxar, entre outras. Quando essa diversidade de usos e usuários é contemplada no projeto de desenho viário, ela gera uma cidade que prioriza a escala das pessoas, garantindo a segurança de todos os usuários.

Para que a geometria de via tenha uma distribuição igualitária e eficiente do espaço, algumas etapas de análise nas mais diferentes escalas podem trazer subsídios para diretrizes de projetos e intervenções:

  • Escala do bairro: analisar o contexto no qual a via está localizada, levantando dados como demografia, densidade, história e cultura, uso do solo, acesso e redes de transporte, conectividade, dimensão das quadras da malha urbana, segurança viária, ecossistemas, probabilidade de desastres naturais, topografia, saúde pública;

  • Escala da via: analisar atividades que ocorrem ao longo do dia, presença de mobiliário urbano, respeito à escala humana, prioridade aos pedestres, fachada ativa, transparência, número de entradas, pontos de ônibus, estações de metrô, sistema alternativo de drenagem, clima, gestão das calçadas, infraestrutura e outros elementos que compõem o espaço.

  • Escala dos usuários: Identificar os usuários da via (pedestres, ciclistas, usuários de transporte público, veículos motorizados individuais, veículos de carga e comércio local e de rua), comparar a velocidade média de deslocamento desses usuários, estabelecer entre eles uma relação de distância percorrida dentro do mesmo período de tempo e identificar as diferentes escala dos usuários e dimensão que cada um representa na ocupação do espaço da via (calçadas, ciclovia, ciclofaixa, faixa exclusiva para ônibus, leito carroçável).

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Sobre este autor
Cita: Cidade Ativa. "Como o desenho urbano pode salvar vidas?" 14 Dez 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/885443/como-o-desenho-urbano-pode-salvar-vidas> ISSN 0719-8906

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