O que é necessário para sair da nossa zona de conforto e mudar nossa relação com a cidade?

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O que nos motiva a mudar a maneira como nos deslocamos pela cidade, onde fazemos compras ou o destino do lazer no domingo? Quais são os fatores determinantes que nos levam a rever como nos relacionamos com nossa vizinhança, com nosso bairro ou cidade?

A paisagem muda, a pessoa muda…

A pessoa muda, a paisagem muda…

Propostas de intervenção nas cidades, físicas ou programáticas, são frequentemente alvo de críticas porque revelam, em alguns casos, o desejo de mudança de um hábito para a população e, em outros, porque reforçam tendências e costumes que não se pretende mudar, independente da motivação. Construção de ciclovias, pontes, calçadas, alteração dos limites de velocidade ou requalificação de espaços públicos - como esses investimentos em infraestrutura influenciam as escolhas que fazemos no dia-a-dia? É improvável que mudanças nas cidades não impactem também as pessoas que nelas residem. A transformação das pessoas acontece de forma mais espontânea quando o ambiente em que vivem e convivem é modificado. Prefeituras de diversas cidades implementam programas e planos voltados a encorajar um novo estilo de vida e trazer mudanças que beneficiem seus cidadãos como, por exemplo, o incentivo à prática de atividade física no lazer através de ciclofaixas temporárias e abertura de ruas para pessoas ou, ainda, estímulo ao uso do transporte público através de faixas exclusivas de ônibus. No entanto, além das transformações nas cidades, quais são os outros aspectos que desencadeiam essa mudança de hábitos?

Um estudo realizado por psicólogos da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, afirma que o momento mais efetivo para convencer alguém a mudar um hábito é quando se está passando por outras mudanças de vida. A pesquisa investigou a relação entre mudar de casa e trocar o meio de transporte. Os resultados revelaram que pessoas com níveis semelhantes de preocupação com o meio ambiente que haviam se mudado há pouco tempo (menos de um ano) usaram menos o carro do que aquelas que não se mudaram recentemente, sugerindo que a alteração de contexto interferiu na escolha do modo de deslocamento.

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Essa descoberta abre uma janela de oportunidades para que cidadãs e cidadãos sejam convencidos a tomarem decisões e escolherem hábitos de vida mais saudáveis. Segundo especialistas do The Behavioural Insights Team, além do momento correto, alguns outros critérios podem ajudar a aumentar o sucesso do convencimento, devendo a abordagem para a mudança de comportamento ser:

Fácil

  • Aproveite o poder dos padrões: As pessoas têm uma forte tendência a escolherem a opção mais fácil e confortável. Fazer da mudança uma opção atrativa torna sua adoção mais provável. Aqui, vale criar campanhas que disseminem novos ou antigos padrões como, por exemplo, caminhar no tempo livre, usar a bicicleta ou transporte público para os deslocamentos diários, relacionando com os benefícios que essas escolhas podem trazer para a saúde do cidadão;
  • Reduza a complicação: O esforço necessário para executar uma ação muitas vezes afasta as pessoas. A redução desse empenho pode aumentar as taxas de adoção de mudanças. Isso significa que precisamos investir em infraestrutura e espaços que de fato encorajem a adoção de estilos de vida mais saudáveis. Com ações simples de ocupação do espaço público, por exemplo, as pessoas podem vislumbrar novas oportunidades;
  • Simplifique a mensagem: Tornar a mensagem clara e acessível muitas vezes resulta em uma maior taxa de resposta. Pode ser importante dividir um objetivo complexo em ações mais simples e de fácil compreensão para todos os públicos.

Atrativa

  • Atraia a atenção das pessoas: Incluir o uso de imagens, cores ou personalizar uma identidade para a mensagem aumenta a chance da prática ser adotada;
  • Planeje recompensas e penalidades: Incentivos financeiros são muitas vezes altamente eficazes, mas projetos de incentivos alternativos - como sorteios - também funcionam bem e muitas vezes exigem recursos mais baixos. Aqui pode-se desenvolver incentivos como receber dias a mais de férias por pedalar ou caminhar ao trabalho.

Social

  • Mostre que a maioria das pessoas executa o comportamento desejado: Descrever o que a maioria das pessoas faz em uma situação particular encoraja os outros a fazerem o mesmo. Será que se soubermos que mais de 30% da população se desloca a pé nas cidades não iriamos nos esforçar mais em sair de casa caminhando?;
  • Use o poder das redes: Estamos inseridos em uma rede de relações sociais, e aqueles com quem estamos em contato ajudam a moldar nossas ações e atingir diferentes públicos;
  • Encoraje pessoas a se comprometerem com os outros: Muitas vezes usamos ferramentas de alerta para nos inibir com antecedência de fazer algo mas, muitas vezes, a ação prática desses eventos é essencial para novas práticas serem adotadas. É uma disciplina que deve ser exercida todos os dias até fazer parte do seu cotidiano.

Oportuna

  • Aproveite os momentos de susceptibilidade: Como visto anteriormente, o comportamento é geralmente mais fácil de mudar quando outras mudanças estão acontecendo em grandes eventos da vida, como mudança de trabalho ou de casa, ou transformações do espaço urbano no entorno próximo;
  • Considere os custos e benefícios imediatos: Somos mais influenciados pelos custos e benefícios imediatos do que aqueles futuros. Por isso, para incentivar mudanças de hábitos e comportamentos, é necessário revelar os benefícios de melhorias na qualidade de vida como diminuição dos gastos com saúde e transporte;
  • Ajude as pessoas a planejar sua resposta aos eventos: Há uma diferença substancial entre intenções e comportamento real. Uma solução comprovada é levar as pessoas a identificar os obstáculos à ação e desenvolver um plano específico para enfrentá-los, a partir das suas reais necessidades.

Se apresentarmos e encorajarmos um novo modo de viver e conviver nas nossas cidades de maneira clara, atrativa, social e oportuna, será possível ver e fazer a mudança acontecer.

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Sobre este autor
Cita: Cidade Ativa. "O que é necessário para sair da nossa zona de conforto e mudar nossa relação com a cidade? " 06 Nov 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/882993/o-que-e-necessario-para-sair-da-nossa-zona-de-conforto-e-mudar-nossa-relacao-com-a-cidade> ISSN 0719-8906

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