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Common Edge: O mais recente de arquitetura e notícia

A obra de arquitetura na era de sua reprodutibilidade técnica

Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.

Fiz pós-graduação em geografia em Tucson, Arizona, Estados Unidos, no final dos anos 1990. Tucson obtém fama por uma série de coisas, incluindo sua herança mexicano-americana, suas chimichangas, suas montanhas que formam as "ilhas do céu" e sua abundante população de cactos saguaro.

A arquitetura britânica se diz progressista, mas atua pela exclusão

Este artigo foi publicado originalmente em Common Edge como “Presenting Architecture as Progressive, but Practicing Through Exclusion.”

Para uma profissão que gosta de se vangloriar por suas boas intenções e que se acha super liberal, diversa, aberta e progressista, no contexto do Reino Unido e além, por outro lado, podermos dizer que a arquitetura é completamente o oposto disso tudo. A profissão da arquitetura foi, ao longo de toda sua história, e permanece sendo nos dias de hoje, um território dominado por uma pequena comunidade de origem abastada. Atualmente, ainda que o Reino Unido tenha sido responsável pela formação de uma horda de arquitetas brilhantes ao longo das últimas décadas, a indústria da arquitetura e da construção civil ainda não foi capaz de estabelecer um piso salarial congênere e independente de gênero. Como consequências disso, a profissão da arquitetura tem assistido historicamente uma imensa perda de arquitetas mulheres após os 30 anos de idade, principalmente por ser incapaz de consentir um equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar. Etnicamente falando, a arquitetura é uma profissão majoritariamente branca, isso considerando que estamos entrando no ano de 2021. Uma suposta luz no fim do túnel é a suposta aceitação da comunidade LGBTQ dentro de uma disciplina que se auto denomina inclusiva, mas assim como muitas arquitetas mulheres denunciam com frequência, minorias religiosas e étnicas bem como toda a comunidade não heteronormativa costumam conviver diariamente com comentários não profissionais e inadequados.

Por que continuamos a construir salas de espera?

Este artigo foi publicado originalmente em Common Edge.

Salas de espera não estão no topo da lista de espaços favoritos das pessoas, tampouco desfrutam de melhor fama entre os arquitetos e arquitetas. Segundo estatísticas publicadas pela Software Advice, um grupo de consultoria com sede em Austin, Texas, 80% dos entrevistados disseram que ser informado sobre o tempo de espera minimizaria sua frustração; 40% disseram que estariam dispostos a trocar de médico se isso acarretaria em um tempo de espera menor; 20% estariam dispostos a pagar uma taxa extra por um serviço mais rápido; e 97% dos entrevistados—ou seja, virtualmente todos eles—ficam frustrados com longos períodos de espera. Neste contexto, além de figurarem na lista dos espaços menos queridos pelos usuários, as salas de espera se transformaram em um dos principais veículos para a propagação de vírus e disseminação de doenças contagiosas.

Castelos d'água: infraestruturas icônicas, oportunidades desperdiçadas

Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.

Sou relativamente novo na região Centro-Oeste dos EUA e, de todos os elementos que chamaram minha atenção, destacam-se os castelos d'água ou reservatórios elevados. Em meu estado natal, Minnesota, eles estão por toda parte. Essas maravilhas da engenharia têm mais de 45 m de altura e assumem todos os tipos de formas e proezas metalúrgicas, desde um tanque de armazenamento elevado (pedesphere) até estruturas com colunas caneladas para os tanques esferoidais e elipsoidais. Como diz a lenda, estes objetos foram alvos de tiros frenéticos durante a transmissão de Orson Welles em "Guerra dos Mundos". Posso afirmar que, ao chegar o crepúsculo do dia, essas torres com diversos apoios – ou, melhor, silhuetas – podem parecer de outro mundo.

O que podemos (e não podemos) aprender com Copenhague

Este artigo foi publicado originalmente em Common Edge

Quando tive a oportunidade de visitar a cidade de Copenhague por primeira vez, alguns anos atrás, saí de lá deslumbrado e com um caso crônico de inveja urbana. (Eu pensei comigo mesmo: é como a melhor das cidades que eu sou capaz de imaginar, só que melhor). Por que não fazemos cidades como esta nos Estados Unidos? Esse é o tipo de pergunta que um arquiteto e urbanista norteamericano se faz enquanto passeia pelas encantadoras ruas às margens dos belos canais de Copenhague—ao mesmo tempo que tenta evitar de ser atropelados pela horda de ciclistas dinamarqueses que passa a toda velocidade ao seu lado o tempo todo.

A banalidade do bege: por que limitar o uso das cores na arquitetura?

