É possível criar espaços públicos no metaverso?

O metaverso promete revolucionar a maneira como vivemos. Ao integrar tecnologias imersivas como realidade virtual e aumentada (VR e AR), a expectativa do metaverso é adicionar outra camada à maneira como vivemos cotidianamente. Sugere-se que o metaverso crie espaços virtuais onde as pessoas possam se encontrar e compartilhar experiências independentemente das restrições geográficas. As possibilidades parecem infinitas: trocar conhecimentos, incentivar a colaboração profissional, desenvolver e democratizar a arte, a educação, a cultura e até mesmo possibilitar o engajamento político. As interações sociais estão no cerne da ideia de metaverso. Isso levanta a questão: como os novos espaços virtuais podem adquirir as propriedades dos espaços públicos?

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Atualmente, existem dois tipos de ambientes que permitem que as pessoas se reúnam e compartilhem experiências: físicos e virtuais, representados principalmente pelas mídias sociais. Os espaços públicos físicos são os mais atrativos entre os espaços que as cidades oferecem. Eles permitem uma interação social não estruturada e seu caráter é definido pelas pessoas que os utilizam. No entanto, quando a pandemia forçou todos ao isolamento, as limitações dos espaços físicos ficaram em evidência, e a mudança para espaços sociais virtuais se mostrou vantajosa de várias maneiras.

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Destilaria de tequila para o metaverso. Imagem Cortesia de Rojkind Arquitectos

As plataformas virtuais são lugares de encontro onde qualquer um pode escolher sua experiência e, de certa forma, controlar sua exposição. Como as conexões não dependem da localização física, a rede global oferece muitas possibilidades de escolha, com interesses e princípios comuns sendo os agregadores que formam as comunidades. O meio também vem com limitações significativas: a estrutura das plataformas dita os tipos de interações possíveis, e o meio é quase exclusivamente bidimensional, assumindo a forma de texto, imagem ou vídeo.

O metaverso promete superar ambas as limitações e trazer o melhor dos dois mundos, criando uma experiência tridimensional imersiva e permitindo que os usuários interajam de maneira mais orgânica e não estruturada. O termo metaverso foge de uma definição exata, mas geralmente se refere a um mundo virtual construído em blockchain, uma forma inovadora de armazenar informações que permite que os usuários interajam entre si de forma segura e privada, sem depender de intermediários. Este sistema descentralizado também está ligado ao conceito de web 3.0, uma ideia de uma nova iteração da Internet que incorpora descentralização, tecnologias blockchain e economia baseada em tokens.

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A Miragem de Alexis Christodoulou. Image © Alexis Christodolou

O metaverso não é um produto único, como aplicativos como Facebook ou Instagram, nem um sistema operacional, como o Windows da Microsoft. É provável que seu desenvolvimento seja parecido com o da internet existente, crescendo gradativamente como uma constelação de tecnologias, plataformas e produtos, impulsionados por uma mistura de iniciativas públicas e privadas. Atualmente, existem algumas plataformas que operam alinhadas com o conceito de metaverso, mas, diferente da internet existente, não existem padrões universais para garantir a interoperabilidade. Cada uma dessas plataformas é livre para criar seu ambiente nativo e definir suas próprias regras.

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Uma vista aérea do Metajuku, da desenvolvedora Republic Realm, um shopping virtual na plataforma Decentraland com base no vibrante distrito de Harajuku, em Tóquio. Imagem cortesia de REPUBLIC REALM

Um grande ponto de partida das mídias sociais é a mudança para ambientes imersivos em 3D, possibilitados pela integração das tecnologias VR e AR. Isso significa que a experiência do mundo virtual está começando a se assemelhar cada vez mais à experiência física. Os jogos multijogador massivos online são os primeiros a experimentar esses conceitos, mas as plataformas metaverso mais recentes estão contando mais com os aspectos sociais, criando ambientes que imitam os ambientes urbanos. Um exemplo é a Genesis City da Decentraland. A cidade virtual é composta por mais de 90.000 parcelas, NFTs na forma de quadrados de 16 por 16 metros. Enquanto a maioria deles é de propriedade privada, comprada por usuários particulares, alguns lotes são mantidos como praças e estradas. Os distritos são outro tipo de terra, propriedade privada, mas reservada para comunidades temáticas, não à venda.

Plataformas como essa podem ser entendidas como experimentos sociais e até mesmo críticas aos ambientes urbanos. Há especulação na distribuição de terrenos e pela possibilidade de construir livremente neles, criando um mercado para transações imobiliárias virtuais. Os modelos de negócios podem incluir a venda de NFTs, como ingressos para eventos, comércio eletrônico ou receita de publicidade. Atualmente, forças de mercado como escassez e especulação estão impulsionando o valor da terra virtual, enquanto o aspecto de utilidade está sub-representado, em parte devido ao público limitado. Como a precificação não segue os padrões do mundo físico, mas depende em grande parte da visão do comprador, o mercado é considerado volátil.

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Cortesia de Townscraper, desenvolvido por Oskar Stålberg

Dentro da lógica das cidades virtuais, onde o teletransporte é mais do que conveniente, as estradas e praças são irrelevantes em termos de transporte, mas assumem um papel diferente. Proporcionam visibilidade aos imóveis próximos, tornando-se, de fato, ferramentas de navegação espacial que expõem conteúdos, elevando assim o valor do terreno. Isso demonstra como premissas semelhantes podem produzir resultados diferentes nos mundos físico e virtual.

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Screenshot do mapa Sandbox. Imagem Cortesia de Chloe Sun

Questões de identidade e espaço pessoal também funcionam de forma diferente. Os espaços públicos no mundo físico são até certo ponto auto-regulados, com os cidadãos aplicando uma pressão social sutil para garantir comportamentos adequados. Tem sido difícil traduzir isso para o mundo digital, e o problema visível nas mídias sociais provavelmente será intensificado nas plataformas do metaverso devido à sensação de imersão. Empresas como a Meta já estão anunciando medidas corretivas, como impor um limite pessoal de 1,2 metro para proteger os usuários de interações indesejadas.

As plataformas de metaverso existentes oferecem apenas um vislumbre do que o metaverso pode significar. Este é um campo em rápida evolução com grandes promessas, e muitos dos benefícios previstos só serão desbloqueados por avanços que ainda estão por vir. Embora o metaverso possa expandir o acesso a certos aspectos da vida social, ele deve ser visto como uma entidade separada, que não substitui a necessidade básica de interação e conexão face a face. Existem riscos e desafios no desenvolvimento desta nova tipologia de espaços virtuais, mas também um enorme potencial de progresso social e econômico, dado que são desenvolvidos coletivamente, com transparência e responsabilidade social.

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Sobre este autor
Cita: Florian, Maria-Cristina. "É possível criar espaços públicos no metaverso?" [Can Public Space be Created in the Metaverse?] 16 Set 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/987706/e-possivel-criar-espacos-publicos-no-metaverso> ISSN 0719-8906

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