A mais nova infraestrutura cicloviária de Copenhague é uma "ponte estúpida"

Este artigo foi originalmente publicado no blog de Copenhagenize Design Co, intitulado "Copenhagen's Fantastic & Stupid Bicycle Bridge Inderhavnsbro."

Não é segredo que Copenhague continua investindo maciçamente em infraestruturas para o ciclismo como nenhuma outra cidade do planeta. A rede já é abrangente e eficaz, mas a cidade continua acrescentado ligações importantes, especialmente sobre o porto e os canais. Uma das adições mais recentes é a Ponte Inderhavnsbroen, que abarca o Porto de Copenhague em um ponto chave, estratégico e icônico. Ela conecta o centro da cidade com o bairro Christianshavn e os bairros do sul. Ela é uma da série de 17 novas pontes ou passagens subterrâneas para o tráfego em bicicleta que foram adicionadas à rede de transporte da cidade nos últimos anos.

A Ponte Inderhavnsbroen teve problemas em sua construção e estava extremamente atrasada, tendo sido inaugurada apenas em julho de 2016. Deixe-me ser claro: estou muito feliz que temos uma nova e moderna conexão sobre o porto para acomodar especialmente o tráfego de bicicletas e pedestres. Eu estou impressionado com o fato de que o número de ciclistas que a cruzam diariamente excede toda a quantidade projetada. A cidade estimou que entre 3.000-7.000 ciclistas usariam a ponte mas os números mais recentes são de 16.000. É um enorme sucesso. Mas às vezes você está tão apegado aos detalhes que não vê o todo. Desculpe, mas Inderhavnsbro é uma estúpida, estúpida ponte.

Ela cumpre sua função primária de permitir que as pessoas atravessem um corpo de água. Mas é uma coisa pesada e bestial que está completamente fora de lugar no delicado contexto urbano, histórico e arquitetônico de sua localização e uma complicação fantástica da arte simples e intemporal de pontes que se abrem e fecham. Projetada por um arquiteto chamado Cezary Bednarski de um escritório de arquitetura com raízes em dois países onde ciclismo não é mais do que um transporte mainstream, a ponte falhou miseravelmente a respeito dos conceitos básicos de urbanismo e ciclismo e os padrões estabelecidos para infra-estrutura e instalações. Pelo que parece, o Studio Bednarski nem sequer se incomodou em compreendê-los.

© Copenhagenize Design Co

O apelido para o monstro é a "ponte do beijo" e é falho em tantas maneiras. Após milênios com projetos perfeitamente funcionais para atravessar água como pontes levadiças e pontes giratórias, este arquiteto decidiu complicar o conceito. A ponte encontra-se no meio, onde os dois lados "se beijam". Uma ideia agradável, vinda de uma mesa de escritório distante mas, completamente estúpida na prática. Ainda demonstrou-se incrivelmente difícil de ser realizada.

Cruzar a ponte de bicicleta envolve duas curvas fechadas. Os ciclistas são desviados bruscamente e rudemente em direção ao meio da ponte e de volta para o mesmo lado novamente. Talvez a ideia de conseguir com que os dois lados "se beijem" fosse muito difícil com o comprimento da ponte ou a largura necessária. A ideia do beijo peculiar é o objetivo primário, à custa do senso comum. O artifício preliminar visual é que os painéis de vidro mudam de cor quando a ponte abre. Oooh. Uau.

Durante um século, os padrões regulamentários para detalhes como curvas foram implementados. Sabemos que a curvatura funciona melhor para conforto e segurança. Mas, neste caso, elas apresentam sérios problemas que são claramente visíveis. Você pode ver pelas marcas dos pneus que quando chove as pessoas apenas cortam os cantos.

© Copenhagenize Design Co

Uma preocupação mais séria são as muitas marcas de derrapagem que se vê na ponte e em qualquer direção. Paro e estudo cada vez que eu cruzo. Dê uma olhada quando você atravessa. Há sempre marcas recentes. Elas param antes das barreiras de vidro, mas eu descobri o porquê, como você pode ver na foto acima.

As pessoas atingem o meio da ponte e, em seguida, aceleram, mas muitas pessoas não conseguem perceber que o arquiteto não foi capaz de desenhar uma linha reta e eles seguram os freios e batem no vidro. Eu não sei se alguém já caiu na água, mas a física fornece uma situação perfeita.