Este artigo foi publicado originalmente em Common Edge

Estou cansado de revistas de decoração e marcas de tintas tentando me vender suas monótonas paletas de cores “neutras”. Muitos afirmam que o “Bege Está de Volta,” que desde sempre os tons neutros têm sido considerados elegantes e capazes até de nos trazer paz e tranquilidade. Eu, pessoalmente, não acredito em nada disso. As paletas de cores minimalistas que encontro com frequência em muitos dos edifícios de arquitetura contemporânea não me relaxam, elas me aborrecem tanto que eu até fico com raiva. A idealização da alvura do mármore das ruínas greco-romanos é um mito. Hoje em dia todos nós sabemos que estas estruturas nunca foram brancas tal e qual nos foi ensinado na escola. Nossos antepassados nunca foram capazes de criar estruturas e espaços incolores. A sua arquitetura, por excelência, era nitidamente policromática.

A pandemia levantou uma questão: por que projetamos edifícios?

Este artigo foi publicado originalmente na Common Edge.

Não é nenhuma novidade que a recente pandemia provocou mudanças em quase todos os aspectos de nossas vidas. E quais foram as consequências disso para a arquitetura e a indústria da construção? Estive em meu escritório em 135 dos 140 dias que se passaram desde que o governador do Estado de Connecticut, Ned Lamont, declarou que a indústria da construção era essencial (e todos os ofícios relacionados), e como tal, não deveria parar neste momento de crise. Ao longo de praticamente dois meses eu trabalhei sozinho, os funcionários foram voltando aos poucos, ainda que a grande maioria deles continue trabalhando remotamente desde casa. Seja como for, o escritório nunca chegou a parar.

O que a neurociência diz sobre a arquitetura moderna

Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge como "The Mental Disorders that Gave Us Modern Architecture".

Como surgiu a arquitetura moderna? Como evoluímos tão rapidamente de uma arquitetura que tinha ornamentos e detalhes para edifícios que muitas vezes eram vazios e desprovidos de detalhes? Por que a aparência dos edifícios mudou tão drasticamente no início do século XX? A história afirma que o modernismo foi o impulso idealista que emergiu dos destroços físicos, morais e espirituais da Primeira Guerra Mundial. Embora também houvesse outros fatores em ação, essa explicação, embora sem dúvida verdadeira, mostra um quadro incompleto.

Mudança climática e planejamento: um problema cultural

Não há nada como uma crise para aproximar as pessoas. Depois da desastrosa passagem do furacão Katrina pelo sul dos Estados Unidos em agosto de 2005, os moradores de Nova Orleans—uma das cidades mais afetadas pelo desastre natural daquele ano—se uniram para colaborar no processo de tomada de decisões, participando ativamente no desenvolvimento do novo projeto de planejamento urbano unificado da cidade, o qual foi coordenado pela nossa empresa Concordia e contou com a participação de outras 12 equipes multidisciplinares. 

Atualmente, a Concordia está engajada em outro importante projeto de desenvolvimento urbano concebido para enfrentar as consequências causadas pelo aquecimento global no sul de Louisiana. Chamado de LA Safe, o projeto está sendo desenvolvido como uma resposta aos impactos devastadores deixados pelo recente e contínuo aumento dos níveis das marés.

Carta aberta da Nigéria para o mundo: coronavírus e o futuro das cidades

Este artigo foi publicado originalmente em Common Edge.

Desde o irrompimento do surto de COVID-19 há alguns meses, eu, como muitos de vocês, passei os últimos meses trancafiado em casa, ansioso e preocupado com as consequências e desdobramentos disso tudo. Entretanto, ao invés de perturbá-los com mais previsões hipotéticas para um futuro ainda incerto, prefiro compartilhar algumas observações sobre a atual condição das cidades africanas nesta calamitosa situação que estamos vivendo. Como africano, procurarei apresentar uma perspectiva única, desprendida de limitações e fronteiras, por que, afinal de contas, esta é uma crise sanitária mundial que como tal, desconhece tais demarcações.

Status, estátuas e estatutos: erguendo monumentos a homens falhos

Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.

Monumentos, segundo Alois Riegl, são subsídios à memória. “In memoriam” são palavras que podemos encontrar em cada pedestal ou alicerce de um túmulo ou mausoléu em homenagem aos nossos heróis do passado. Embora seu caráter simbólico seja um refúgio de ideologias, preconceitos e — em muitos casos— intolerância, monumentos têm sido construídos pela humanidade à milênios e também podem ser considerados uma forma de arte e lugares de memória. Entretanto, não são raros os casos de monumentos associados à práticas ou eventos antiéticos, à descriminação, hostilidade e violência. Muitos dos templos da Grécia Antiga foram erguidos sobre altares utilizados para sacrificar animais — e, antes disso, seres humanos também —; as pirâmides foram levantadas pela força do trabalho escravo; praças públicas muitas vezes eram utilizadas como lugares de tortura e sentenças de morte. Isso significa que, na maioria dos casos, monumentos não são apenas simples estruturas inocentes construídas em memória de grandes personagens, mas a personificação de conflitos políticos, culturais, sociais e humanos.

