Metaverso: um terreno fértil para arquitetos?

Metaverso é o nome usado para denominar um ambiente virtual imersivo, coletivo e hiper-realista, onde as pessoas poderão conviver usando avatares customizados em 3D.

Ele foi cunhado pelo escritor Neal Stephenson em seu livro de ficção científica “Snow Crash”, publicado em 1992. A obra conta a história de “Hiro Protagonist”, personagem que na vida real é um entregador de pizza, mas no mundo virtual – chamado na história de metaverso – é um samurai.

Alguns projetos tentaram criar algo semelhante a um metaverso. Um dos principais exemplos é o jogo Second Life, lançado em 2003 pela empresa Liden Lab. O game é um ambiente virtual 3D que simula a vida real. Ao entrar, os usuários podem criar avatares e socializar uns com os outros.O jogo atraiu milhares de gamers, mas não conseguiu unir completamente os mundos real e virtual.

Games como Roblox, Fortnite e Minecraft também bebem do conceito do metaverso, e apresentam alguns elementos desse novo universo. Nesses jogos, as pessoas têm seus próprios personagens, participam de missões, se relacionam uns com os outros e vão a eventos. Por exemplo o cantor Travis Scott fez um show dentro do Fortnite que foi assistido por 12,3 milhões de pessoas.

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Cortesia de untitled, xyz

No meio da confusão ao redor do termo, o Facebook Inc. anunciou em outubro de 2021 que a organização passaria a se chamar Meta (as redes sociais continuam com o mesmo nome).

A ligação do Facebook com o metaverso é antigo, e o interesse comercial não é novidade. Em 2014, o grupo comprou a Oculus, empresa que fabrica headsets de realidade virtual. São equipamentos necessários para acessar essa nova realidade ainda em construção.

A ideia é que o metaverso tenha uma economia virtual própria, e que as pessoas possam trabalhar, adquirir casas, comprar roupas, ir a festas, fazer reuniões e ter de fato uma vida online. A blockchain e as tecnologias que rodam nela – criptos, NFTs e outros – são essenciais para essa nova realidade. Ficção científica? Cada dia mais parece real.

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Cortesia de Krista Kim

A blockchain pode ser a base da economia do metaverso. Essa tecnologia, que nasceu com o Bitcoin no final de 2008, permite a criação de registros imutáveis sem a necessidade de uma terceira parte, e é uma ferramenta e tanto para governança da plataforma – sem bancos e governos.

Oportunidade?

Espaços virtuais estão se tornando mais comuns e cada vez mais sofisticados à medida que as empresas correm para construir plataformas que atrairão as pessoas para seus respectivos cantos do metaverso. Para plataformas como Spatial.io, Microsoft Mesh e Horizon Worlds do Facebook, o metaverso parece uma extensão do trabalho ou da vida, onde os avatares podem se encontrar em ambientes modernos brilhantes ou paisagens sobrenaturais para encontros.

Enquanto isso, megaplataformas como The Sims, Minecraft, Second Life e Roblox vêm construindo mundos virtuais expansivos e imersivos há anos, permitindo que os jogadores construam suas próprias estruturas e explorem essas paisagens cada vez maiores.

No futuro, as pessoas não experimentarão um único metaverso; em vez disso, eles navegarão por vários metaversos interoperáveis, todos com a capacidade de se conectar uns aos outros em uma tapeçaria de espaço digital, e todos alimentados pelo blockchain e moedas na plataforma que alimentam suas metaeconomias.

Durante séculos, arquitetos, engenheiros e construtores ditaram amplamente a forma do ambiente construído. As complexidades do mundo físico exigem salvaguardas na forma de regulamentos, zoneamento, credenciamentos e melhores práticas. Existem boas razões pelas quais nem qualquer um pode construir um arranha-céu.

O metaverso, por outro lado, é geralmente considerado como uma releitura coletiva do ambiente construído. É frequentemente comparado ao Velho Oeste, onde qualquer pessoa com espírito pioneiro e um pouco de criptografia pode plantar sua bandeira e construir sua própria fatia de mundo virtual da forma que desejar.

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Imagem via Raconteur

A realidade, é claro, é menos igualitária do que isso. O metaverso é cada vez mais mediado pelas mesmas forças que controlam o setor imobiliário no mundo físico – a saber, dinheiro, acesso e conhecimento. Já, investidores especulativos de criptomoedas e empresas imobiliárias estão comprando grandes extensões de “terra” no metaverso, onde uma parcela de espaço virtual pode valer milhares de dólares.

Na Decentraland, uma das maiores plataformas do metaverso, o preço de um terreno saltou para mais de US$ 10.000 nos distritos virtuais de maior tráfego do jogo.

Terrenos virtuais para se construir prédio virtuais, e alguns deles bastante atipícos do que estamos acostumados a ver, sem leis e sem barreiras construtivas.

Fim das barreiras

No metaverso, a gravidade não existe, nem as restrições materiais. Coisas como estrutura, materialidade e custo, aliás, vão para o lixo”, diz Leon Rost, diretor do Bjarke Ingels Group (BIG), que trabalhou em alguns projetos virtuais para clientes. Essa falta de restrição estilística atraiu arquitetos interessados ​​em ultrapassar os limites formais de como o espaço pode ser. O BIG fez parceria com o UNStudio para desenvolver uma plataforma de reunião virtual chamada SpaceForm, onde as pessoas podem colaborar em tempo real dentro de salas futuristas com mesas holográficas que exibem renderizações 3D e visualizações de dados.