© Copenhagenize Design Co

Olhe para a barreira de vidro na foto acima. A cidade percebeu que há um problema e colocou um sinal de alerta grande, vermelho e branco para tentar ajudar as pessoas a perceber que é um beco sem saída. Se você precisa colocar sinais de aviso em um projeto, é basicamente um projeto de ínfima qualidade.

A inclinação para se chegar até a ponte também ignora os padrões para infraestrutura do ciclismo. Neste artigo, você pode ler como a maioria dos padrões foram estabelecidos nos anos 1920 e 1930. O arquiteto provavelmente pensou "bicicleta" e um cara com uma roupa de lycra em uma bicicleta de corrida surgiu na sua cabeça. Tenho visto algumas pessoas descendo e caminhando até o declive, mas a maioria apenas força seus músculos caminho acima. A ponte é muito íngreme. Não é projetada para uma cidade que incentiva o uso da bicicleta como meio de transporte e o arquiteto não se incomodou pesquisando o fato de que temos 40.000 bicicletas de carga cheias de crianças e bens em Copenhague.

© Copenhagenize Design Co

Em todas as outras pontes para bicicletas em Copenhague, há um simples sinal sonoro para que os ciclistas e pedestres parem enquanto a ponte estiver se abrindo. Compare esse design simples com as enormes barreiras que se levantam como criaturas da lagoa negra da Inderhavnsbro. Complicações cômicas. Outro detalhe é que não há rampas nas escadas do lado do pedestre - incomum em Copenhague - mas necessário. Mas isso é facilmente corrigido, comparado com o resto do pesadelo.

Está usando fundos municipais para experimentar? Os desenhos freestyle são realmente uma boa ideia? A ponte também foi financiada por um fundo filantrópico - mas isso significa que não precisamos ser racionais quando recebemos material gratuito? Posso fácil e legitimamente criticar o arquiteto que fracassou miseravelmente em sua tarefa, mas não podemos esquecer que havia um júri de habitantes nativos que realmente olhou para este projeto e votou "sim", por isso, há muitos tolos nesta festa.

© Copenhagenize Design Co

Há tantas partes móveis que avarias seriam inevitáveis. Já aconteceu várias vezes. Os navios ficaram presos no lado errado porque não abria. A pequena loja acima, apareceu de repente e estava no lugar por mais de uma semana. Isso não é bom para a mobilidade. Uma ponte fantasia em Kiel, Alemanha, acabou apresentando tantos problemas que outra ponte foi construída ao lado, para ser usada quando a ponte de fantasia quebra. É este caminho que estamos tomando em Copenhague?

A ponte não é mais do que uma "arquitetura magpie": um objeto brilhante que atraiu as pessoas que o selecionaram, seduzidas pela ostentação e pela falsa inovação em vez de serem guiadas pela racionalidade atemporal e princípios básicos de projeto. Segue a triste tradição de Squiggletecture, onde pontes e instalações são projetadas por arquitetos que não entendem os usuários.

© Copenhagenize Design Co

Além disso, na tentativa de apaziguar a multidão de veleiros ricos, a cidade de Copenhague concordou em deixar a ponte aberta 30 vezes por mês - muito mais do que as seis vezes por mês que as outras ligações principais sobre o porto, Knippelsbro e Langebro. Esta ponte não será confiável como uma opção de transporte para as pessoas que estão apenas tentando começar a trabalhar ou estudar, uma vez que a temporada de navegação começa.

Os princípios básicos do design dinamarquês - prático, funcional e elegante - foram, infelizmente, esquecidos na escolha desta ponte. O brilho vai desgastar e, temo eu, seremos confrontados com problemas mais caros.

Mikael Colville-Andersen é um especialista em design urbano e CEO da Copenhagenize Design Co.

Sobre este autor
Cita: Colville-Andersen, Mikael. "A mais nova infraestrutura cicloviária de Copenhague é uma "ponte estúpida"" [Copenhagen's Latest Piece of Cycle Infrastructure Is a "Stupid, Stupid Bridge"] 23 Abr 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/869283/a-mais-nova-infraestrutura-cicloviaria-de-copenhague-e-uma-ponte-estupida> ISSN 0719-8906

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