12 Conselhos para reinventar o ensino da arquitetura

Este artigo foi publicado originalmente no Common Edge.

Este artigo é um trecho extraído do capítulo final do livro Draw in Order to See: A Cognitive History of Architectural Design, no qual Mark Alan Hewitt esboça algumas recomendações para uma reforma integral da prática e do ensino da arquitetura. Ele parte da teoria da cognição corporificada — a ciência que estuda a importância dos nossos sentidos no processo de cognição humana, e como através deles, percebemos e nos relacionamos com o espaço — para ressaltar a urgente necessidade de renunciarmos ao legado alienante do racionalismo iluminista que se estende desde a revolução industrial até os dias de hoje e que, tanto nos afasta de uma arquitetura menos visual e consequentemente, mais sensível. Embora a importância da cognição estendida para a nossa compreensão do espaço e portanto, para o desenvolvimento da prática e do ensino da arquitetura já esteja sendo explorada há décadas por muitos arquitetos e algumas poucas instituições de ensino ao redor do mundo, tais conceitos permanecem ocultos em um território inexplorado pela grande maioria de nossos colegas arquitetos.

A mudança climática e o surgimento das casas sem fundações

Como a maioria de vocês, passei os últimos dois meses em quarentena. Estou um pouco envergonhado de dizer isso, mas assim como a nobreza fugiu das cidades durante as pragas da Idade Média, tivemos a sorte de escapar da densidade de Boston e passar nossos dias na costa em Marshfield, uma pequena cidade ao sul, onde temos uma casa de veraneio. Devo me lembrar constantemente de que poderia ser muito pior.

Seria o aprendizado online o futuro do ensino de arquitetura?

Este artigo foi originalmente publicado pela Common Edge como "Is Online Learning Really the Future of Architectural Education?"

O ensino superior está à beira de uma grande transição. É extremamente provável que a educação em arquitetura seja conduzida principalmente online num futuro relativamente próximo. Isso significa que as aulas de projeto, uma marco na vida do arquiteto, também acontecerão online, provavelmente sem o contato pessoal que define essa experiência. Essa mudança eliminará muitos aspectos autodestrutivos da cultura atual de ateliê, mas também há possíveis armadilhas que precisam ser abordadas, antes que uma versão online dessa cultura adquira seus próprios maus hábitos. Podemos fazer isso proativamente, desenvolvendo novos métodos de ensino e trabalho que alavanquem as capacidades da educação digital para promover a dinâmica social construtiva entre estudantes.

Se o plano A é mitigar as mudanças climáticas, qual é o plano B?

Cem anos de inundações. Calor antártico recorde. Incêndios florestais e seca. As histórias se repetem com regularidade entorpecente. E, embora as particularidades sejam diferentes, todas apontam para a mesma conclusão sombria, somos incapazes de lidar com as mudanças climáticas. Com as emissões de carbono aumentando, o que antes era descartado como pior cenário, agora parece o melhor que podemos esperar.

Se o Plano A deveria impedir, ou pelo menos mitigar, os impactos mais graves das mudanças climáticas, qual é o Plano B?

Por que o incêndio da Notre Dame provocou pouca comoção na África

No final de 2019, as mídias iniciaram seu ritual anual de fazer um balanço, compilar listas e olhar para trás. No mundo da arquitetura, a maior notícia do ano foi, sem dúvida, o incêndio da Notre-Dame. A imagem do telhado em chamas da catedral - uma visão devastadora - encheu as telas de TV e computadores ao redor do mundo e ocasionou uma onda de tristeza, especialmente na França, onde a edificação ocupa um lugar central na consciência coletiva do país.

Foi uma tragédia arquitetônica e cultural. Sem dúvida: o inferno de abril atingiu o coração da França.

Avaliando resiliência e risco: não podemos salvar todos

Este artigo foi publicado originalmente no Commom Edge.

Discussões sobre resiliência, hoje, sugerem que arquitetos e urbanistas podem ser capazes de - e, de fato, espera-se isso deles - salvar todos os edifícios e espaços públicos em risco. No entanto, a triste verdade é que não podemos, e provavelmente não devemos. As mudanças climáticas e o aumento do nível do mar irão redesenhar radicalmente as margens urbanas, forçando-nos a tomar decisões difíceis. Mesmo se tivéssemos todo o dinheiro necessário para proteger o precário cenário atual, isso ainda não seria suficiente para evitar o inevitável.

Então: quais são as nossas prioridades? Como definir o que salvar? Como traçar de forma responsável esse futuro incerto? Acredito que as respostas para essas e outras perguntas semelhantes devam começar com uma avaliação honesta de três considerações essenciais: