A Mesquita no passado, no presente e sua função além do espaço religioso

A mesquita, lugar sagrado da cultura islâmica, possui características estruturais e identidade distintas. É uma arquitetura serena e espiritual que aproxima os indivíduos de sua fé e do divino. A casa original do Profeta Muhammad em Medina (na atual Arábia Saudita) é considerada o primeiro local de oração, e serviu como modelo para a arquitetura das primeiras mesquitas: uma estrutura de tijolos de barro com áreas de convivência em um lado de um pátio retangular fechado. A alocação de espaços abertos no centro das cidades onde muçulmanos poderiam se reunir e orar tornou-se mais frequente, resultando em vários espaços de culto com uma característica espacial universal: sua orientação para Meca.

O processo de design da mesquita começou com uma única forma geométrica fechada, reforçando a ideia de espiritualidade e isolamento. Logo após, esse simples protótipo espacial evoluiu para a primeira mesquita hypostyle formal, conhecida por sua vasta sala de oração e série de arcadas. São variações desse modelo a primeira mesquita em Medina, conhecida como Mesquita Quba (622 DC), a Mesquita Kairouan em Túnis (670 DC), e a Mesquita Umayyad em Damasco (715 DC), algumas das quais incorporavam detalhes das colunas da arquitetura grega e romana. No entanto, o papel das mesquitas evoluiu ao longo dos anos de apenas um lugar de culto para uma arquitetura que ajuda a restabelecer os valores do Islã e oferece contribuições à sociedade.

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O Islam abrange três elementos: crença (iman), desempenho da obrigação religiosa (‘ibada) e altruísmo/boa conduta (ihsan), todos complementando-se organicamente. No cerne da lei da religião estão seus cinco pilares: a Declaração de Fé (Al Shahada), a Oração (Salah), a Doação e Filantropia (Zakat), o Jejum do Ramadã (Sawm Ramadan) e a Peregrinação (Hajj). Dado que a oração é um pilar central e uma obrigação religiosa, o espaço em que os crentes oram desempenha um papel enorme na conexão espiritual e física entre o adorador, a religião e Deus.

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al-Nouri Mosque / Nur ad-Din Zangi. Imagem © General Authority of Antiquities

Em princípio, a oração, que é realizada 5 vezes ao dia, é conduzida em três níveis: individualmente, congregação/comunidade e a população muçulmana inteira, sendo cada um com um tipo designado de mesquita. O masjid é usado para a oração diária e geralmente é o menor em escala, o jami’ tem uma capacidade maior e é usado para orações congregacionais e de sexta-feira e Meca, lar da Mesquita al-Haram (Mesquita Sagrada) que recebe milhões de adoradores para a peregrinação e é o ponto focal para o qual todas as mesquitas são orientadas.

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HIKMA - Um Complexo Religioso e Laico / atelier masōmī + studio chahar. Imagem © James Wang

Arquitetonicamente, o estilo, layout e ornamentação de uma mesquita são definidos pelo ano, escala, localização geográfica e tradições regionais nos quais ela é construída. No entanto, como sua função é universal, certas características arquitetônicas são encontradas em todas as mesquitas, que são a sala de oração, mehrab (uma área na parede que indica a direção de Meca (qibla), minarete, minbar (um púlpito onde o imã (líder das orações) fica para entregar sermões) e área de ablução.

Dado que as mesquitas congregacionais devem ser capazes de acomodar toda a população de uma cidade ou vila, sua estrutura deve ter uma grande sala de oração complementada por um pátio aberto com uma fonte e um sistema natural de resfriamento. Essas mesquitas muitas vezes apresentam varandas abertas cobertas que circundam o pátio central, conhecidas como Iwans, que oferecem zonas sombreadas para os fiéis. A cúpula, embora não seja especificamente islâmica, é uma característica arquitetônica proeminente, juntamente com o minarete que, além de sua função inicial, possui um valor significativo como marcadores urbanos.

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Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash / Dabbagh Architects. Imagem © Gerry O'Leary

Junto com as características espaciais, a arquitetura da mesquita, assim como na maioria das estruturas religiosas, evoca emoções. Através da narrativa do design, os arquitetos criaram uma série de espaços de transição que aprimoram o ato de adoração, levando o adorador em uma jornada de transição por todo o prédio. O frenesi do exterior é gradualmente abandonado e substituído por um senso de intimidade sagrada e unicidade com Deus. A luz natural também é usada como uma ferramenta para aprimorar essa sensação de espiritualidade, reforçando a conexão entre a Terra e o divino, juntamente com a escala, que também desempenha um papel na criação desse sentido de santidade e grandiosidade. As paredes internas e fachadas são adornadas com caligrafia, que muitas vezes são excertos do Alcorão, louvores aos governantes ou aforismos que conectam ainda mais o fiel à fé.

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Mesquita Aman / Nakshabid Architects. Imagem © Maruf Raihan

Como são as mesquitas hoje?

Devido a fatores geográficos, ambientais e sociais, o papel das mesquitas hoje foi repensado, à medida que as pessoas adaptaram novas ideologias, técnicas e rituais e os mesclaram aos existentes. Fazendo referência a tipologias tradicionais, as mesquitas de hoje reformulam seus espaços interiores para encorajar funções comunitárias juntamente com seu propósito como espaço de culto. Em uma escala contextual, elementos arquitetônicos tradicionais também foram experimentados para complementar seu tecido urbano e suas características geográficas circundantes, como o uso de materiais de construção e técnicas de construção inovadores e/ou vernaculares.

Em países que abrigam diversas culturas e religiões, as mesquitas servem como ferramenta de comunicação urbana - uma "semente para a evolução urbana". Os arquitetos estão levando em consideração como crianças, revertidos e não muçulmanos interagem com o espaço, visto que as mesquitas são complementadas com outras funções além de ser um local de culto.

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At-Taufik Mosque / JOSO. Imagem © Mario Wibowo

Embora algumas dessas mesquitas tenham sido reconhecidas por seus geniais designs arquitetônicos, contextualidade e seleção de materiais, há um debate contínuo sobre se essas estruturas são uma "verdadeira representação" das típicas casas de culto islâmicas, levantando questões como quanto é "contemporâneo demais" para um design de mesquita? Por que as mesquitas hoje estão sendo construídas sem o minarete e a cúpula, que são talvez sua característica mais reconhecível em escala urbana? O que é um elemento islâmico e o que é um elemento cultural que transcendeu gerações e foi adotado como símbolo religioso?

Em março deste ano, o Prêmio Abdullatif Al Fozan de Arquitetura de Mesquitas realizou uma conferência de dois dias em Riad, Arábia Saudita, para afirmar a existência franca do conflito ideológico, arquitetônico e urbano enfrentado pelas mesquitas contemporâneas ao redor do mundo. Esse conflito é traçado a partir da relação entre mesquitas e seus contextos urbanos, incluindo sua distribuição visual e espacial, bem como responsabilidades ambientais, sociais, políticas e demográficas imperativas. Durante a conferência, arquitetos, professores e acadêmicos islâmicos compartilharam suas opiniões sobre a arquitetura da mesquita nos dias de hoje. Do ponto de vista estético, muitos argumentaram que a "humildade" não é mais evidente nas mesquitas contemporâneas, um atributo que contradiz sua santidade distinta, em oposição a mesquitas que são nada mais do que uma forma cúbica simples no meio da floresta sem qualquer indicador de que é um lugar de culto. As salas de oração para mulheres foram um tópico de discussão, visto que as mães levam seus filhos à mesquita e não tem a mesma experiência espacial e de escala que a contraparte masculina.

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Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash / Dabbagh Architects. Imagem © Gerry O'Leary

Confira uma seleção de mesquitas premiadas e de última geração de nosso banco de projetos.

Mosque of Reflection / waiwai

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Mosque of Reflection / waiwai. Imagem © Darren Bradley

Mesquita Aman / Nakshabid Architects

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Mesquita Aman / Nakshabid Architects. Imagem © Maruf Raihan

Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash / Dabbagh Architects

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Mesquita Mohamed Abdulkhaliq Gargash / Dabbagh Architects. Imagem © Gerry O'Leary

At-Taufik Mosque / JOSO

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At-Taufik Mosque / JOSO. Imagem © Mario Wibowo

Islamic Religious and Cultural Center in Ljubljana / Bevk Perović arhitekti

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Islamic Religious and Cultural Center in Ljubljana / Bevk Perović arhitekti. Imagem © David Schreyer

Abijo Mosque / Patrickwaheed Design Consultancy

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Abijo Mosque / Patrickwaheed Design Consultancy. Imagem © Mujib Ojeifo
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Abijo Mosque / Patrickwaheed Design Consultancy. Imagem © Mujib Ojeifo

Mesquita Sancaklar / Emre Arolat Architects

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Mesquita Sancaklar / Emre Arolat Architects. Imagem © Thomas Mayer
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Mesquita Sancaklar / Emre Arolat Architects. Imagem © Thomas Mayer

HIKMA - Um Complexo Religioso e Laico / atelier masōmī + studio chahar

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HIKMA - Um Complexo Religioso e Laico / atelier masōmī + studio chahar. Imagem © James Wang

Honeycomb Mosque / Andyrahman Architect

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Honeycomb Mosque / Andyrahman Architect. Imagem © Mansyur Hasan

Australian Islamic Center / Elevli Plus, Glenn Murcutt - Australia

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Australian Islamic Centre / Glenn Murcutt + Elevli Plus. Imagem © Anthony Browell

Amir Shakib Arslan Mosque / L.E.FT Architects

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Amir Shakib Arslan Mosque / L.E.FT Architects. Imagem © Iwan Baan

Light of Allah Mosque / Ibrahim Ma

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Light of Allah Mosque / Ibrahim Ma. Imagem cortesia de Ibrahim Ma

Mohammad Rasul-Allah Mosque / Paya Payrang Architectural Group

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Mohammad Rasul-Allah Mosque / Paya Payrang Architectural Group. Imagem © Ahmad Mirzaee

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Sobre este autor
Cita: Stouhi, Dima. "A Mesquita no passado, no presente e sua função além do espaço religioso" [The Mosque Between the Past, Present, and its Function Beyond a Religious Space] 06 Mai 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/999513/a-mesquita-no-passado-no-presente-e-sua-funcao-alem-do-espaco-religioso> ISSN 0719-8906

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