"As visualizações sempre começam com uma história": entrevista com a artista visual Ceren Arslan

Além de renderizações hiper-realistas e representações precisas de como são os projetos após serem concluídos, as visualizações se tornaram ferramentas para comunicar atmosferas e emoções retratadas pelos arquitetos. O uso de diferentes mídias, combinando composições arquitetônicas, arte, iluminação e muitas vezes música, gerou um novo gênero de narrativa arquitetônica que mistura realidade com imaginação. À medida que o mundo mergulha em NFTs e experimenta tecnologias de ponta para criar ambientes digitais, as visualizações podem em breve se tornar "a nova realidade".

O ArchDaily teve a oportunidade de conversar com a artista visual Ceren Arslan sobre expandir a prática de arquitetura, seu processo criativo, seu último projeto EXIT e o que o futuro guarda para visualizações arquitetônicas.

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© Ceren Arslan

ArchDaily (Dima Stouhi): Conte-nos um pouco sobre você, o que você estudou e como chegou onde está agora?

Ceren Arslan: Eu sou uma arquiteta e artista digital atualmente baseada em Los Angeles. Trabalho com edifícios, interiores e no espaço digital. Tenho 4 anos de experiência profissional trabalhando em projetos comerciais e hoteleiros, também residenciais de luxo recentemente. Junto com a prática profissional, estou trabalhando no meu projeto de arte, EXIT. É aqui que estou atualmente, mas se voltarmos um pouco para trás, sou uma orgulhosa graduada do Pratt. Estudei arquitetura no Pratt Institute. Trabalhei brevemente na SHoP Architects e na KPF até minha recente mudança para Los Angeles para trabalhar com Kelly Wearstler. Atualmente estou praticando arquitetura digital e design de interiores em seu estúdio.

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AD: Como é o processo de criação de uma imagem?

CA: Pela minha experiência, sempre começa com uma história. É quase como tirar uma foto da tela. O que estou tentando capturar? O que estou tentando comunicar com essa imagem? Essas questões ocorrem antes mesmo de quaisquer aspectos técnicos a ela. Uma vez que eu tenha uma ideia do que transmitir, qualquer ferramenta pode ajudar a fazer isso acontecer. Então, começo a desenhar, às vezes no papel, às vezes diretamente no espaço 3D. Eu tenho usado o 3D como o principal meio de desenho há cerca de 8 anos, então é muito natural pular direto para ele. Uma vez que tenho a composição certa, a história alinhada, ângulo de captura fixo, começo a brincar com os materiais. Ao longo da prática profissional, coletei uma biblioteca de imagens de materiais da vida real que considero extremamente úteis na visualização de qualidade hiper-real, em vez de usar gráficos gerados por computador. Os toques finais são as configurações de iluminação e ambiente, seja um dia de sol ou uma tarde de neblina. Exporto em 300 DPI e está pronta para publicação.

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AD: Quais softwares/ferramentas você usa para criar sua arte?

CA: Eu uso principalmente o Rhino para construir os espaços. Este é um software muito usado na prática profissional, por isso, já fui bem informada sobre ele na faculdade e o tenho usado como meu principal meio de desenho. Os softwares de visualização têm se expandido significativamente nos últimos anos, nesse sentido, após experimentar alguns deles, encontrei-me no Enscape, tanto para trabalho quanto para arte. O Blender é outro software que uso para fotos e atualmente estou experimentando para animações. Existem muitos plug-ins por aí para preencher a geometria e melhorar a textura também, às vezes eles são úteis.

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AD: Você pode nos contar sobre EXIT, sua coleção mais recente?

CA: EXIT é um projeto de arte no qual venho trabalhando há alguns meses. É um conjunto de espaços que quebram a estética mundana da realidade construída. À medida que estamos expandindo em direção à criação de ambientes digitais e experimentando a tecnologia avançada para contar histórias visuais, podemos projetar qualquer realidade de um cenário. Os elementos da coleção oferecem ambientes alternativos únicos e distintos, como paredes de camurça verde em uma quadra de basquete ou igrejas com solo macio, até mesas de jantar para cinquenta pessoas. Cada espaço provoca uma leitura inusitada de um contexto familiar com uma história. São pensamentos emprestados da vida real, mas colocados em contextos satíricos ou inesperados que rompem com ela. São SAÍDAS (EXITs) da realidade.

