Como projetar ciclovias elevadas que realmente funcionem?

Não há dúvida sobre isso - ciclismo urbano é uma boa ideia nos dias de hoje. Mas, ao passo que ciclovias e sistemas de compartilhamento de bicicletas são adequados às nossas cidades, a revolução do ciclismo ainda não nos trouxe muitos exemplos de belas estruturas para nos maravilharmos. Esse artigo, publicado originalmente em The Dirt como "Do Elevated Cycletracks Solve Problems or Just Create More?", discute dois exemplos aparentemente similares de infraestruturas cicloviárias sofisticadas, examinando porque uma delas é um sucesso enquanto a outra um fracasso.

Este ano, dois projetos - um proposto e outro construído - de ciclovias elevadas que criam percursos acima do nível da rua receberam considerável atenção da mídia. Esses projetos destacam importantes questões de planejamento urbano: A cidade deve misturar ou segregar as opções de transporte? Como a cidade pode melhor mitigar os riscos inerentes do contato entre carros, bicicletas, transporte coletivo e pedestres? Como as cidades podem criar redes de transporte de baixo custo em núcleos urbanos cada vez mais densos?

Em janeiro, Exterior Architecture e Foster + Partners revelaram sua proposta para a London SkyCycle, uma rede de ciclovias elevadas de 220km de extensão com mais de 200 pontos de acesso e que acompanha a rede ferroviária da cidade (veja a imagem acima). A equipe de projeto afirma que cada rota poderá "acomodar 12 mil ciclistas por hora e diminuirá os tempos de deslocamento em até 29 minutos."

Essa proposta ainda se estende para além de Londres e seus subúrbios: "O sonho é que você possa acordar em Paris e pedalar até a Gare du Nord", disse Sam Martin do Exterior Architecture, para o The Guardian. "E então pegar o trem até Stratford e pedalar até o centro de Londres em poucos minutos, sem se preocupar com caminhões e ônibus."

O plano foi proposta durante um período particularmente tenso para o ciclismo em Londres, após uma onda de acidentes de trânsito em novembro de 2013 que resultou na morte de seis ciclistas em um período de duas semanas. Mas por se basear na rede de ferrovias de Londres, o projeto recebeu muitas críticas.

Why The Skycycle Would Never Work

Entre os críticos mais notáveis estão o Prefeito Boris Johnson, o blog de ciclismo Road.cc e o especialista de planejamento urbano Mikael Colville-Anderson, do site Copenhagenize. No programa de rádio de Londres chamado "Ask Boris" [Pergunte a Boris], o Prefeito chamou o plano de "extraordinariamente caro. Eu sinceramente não acho que, como um ciclista, é isso que a cidade precisa, o que precisamos é mais medidas de segurança, precisamos de vias melhores, precisamos de maior proteção para os ciclistas de todos os tipos, precisamos de maiores investimentos em nossas ruas e é isso que estamos fazendo."

Colville-Anderson, menos diplomaticamente, chama o plano de "clássica arquitetura oportunista que busca atrair as pessoas para coisas deslumbrantes, mas que tem pouco valor no desenvolvimento da cidade. Ideias como essa acabam com a cidade. Remover um grande número de cidadãos que estariam pedalando nas ruas da cidade, passando por lojas e cafés em seus trajetos para o trabalho ou escola, e colocando-os em numa plataforma afastada de tudo. Tudo isso numa cidade que está tão atrasada em restabelecer o ciclismo como transporte é vergonhoso. Com grande parte da população já implorando por bicicletas nas ruas, colocá-las no alto, fora do caminho, dificilmente ajudará a trazer as bicicletas de volta ao tecido urbano da cidade."

Com o custo para apenas os primeiros 6,5km estimado em £220 milhões (aproximadamente R$835 milhões) e com as críticas do prefeito diminuindo o impulso, o futuro do SkyCycle é incerto.

Por outro lado, o projeto Cycle Snake, ou Cykelslangen, localizado em Copenhague e concluído há alguns meses, recebeu inúmeros elogios da crítica. Projetada pelos arquitetos do escritório Dissing and Weitling, a ciclovia de 235 metros de extensão se curva e torce graciosamente sobre o porto, um pavimento acima de uma movimentada orla comercial.

Cycle Snake. Cortesia de DISSING+WEITLING Architecture

Com cerca de 4 metros de largura e duas pitas, a rota elevada conecta a ponte de pedestres e ciclistas Bryggebroen a partes da cidade além da movimentada área portuária de Kalvebod Brygge. O custo de sua implementação foi de US$5,74 milhões (R$13 milhões).

Cycle Snake sobre o porto. Cortesia de DISSING+WEITLING Architecture

Ao invés de uma proposta chamativa para resolver os problemas de transporte de uma cidade numa escala de renovação urbana desatualizada, Cycle Snake aborda o problema de uma área específica: uma escadaria complicada com intenso tráfego de pedestres que não se misturava bem com os ciclistas que tentavam passar por lá.

Rampa de acesso ao Cycle Snake. Cortesia de DISSING+WEITLING Architecture

“Havia uma conexão faltando que forçava os ciclistas a usarem a escada ou fazerem um enorme contorno ao redor de um shopping center", disse Colville-Anderson em um artigo para a FastCo.Exist. "Essa solução proporcionou uma conexão rápida entre uma ponte e uma ponte para bicicletas sobre o porto, ao passo que liberou a orla portuária para os pedestres."

O trajeto oferece um pouco da emoção do mountain bike em uma cidade bastante plana, e os ciclistas podem desfrutar das vistas para o porto sem se preocupar em esbarrar nos pedestres. Copenhague também planeja construir seis outras pontes para pedestres e ciclistas sobre o porto.

Pistas do Cycle Snake. Cortesia de DISSING+WEITLING Architecture

Ao passo que as cidades continuam aumentar suas densidades, continuaremos a lida com desafios práticos e logísticos, escreve Sam Jacobs. "Como pode uma variedade de usuários das vias - pedestres, bicicletas, carros, caminhões - coexistirem de modo seguro e civilizado? Mas isso é também uma questão filosófica e política: para quem é a cidade?

Turistas? Ciclistas urbanos? Trabalhadores vindo dos subúrbios? Todos? Não é uma resposta fácil, mas esses projetos certamente levantam muitas questões.

Yoshi Silverstein é Mestre em Arquitetura Paisagística pela Universidade de Maryland. Seu foco é a experiência da paisagem e ambientes externos de aprendizagem.

Sobre este autor
Cita: Yoshi Silverstein. "Como projetar ciclovias elevadas que realmente funcionem?" [How to Design Elevated Cycling Structures that Actually Work] 17 Set 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/627353/como-projetar-ciclovias-elevadas-que-realmente-funcionem> ISSN 0719-8906

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