Cinema e Arquitetura: "Equals", a arquitetura da impessoalidade

Equals (2015) é um filme futurista que mostra a realidade utópica de uma sociedade bem organizada, produtiva, livre de sentimentos,regida pela coletividade e impessoalidade. A população vive e trabalha em edifícios monumentais, usa trajes monocromáticos unissex e é cercada por tecnologia e paisagens etéreas. Tudo funciona perfeitamente até o surgimento de um vírus que faz despertar sentimentos nas pessoas infectadas, abalando a estabilidade do sistema organizacional da comunidade.

A arquitetura tem um papel fundamental para a ambientação desta sociedade e demonstração do modo de vida dos personagens; ao contrário da maioria das ficções, que fazem uso de efeitos especiais para criar cenários distópicos, o diretor Drake Doremus buscou locações que transmitissem essa ideia de futuro. Grande parte dos espaços apresentados no filme são reais e se localizam no sudeste asiático, em  Singapura e no Japão, apesar de parecerem vislumbres de uma realidade distante, as edificações que dão o tom futurista do enredo já fazem parte de nosso presente.

Um dos locais escolhidos para as filmagens foi o Centro de Conferências de Awaji Yumebutai no Japão, projetado por Tadao Ando. A aparência minimalista, a escala monumental, o uso do concreto aparente e os espelhos d’água colaboram para reforçar a serenidade característica de uma sociedade sem emoções, ao passo que os espaços comuns de circulação e o grande auditório elevam a noção de coletividade.

via screenshot do filme

Também projetado por Ando, o Museu Sayamaike, no Japão, foi construído para abrigar os artefatos encontrados na região durante as escavações para a construção do lago artificial Sayamaike e conta com um pátio de concreto aparente cercado por cascatas, mostrando ao mesmo tempo austeridade e imponência. Essas características fizeram com que ele fosse escolhido como a locação, para onde os infectados com o vírus eram levados para tratarem suas emoções, - visto que a neutralidade do concreto aparente e as grandes cascatas conferem a tranquilidade necessária em um local de reabilitação.

via screenshot do filme

Outra locação que integrou a cidade fictícia foi o Jardim Botânico de Singapura, para onde um personagem é transferido durante o tratamento do vírus. Diferente das demais edificações, majoritariamente cinzas, o local traz para o filme o verde das espécies vegetais, realçando, através do contato com a natureza, os sentimentos e emoções que o indivíduo passa a ter ao ser infectado.

via screenshot do filme

Nesta cidade fictícia as pessoas se locomoviam principalmente a pé, e o local utilizado para gravar as cenas do caminho que elas faziam para chegar até suas residências foi a ponte Henderson Waves, em Singapura, projetada pelos escritórios IJP Corporation e RSP. Com 274 metros de comprimento e suspensa 36 metros acima do solo, suas formas ondulares formam nichos que servem como espaço de descanso e de proteção para os pedestres, ao passo que seu desenho exuberante colabora com a estética futurista do filme.

via screenshot do filme

As residências seguem o padrão minimalista, monocromático e organizado. Os personagens moram em edifícios com apartamentos compactos, idênticos, sem elementos que sugiram alguma identidade. Esses apartamentos podem ser configurados de diferentes maneiras de acordo com as necessidades dos habitantes, contando com dispositivos retráteis para cada atividade doméstica: dormir, vestir-se, alimentar-se, etc. Após o uso, esses módulos são recolhidos automaticamente e o apartamento volta à sua forma original.

via screenshot do filme

O exterior dos conjuntos de apartamentos é o complexo Reflections at Keppel Bay, projetado pelo arquiteto Daniel Libeskind, também localizado em Singapura. Os edifícios são revestidos por um material de quadrícula opaca e transparente que confere dinamismo e movimentação à fachada - em contraponto aos demais edifícios mostrados no filme, estáticos, feitos de concreto e pobres em revestimentos.

via screenshot do filme

Os jogos de luz e sombra utilizados nas cenas formam belas composições e reforçam a monotonia das pessoas, já que até as sombras parecem mais vibrantes que elas. A iluminação artificial nos espaços criados em estúdio foi utilizada em locais estratégicos, de forma indireta e realçando os traços minimalistas do mobiliário. Essa iluminação foi toda feita em LED e, para evidenciar os sentimentos dos personagens em determinadas cenas, tinha sua intensidade e coloração alteradas no decorrer da gravação.

FICHA TÉCNICA

Título: Quando te Conheci (Equals)
Ano: 2015
Diretor: Drake Doremus
Atores: Kristen Stewart; Nicholas Hoult; Guy Pearce

Galeria de Imagens

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Sobre este autor
Cita: Mariana Muraoka. "Cinema e Arquitetura: "Equals", a arquitetura da impessoalidade" 18 Fev 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/889083/cinema-e-arquitetura-equals-a-arquitetura-da-impessoalidade> ISSN 0719-8906

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