A Casa da Música e a Cidade das Artes: por uma monumentalidade

Em sua tese de doutorado, Guilherme Essvein de Almeida apresenta uma análise de duas importantes obras da arquitetura contemporânea: a Casa da Música do Porto projetado por Rem Koolhaas e a Cidade das Artes no Rio de Janeiro, da autoria de Christian de Portzamparc. A tese, defendida em 2018, foi orientada pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo Dias Comas e faz parte do programa de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Veja abaixo o resumo informado pelo autor e o link para a tese completa.

Casa da Musica. Image © Philippe Ruault
Cidade das Artes. Image © Nelson Kon

A Casa da Música do Porto e a Cidade das Artes do Rio de Janeiro foram projetadas por arquitetos estrangeiros nascidos na década de 1940, e interessados tanto no legado da arquitetura moderna em geral quanto, em particular, naquele dos brasileiros Lucio Costa (1902-1998) e Oscar Niemeyer (1907-2012). Concebida pelo holandês Rem Koolhaas (1944) em 1999 e inaugurada em 2005, a Casa da Música origina-se de concurso. Concebida pelo francês Christian de Portzamparc (1944) em 2002 e inaugurada em 2013, a Cidade das Artesé resultado de encargo direto. A Casa devia aumentar o atrativo do Porto como capital europeia. A Cidade devia aumentar o atrativo do Rio como cidade global. Ambos os empreendimentos subentendiam a realização de edifícios não apenas monumentais como icônicos de suas cidades, capazes de replicar o sucesso do Museu Guggenheim de Bilbao, concebido pelo americano Frank Gehry em 1991 e inaugurado em 1997.

Casa da Musica. Image © Philippe Ruault

De evidente semelhança programática, construtiva, temporal e cultural, as duas obras foram objeto de críticas frequentes durante e depois de sua execução. Rejeitando a definição de edifício icônico como um “novo gênero” capaz de substituir rapidamente o monumento, feita pelo crítico britânico Charles Jencks, a tese avalia a pertinência do entendimento destas obras como exemplos de acontextualismo e arbitrariedade formal, à luz da análise de seus propósitos e projetos. Afinal, como mostrou o arquiteto e crítico brasileiro Carlos Eduardo Comas a propósito do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro, a diferenciação de contexto é estratégia chave de assinalação ou caracterização de monumento desde tempos imemoriais. Por sua vez, como concluiu o arquiteto espanhol Rafael Moneo, a arbitrariedade formal aparece ao longo da história da arquitetura como uma condição antes que um problema disciplinar. Ao mesmo tempo, à luz da persistência de conceitos e estratégias próprios, a tese desautoriza o entendimento dessas obras como exemplos da perda de autonomia da arquitetura face às pressões do capital globalizado.

Cidade das Artes. Image © Nelson Kon

O trabalho se organiza em quatro capítulos, alimentados pelo acesso a fontes primárias sobre os dois edifícios, material iconográfico em parte inédito fornecido pelos escritórios de Koolhaas e de Portzamparc, assim como visitas às duas obras e por pesquisa bibliográfica intensiva, com especial atenção aos textos de Comas, que constituem leitura original a respeito da obra da geração de Costa e Niemeyer à luz da teoria acadêmica.

O primeiro capítulo, Trama, inicia enquadrando Koolhaas e Portzamparc na conjuntura disciplinar do último quarto do século XX, evidenciando as ligações profissionais entre estes arquitetos. A seguir, discute os conceitos de ícone e monumento, a relação entre ambos, e a contribuição do Museu Guggenheim de Bilbao para essa discussão. Por fim, evidencia-se a continuidade operativa dos conceitos acadêmicos de caráter e composição nos edifícios monumentais e icônicos do século XX.

O segundo capítulo, Casa, começa apresentando o histórico do concurso da Casa da Música, o exame do sítio e a pormenorização do programa. Segue-se a identificação e análise de precedentes relevantes, salas de concertos canônicas do século XIX e XX e projetos do próprio Koolhaas. Por fim, descrevem-se as distintas fases de projeto e execução da obra e apreciam-se as estratégias de caracterização adotadas.

Casa da Musica. Image © Philippe Ruault

O terceiro capítulo, Cidade, análogo ao segundo, detalha as circunstâncias em que Portzamparc é convidado para projetar a então Cidade da Música, examina o sítio e pormenoriza o programa. Segue-se a identificação e análise de precedentes relevantes, salas de concertos canônicas do século XIX e XX e projetos do próprio Portzamparc. Por fim, descrevem-se as distintas fases de projeto e execução da obra e apreciam-se as estratégias de caracterização adotadas. O quarto e último capítulo, Fortuna, apresenta a fortuna crítica das duas obras e problematiza os conceitos de contexto e arbitrariedade tendo em vista a análise precedente e as opiniões elencadas, evidenciando o reprocessamento da tradição moderna pela arquitetura contemporânea, com particular atenção à contribuição luso-brasileira.

Cidade das Artes. Image © Nelson Kon

Veja a tese completa no link abaixo

A casa da música e a cidade das artes : por uma monumentalidade

tese centra-se na análise da Casa da Música do Porto (Rem Koolhaas, 1999-2005) e da Cidade das Artes do Rio de Janeiro (Christian de Portzamparc, 2002-2013), centros culturais municipais ancorados em salas de concertos, concluídos no início deste século por arquitetos da geração dos 1940 operando no estrangeiro.

Sobre este autor
Cita: Pedro Vada. "A Casa da Música e a Cidade das Artes: por uma monumentalidade" 28 Fev 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/912336/a-casa-da-musica-e-a-cidade-das-artes-por-uma-monumentalidade> ISSN 0719-8906

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