Criando ícones: um caminho para a construção de edifícios monumentais no sul global

Edifícios que são projetados para contar histórias e memórias, evocar um senso de aspiração, definir narrativas culturais e construir uma identidade nacional sempre serão importantes em todas as sociedades. Quando os edifícios têm esse poder de moldar comunidades, impactar a imagem de uma cidade e mudar o curso do crescimento socioeconômico, então podem ser identificados como icônicos. Embora o termo "icônico" seja subjetivo, é uma palavra que expande os limites da arquitetura em qualquer contexto. Ele exige originalidade espacial, propõe uma tecnologia de materiais inovadora e necessita de um investimento socioeconômico considerável para ser realizado.

No entanto, uma vez que as economias dos países em desenvolvimento do sul global nem sempre podem atender aos requisitos dessas estruturas arquitetônicas, seria possível existir um modelo socioeconômico mais adequado para estruturas monumentais nesse contexto? Os princípios graduais de mudanças e crescimentos pequenos e adaptáveis podem ser aplicados à aspiração finita e icônica dessa arquitetura?

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Mesquita de Hikma, Níger. Imagem © James Wang

Existem alguns casos de projetos arquitetônicos monumentais que foram concebidos em um momento econômico inadequado. Em 2005, o governo nigeriano concebeu a Torre do Milênio e Centro Cultural, um complexo icônico em sua capital que pretendia ser o prédio mais alto da Nigéria. A torre, projetada pelo arquiteto italiano Manfredi Nicoletti, foi planejada para ter 170m de altura, juntamente com um prédio de uso misto adicional. O projeto tinha um orçamento inicial de cerca de US$ 500 milhões e um prazo de construção de 7 anos. No entanto, atualmente, está apenas 40% construído. O ambicioso projeto arquitetônico não era adequado para uma economia em crescimento com altas taxas de inflação, o que acabou levando ao seu abandono em 2017.


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Torre Millenium em construção. Imagem © Tever/Adobe Stock

Uma situação semelhante também está ocorrendo em Gana, onde o governo concebeu uma catedral nacional - um espaço religioso monumental - projetado por Adjaye Associates. O local de adoração icônico, com capacidade para 5000 pessoas, foi projetado para traduzir símbolos de veneração e torná-los acessíveis ao povo. O custo estimado do projeto era de US$ 400 milhões. No entanto, sua construção, que começou em 2020, foi adiada devido ao aumento dos custos e à recessão econômica pós-COVID, resultando em uma grande cratera no local. O financiamento do projeto tem gerado controvérsias entre a população ganense, somando-se ao número crescente de histórias de nações em desenvolvimento que nos levam a reconsiderar o modelo de projeto para edifícios monumentais.

É aconselhável que os projetos arquitetônicos reduzam as expectativas de construção para se adequar à realidade econômica desses contextos. Estruturar um desenho para a incerteza, ao mesmo tempo em que se projeta suas aspirações icônicas finitas, ou seja, traduzir o design gradual, uma estratégia principalmente usada no desenvolvimento de habitações sociais, para a estrutura de construção de edifícios icônicos. O design gradual, também conhecido como design evolutivo, envolve o aperfeiçoamento contínuo de um projeto arquitetônico ao longo do processo de desenvolvimento, em vez de tomar decisões importantes de antemão.

Nesse caso, o conceito gira em torno de assumir um monumento, estruturar suas partes em pequenas metas realistas e desacelerar sua construção ao longo dos anos, mantendo ao mesmo tempo a funcionalidade de cada etapa construída. Cada parte da estrutura construída mantém uma integridade espacial e arquitetônica original que pode envolver a comunidade com sua natureza presente, permitindo que eles apreciem suas aspirações e questionem planos econômicos para alcançá-las de forma prática.

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Projeto Incremental. Imagem © Johanna Hoffman and Karl Kullmann

Essa abordagem gradual para edifícios monumentais vai além das considerações econômicas. Também é um reflexo do tempo, mudança e caráter na arquitetura. Através dela, os edifícios têm uma vida própria, moldada não apenas pelos arquitetos originais, mas também pelas gerações subsequentes. A eficiência da construção industrial moderna elimina esse aspecto, pois prioriza a velocidade em relação ao desenvolvimento lento e contínuo visto nas práticas tradicionais de construção.

Um exemplo de um monumento de construção gradual é a Basílica de São Pedro, em Roma. Sua narrativa demonstra como a edificação evoluiu ao longo do tempo, ganhando camadas de história e caráter. A igreja passou por várias transformações, mudando de uma organização longitudinal para uma centralizada e eventualmente chegando à sua forma híbrida atual. Cada interação adicionou novos elementos e significados que contribuem para sua identidade icônica atual.

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Evolução da Basílica de São Pedro, Roma. Imagem © Classic Image/ Alamy

Por exemplo, Bramante sugeriu que o edifício fosse uma igreja evangélica, enfatizando a intimidade e a experiência de ouvir a Palavra. Raphael e Sangallo adicionaram a nave, simbolizando a essência da procissão. Michelangelo e Maderno, sucessivamente, revisaram ainda mais o projeto, criando um desenho híbrido que incorporava todos os elementos. Através dessas camadas históricas, a igreja adquiriu vida própria, convidando arquitetos, artistas, artesãos e comunidades de todas as gerações a se envolverem e deixar sua marca.

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Basílica de São Pedro, Roma. Imagem © Mistervlad/ ShutterStock

Projetar edifícios monumentais preparados para um desenvolvimento gradual também permite que a estrutura gere dinheiro e financie sua construção. Quando cada parte da estrutura é icônica e espacialmente única, ela atrai moradores e turistas, resultando em geração de renda, como a Sagrada Família em Barcelona, na qual a maior parte de sua construção de 140 anos foi financiada pela renda de seus estimados 4 milhões de visitantes turísticos anuais, um plano gradual de iconização progressiva que mantém a estrutura financeiramente viável durante seu período de construção.

Por fim, o conceito do que é icônico permanece altamente subjetivo e dependente do contexto e da sociedade que representa. Ao desenvolver gradualmente um monumento, a sociedade tem a oportunidade de questionar continuamente o que deve comemorar: a história e as narrativas que deseja transmitir, os espaços que facilitam isso, as formas arquitetônicas que o materializam e os métodos artesanais locais que podem interpretá-lo autenticamente.

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Tumba de Kasubi, Uganda. Imagem © Sebastien Moriset

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Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Criando ícones: um caminho para a construção de edifícios monumentais no sul global" [Incremental Iconation: A Path for Developing Monumental Buildings in the Global South] 09 Dez 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Ghisleni, Camilla) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1009864/criando-icones-um-caminho-para-a-construcao-de-edificios-monumentais-no-sul-global> ISSN 0719-8906

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