A história começa como um conceito para provocar o público com uma estética hiper-real, ao invés de ser gerada por computador, para mais familiaridade com a cena. A lama no chão e as manchas nas paredes de gesso carregam imperfeições da vida real para fazer crer na realidade absoluta, ilusória ou genuína. Os espaços parecem eufóricos, deliciosos, às vezes surpreendentes, porém estranhos.

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Comecei a trabalhar nesta coleção há apenas alguns meses como resposta à realidade da prática arquitetônica. Pela minha experiência profissional, que não é muito longa, mas suficiente para entender a estrutura da prática, o processo de projeto de qualquer edifício costuma ser 1/3 da totalidade dele. O resto é a execução. Enquanto eu trabalhava em projetos de grande porte que exigiam foco diário na execução, esses espaços se tornaram o escape criativo. Sem qualquer realidade funcional, necessidades estruturais ou restrições monetárias pude “sair” da minha própria realidade. Criei um espaço por semana, desafiando-me com um conceito único a cada vez e assim que acumulei 10 que gostei muito comecei a compartilhá-los nas redes sociais. Desde então, tento levar este projeto como meu diário criativo e coloco meus pensamentos em histórias visuais.

AD: Como você descreveria seu estilo artístico?

CA: Eu diria que o mais próximo seria o realismo visual, onde as imagens são tão próximas quanto uma foto, em vez de parecerem geradas por computador. Eu tento capturar as imperfeições da vida real o máximo possível para criar familiaridade ao espectador. Da lama no chão às manchas no gesso, a biblioteca de materiais é uma coleção de texturas da vida real e é por isso que as imagens estão o mais próximo possível da realidade. Com a tecnologia avançada, os gráficos e a resolução de iluminação estão crescendo significativamente dentro da indústria, o que permite efeitos hiper-reais, estou adaptando isso.

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AD: Onde você encontra suas inspirações?

CA: A boa prática de arquitetura vem do precedente na minha opinião. O precedente está nos livros, nas viagens, nas conversas. À medida que você entende como um edifício serviu ao seu tempo e contexto, você tem uma visão dos pensamentos do criador. Isso se aplica à qualquer produto tangível já feito, da moda à literatura e às artes. Eu me inspiro e aprendo com minhas heroínas/heróis pessoais. Valerio Olgiati, John Lautner, Rem Koolhaas, Ricardo Bofill, Diana Vreeland por sua visão criativa. Posso apresentar uma lista muito longa, mas hoje sou inspirada por esses indivíduos. Um grande conceito que estudei com muito cuidado são as heterotopias de Michel Foucault que ele descreve como espaços discursivos que são transformadores, incoerentes e perturbadores. São mundos dentro de mundos para “perturbar” o que está fora. Menos uma referência política ou social, mais uma perturbação da rotina diária, EXIT carrega um clima de escapismo semelhante às heterotopias.

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© Ceren Arslan

AD: Como a licenciatura em arquitetura contribui para uma carreira como a sua?

CA: Sou arquiteta na prática, mas é verdade que estou expandindo minha jornada criativa para diferentes campos nos dias de hoje. EXIT está tomando rumos surpreendentes em termos de colaborações, engajamento, ativações de IRL e visibilidade. Acho que ter uma base sólida e formação em arquitetura é libertador nessa jornada para encontrar suas diferentes formas. Quando você está na faculdade, você realmente aprende todas as ferramentas possíveis para contar uma história, além de qualquer software, há uma educação intensiva sobre história da arquitetura, literatura, estática, até design gráfico. Percebo que todo esse aprendizado vem à tona toda vez que começo a projetar um espaço, tanto no trabalho quanto na minha arte pessoal. Acredito que o espaço digital tem sido uma ótima ferramenta para divulgar minha visão e alcançar grandes públicos, construindo um estilo único e consistente. Eventualmente, o sonho é fazer com que esses espaços ganhem vida, como casas, SPAS, igrejas, experiências e muito mais maneiras que eu não consigo pensar no momento. Por isso, estou segurando firmemente no meu eu arquiteta.

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© Jamier Jar

Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: O futuro da visualização arquitetônica. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Stouhi, Dima. ""As visualizações sempre começam com uma história": entrevista com a artista visual Ceren Arslan" ["Visualizations Always Start with the Story": An Interview with Visual Artist Ceren Arslan] 15 Mai 2022. ArchDaily Brasil. (Trad. Sbeghen Ghisleni, Camila) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/980684/as-visualizacoes-sempre-comecam-com-uma-historia-entrevista-com-a-artista-visual-ceren-arslan> ISSN 0719-8906

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