Sou Fujimoto: "O futuro é uma matriz que se espalha e não uma linha reta"

Essa entrevista foi publicada originalmente em Metropolis Magazine como "Inside the Mind of Sou Fujimoto."

O Pavilhão Serpentine de 2013, a famosa obra-prima do arquiteto Sou Fujimoto, nascido em Hokkaido, diz muito sobre quem ele é e o que ele pensa sobre arquitetura. Mas, mais que isso, são as mais de 100 maquetes de estudos, às vezes meticulosamente refinados, outras rudemente executadas, que pontilham o espaço de galeria minimalista da Japan House Los Angeles. Essa exposição retrospectiva, Futures of the Future, reflete nitidamente a carreira de Fujimoto, que começou no ano 2000, quando ele abriu seu próprio escritório baseado em Tóquio e Paris.

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© Laurian Ghinitiou

No meio de tudo isso, o Pavilhão Serpentine é apenas um dos muitos pontos notáveis em sua carreira ainda relativamente jovem. O fio condutor da exposição é uma exploração de temas e ideias sobre a natureza e o ambiente construído que Fujimoto tem trabalhado em diferentes projetos, geralmente transparentes, brancos sobre branco e com árvores envolvendo. Como uma outra forma de contraste, Sou usava preto quando entrou para inspecionar o programa da exposição antes da inauguração em 27 de outubro. Era uma noite de outono que fazia 29 graus em Hollywood, Califórnia. Estando hospedado aqui, adjacente ao ruído e à desordem da Calçada da Fama, Futures of the Future se posiciona contra todas as probabilidades, um jogo de contrastes e contradições, coisas que Fujimoto aprecia.

Guy Horton: Você acha que ter vindo de Hokkaido lhe dá uma perspectiva diferente sobre a natureza do espaço e do lugar?

Sou Fujimoto: Eu realmente não entendia o que eu tinha em Hokkaido até depois de me mudar para Tóquio. Eu tive que ver de longe. Crescendo, eu realmente não pensava nisso. Quando me mudei para Tóquio para estudar arquitetura [e relembrei] essa sensação de viver em uma paisagem mais árida e em uma cidade pequena, esse contraste entre o ambiente natural e um ambiente arquitetônico, percebi que a situação de Hokkaido era singular.

Por ser do interior, brincar na floresta e estar imerso na natureza foi um ponto de partida bastante importante para formar minha percepção do espaço. Em um ambiente natural, você pode escolher seu próprio caminho. Foi estranho ter uma experiência semelhante na densidade de Tóquio. Tudo é artificial, mas as escalas, densidades e peças flutuantes são bastante semelhantes a caminhar em uma floresta. Você ainda pode escolher seu próprio caminho. Foi quando percebi que a natureza e os artefatos, embora diferentes, ainda podem criar experiências espaciais semelhantes. E, dentro dos espaços artificiais da cidade, sempre há elementos naturais.

© Sou Fujimoto, Nicolas Laisné and Dimitri Roussel

Você traz a natureza em condições urbanas muito densas, abertamente e às vezes abstratamente. Isso é um movimento consciente para trazer o mundo natural para a sua obra?

Sim, não apenas a natureza, mas a criação de espaços onde as pessoas podem se sentir como se estivessem em uma floresta ou possam sentir a abertura para o céu. Estou sempre procurando encontrar um equilíbrio entre natureza e arquitetura, incluindo os significados mais metafísicos e profundos.

Qual é a sua lembrança mais antiga de querer fazer arquitetura?

Eu sempre amei fazer coisas. Não arquitetura, mas qualquer coisa que eu pudesse fazer com minhas mãos. Então, quando eu tinha 11 ou 12 anos, encontrei um livro sobre Le Corbusier. Foi quando percebi que a arquitetura era uma atividade criativa. Antes disso, a arquitetura era apenas edifícios para mim. Mas eu não estava pensando nisso como uma profissão na época.

No ensino médio, interessei-me em física e em como os físicos estavam tentando entender a complexidade do mundo e, como Einstein, descobrindo teorias tão claras para explicar tudo.

Quando cheguei à universidade, queria estudar física ou matemática. Mas logo percebi que exigiam um alto nível de estudos e desisti porque era muito difícil de entender. Então eu tive que decidir qual assunto seguir. Vindo da física e matemática, a arte pura e a pintura pareciam muito distantes de mim, então a arquitetura parecia um pouco mais relacionada com o que eu estava fazendo naquela época. Na época, eu não sabia nada sobre arquitetura. Parecia que poderia funcionar para mim.

Quem te inspirou quando você começou?