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Cortesia de Zaha Hadid Architects e JOURNEE

Muitas vezes, esses espaços são projetados e codificados por usuários ou desenvolvedores sem experiência formal em design. Isso pode parecer uma ameaça existencial para alguns arquitetos, mas especialistas vêem esse domínio como uma oportunidade de questionar quem pode e deve participar do processo de design.

Alguns arquitetos detectaram as novas oportunidades e estenderam suas fronteiras de design para o mundo virtual. A Zaha Hadid Architects apresentou a mostra “NFTism”, uma galeria de arte virtual na Art Basel Miami que explora a arquitetura e a interação social no metaverso.

Inversão dos clientes

O metaverso funcionaria no mesmo modus operandi do mundo real quando falamos de captação de clientes e projetos?

No mundo real, arquitetos e designers precisam de clientes para começarem seus escritórios. Parece lógico que um arquiteto passe a maior parte de seu tempo desenhando prédios, mas na prática, a maior parte dos esforços de um arquiteto são direcionados a encontrar mais clientes e projetos.

A economia criativa no metaverso pode garantir oportunidades igualitárias e abundantes para designers emergentes e/ou menos representados independentemente de gênero, raça, orientação sexual. Você pode ainda conquistar comissões se você quer desenvolver experiências virtuais para marcas e proprietários de terras. Os usuários viram proprietários, e assim reduzem os custos de aquisição de clientes para quase zero.

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Imagem via Virtual Reality Reporter

Para cada competição de design, podemos ter apenas um design vitorioso. Cada designer têm designs incríveis adormecidos em seus HDs. Além de sediar uma exposição de “arquitetura não construída”, você pode revitalizá-la no metaverso para compartilhar sua criatividade com o mundo.

Cada nicho  pode encontrar seu próprio grupo na comunidade, formar sua própria cadeia industrial e encontrar usuários que se identifiquem.

Metaverso e Design

E no universo do design?

No início deste ano, a empresa de design de iluminação e tecnologia Nemo anunciou que era a “primeira” empresa de design a quebrar o mundo NFT – non fungible token, espécie de arte virtual criptografada e comercializada em plataformas para serem usadas em ambientes de metaverso.

Ele fez isso com uma coleção de Luca Baldocchi, um designer de interiores digital. Baldocchi trabalhou com Nemo para reinterpretar algumas das soluções icônicas de iluminação física da marca em uma “direção metafísica”.

Embora o comprador possa estar interessado apenas na peça digital, os NFTs do Nemo vêm com direitos sobre os desenhos, renderizações e esboços associados – contando assim a história por trás de cada peça.

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Cortesia de BENEVILLE STUDIOS

Os NFTs de móveis e iluminação não precisam concordar com a física do mundo real – e Palazzari diz que os NFTs da Nemo são bons exemplos. Por serem criações maximalistas “o processo criativo, espontâneo e não intencional, mescla vários componentes não relacionados, encontrando equilíbrio”, diz.

Precisamos aprender a gostar de viver em uma esfera digital, desenvolver uma maneira única de possuir e curar objetos e obras de arte. — Luca Baldochi

Os clássicos de Nemo foram inseridos em cenários surreais e inevitavelmente adquiriram um novo poder de fala – talvez seja possível iniciar uma conversa sobre a conexão de alto valor entre realidade e virtualidade.

E o metaverso vai além…

Metaverso e Transportes

Até o universo dos transportes pode ser afetado com a chegada dessa nova maneira de comunicar, viver e trabalhar como é o caso das viagens.

Já não há futuro de longo prazo para viagens de negócios intermunicipais graças à trajetória das ferramentas de colaboração online. Assim, todos a bordo de uma futura aeronave  serão viajantes de lazer de algum tipo fazendo o que os viajantes de lazer fazem: conectando-se com pessoas e lugares de maneiras que não serão prontamente substituídas pelo metaverso, de retiros e férias para maravilhas naturais e gastronomia.

Como todos os viajantes serão viajantes de lazer, a aparência dos aeroportos e aeronaves, terminais de trem e vagões, estações e cápsulas e outras infraestruturas de transporte e veículos mudarão de acordo.

Com tanto trabalho acontecendo no metaverso, os sistemas de trânsito como metrôs e trilhos leves, originalmente projetados para afunilar os corpos das pessoas de e para núcleos urbanos centralizados em cadências previsíveis de manhã e noite, vão se esforçar por relevância – e financiamento.

Isso não significa que esses sistemas desaparecerão completamente. Em vez disso, o próprio metaverso ajudará a transformar sua utilização. Isso porque o metaverso envolve a criação de gêmeos digitais de alta fidelidade das coisas que experimentamos fisicamente – incluindo infraestrutura de transporte, de coisas realmente grandes, como aeroportos e rodovias, até abrigos de ônibus e bicicletários – e, em seguida, gerenciar essas coisas digitalmente.

Isso, pelo menos em teoria, criará todos os tipos de novas eficiências. Com essas eficiências, provavelmente precisaremos de menos infraestrutura, o que significa que não precisaremos construir e manter tanta infraestrutura.

Ainda há muito a se questionar, entender e estudar como essas consequências atingirão áreas que ainda nem conseguimos imaginar.

Via Tabulla.

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Sobre este autor
Cita: Marília Matoso. "Metaverso: um terreno fértil para arquitetos?" 28 Mar 2022. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/978076/metaverso-um-terreno-fertil-para-arquitetos> ISSN 0719-8906

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