Os primeiros arquitetos que nos mostraram foram Le Corbusier e Mies van der Rohe. Foi realmente fascinante ver como eles inventaram novos conceitos de espaço. Foi completamente diferente do que eu entendia que a arquitetura fosse. E para mim, pessoalmente, havia alguma semelhança entre as teorias de Einstein e o que Mies e outros modernistas estavam fazendo. Isso foi realmente fascinante para mim. Eu sempre volto a isso, mesmo agora, para re-entender a arquitetura. Porque, de certa forma, a arquitetura moderna e o modernismo ainda estão em curso. Às vezes, ele se inclina para mais pós-modernismo, às vezes se inclina para formalismos, mas ainda há uma estética compartilhada subjacente. O modernismo nos rodeia. Então, eu tento re-entendê-lo, re-criticá-lo. Estes são pontos de referência importantes para que eu me lembre onde estou.

© MIR

É sobre isso que sua exposição se trata, lembrar onde você está?

Eu percebo agora, mesmo ao revisitar a arquitetura gótica, românica, ou do século 16 ou 17, que há muita inspiração para se ter de toda a história da arquitetura. Eu sinto que faço as coisas em resposta.

Para futuros arquitetos, as coisas que faço se tornarão parte dessa longa história e podem inspirá-los a criar outro futuro. O futuro é uma matriz que se espalha e não uma linha reta. O que estou fazendo agora pode ser visto como sementes para o futuro, embora essas sementes sejam criadas pelas sementes passadas de histórias passadas. Então, é uma continuidade de criações, ideias e inspirações.

Quais idéias você está explorando agora? Seu feed do Instagram mostra muitos céus e horizontes. Você está procurando algo lá ou é só porque você voa muito?

Sim. O céu é bastante simples e, no entanto, sempre diferente. Eu não tenho certeza do que estou procurando no céu [risos]. Mas talvez eu esteja interessado em sua complexidade. Eu gosto de ficar surpreso. Recentemente eu tenho me inspirado em complexidade e contradição e como posso fazer algo no meio disso.

Qual é o objetivo disso e como isso afeta as pessoas?

Tudo parece estar se tornando mais complexo e diversificado. A natureza é diferente da atividade humana, mas um componente importante de nossas vidas. É uma contradição que as pessoas não possam controlar a natureza, mas temos que fazer parte dela. É como o oposto da era moderna, em que as pessoas queriam controlar tudo no ambiente, ou assim pensavam.

© Hufton + Crow

Então, se essa contradição é a condição humana, o seu objetivo é fazer com que as pessoas se sintam confortáveis com isso?

O que eu gosto é de criar são espaços que permitem que as pessoas se comportem como querem, uma arquitetura que respeite a diversidade das escolhas das pessoas em vez de ditar algo para elas. Eu não quero projetar um espaço bonito… Eu gosto de criar um espaço no qual as pessoas possam se inspirar no espaço e por outras pessoas interagindo dentro desse espaço. Então suas vidas se tornam mais diversas. Criar escolhas para pessoas ou criar lugares onde as pessoas possam se sentir abertas e livres para fazerem o que quiserem é um bom objetivo.

Você acha que é importante para a sua arquitetura se destacar do contexto, para parecer obviamente diferente?

Depende. Em Tóquio, você não precisa ser parecido com o ambiente porque tudo já é tão caótico. Não é possível fazer novas estruturas se fundirem no entorno. Além disso, em 20 anos, toda a área mudará novamente, de modo que o contexto é muito fluido.

O projeto em Paris [Milles Arbres], por exemplo, fica na periferia da cidade, ao lado da histórica Paris, então tentamos explorar essa tensão e o contraste.

© Varosliget Zrt

O projeto de Budapeste [House of Hungarian Music] está no meio de um parque, então você não percebe nenhuma forma exterior do chão. Você simplesmente anda sob a copa das árvores e, em algum momento, está caminhando sob uma cobertura artificial, mas, em seguida, parte da cobertura tem árvores saindo dela. É como a transição gradual da floresta para o edifício. É como se derretesse no ambiente, o que era minha intenção.

Acho que estou interessado em reinterpretar como harmonizar a natureza e a cultura antigas e novas, passadas e futuras. Novas ideias sobre como produzir harmonia podem levar a algo novo. Mesmo que as pessoas não reconheçam automaticamente como novo, ainda é novo.

Cortesia de Metropolis Magazine
Sobre este autor
Cita: Horton, Guy. "Sou Fujimoto: "O futuro é uma matriz que se espalha e não uma linha reta"" ["The Future is a Spreading Matrix": In Conversation with Sou Fujimoto] 21 Nov 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/906325/sou-fujimoto-o-futuro-e-uma-matriz-que-se-espalha-e-nao-uma-linha-reta> ISSN 0719-8906

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