Estruturas Tensegrity: o que são e o que esperar delas

Buckminster Fuller, por meio de sua extensa pesquisa, invenções e experimentações estruturais, cunhou o termo Tensegrity. Ele diz respeito às “estruturas autotensionadas compostas por estruturas rígidas e cabos, com forças de tração e compressão, que formam um todo integrado” [1]. Em outras palavras, a tensegridade é a propriedade presente por um sistema que se apropria de cabos (tração) e da rigidez de outros elementos (normalmente em aço, madeira ou bambu) capazes de agirem sob os esforços intrínsecos (tração e compressão) conjuntamente e simultaneamente, propiciando maior resistência e estabilidade formal. Trabalham como estruturas biológicas, a exemplo de músculos e ossos, interligados, onde um fortalece o outro.

Para Georgia Victor, “são modernamente utilizadas para explicar a organização dos elementos que compõe os seres viventes, de acordo com as características de sua geometria. Tal organização espacial forma um campo continuo de trações e compressões em constante equilíbrio, num jogo de tensões com a força da gravidade”. [2]

Parametric Tensegrity Structure for Local Art Fair. Image © Gernot Riether

De modo geral, o sistema trabalha unindo forças contrárias e, segundo Fuller, é a “base estrutural da natureza, capaz de, com um mínimo de elementos, formar uma estrutura forte” [3]. Keneth Snelson – ex-estagiário de Buckminster Fuller e escultor americano de arte contemporânea - teve papel imprescindível no desenvolvimento do sistema estrutural, trabalhando com peças compostas por componentes rígidos e flexíveis.

Talvez a obra de Snelson que exponha o sistema da melhor forma seja a Needle Tower, escultura criada em 1968, com 18 metros de altura, 6,18 de largura e 5,42 de comprimento, permitindo que Fuller teoricamente desenvolvesse a ideia a partir da análise da integridade tênsil. O domo geodésico concebido pelo arquiteto em 1948, por exemplo, já iniciava a noção das estruturas tênseis, apesar das dificuldades encontradas no processo de montagem do protótipo, permanecendo em pé por poucos minutos [5].

Neddle Tower © Clayton Shonkwiler via Flickr Licença CC BY 2.0

Barras rígidas agem sobre esforços de compressão e são dispostas de modo isolado, não tocando-se, junto aos cabos de aço recebendo esforços de tração. O conceito foi expandido, incorporando “estruturas que podem não ser auto equilibradas, mas que contemplam o princípio (...), formadas por cabos tracionados e barras comprimidas e isoladas entre si” [7] a exemplo das geodésicas de Fuller.

Easy K_Kenneth Snelson © Robin Capper via Flickr Licença CC BY-NC 2.0

O sistema vem atraindo a atenção de pesquisadores, como afirma Deifeld e Pauletti. Segundo os autores, provavelmente a maior estrutura arquitetônica a utilizar o sistema seja a cobertura do ginásio esportivo Georgia Dome [8], em Atlanta, nos Estados Unidos. Em recentes pesquisas, como a de Kuan-Ting Lai, batizada como "Sistemas Reconfiguráveis de Tensegridade", têm buscado explorar as possibilidades de utilizar os princípios para construir um sistema estrutural que possa reconfigurar-se, a partir da compreensão das regras básicas do sistema e posteriormente, a construção de um protótipo de cilindros pneumáticos e painéis de policarbonato, evidenciando as potencialidades.

Parametric Tensegrity Structure for Local Art Fair. Image © Gernot Riether

Outro exemplo é a pesquisa desenvolvida por estudantes da Ball State University, em Muncie, Indiana, nos Estados Unidos, mediada pelos professores Gernot Riether e Andrew Wit, responsáveis por formalizar estruturas paramétricas a partir de 56 módulos, leves e auto sombreados, utilizando tecido de elastano e criando um pavilhão capaz de oferecer um refúgio do sol. Estruturalmente, foram criados a partir de variações modulares, em medidas e rotação, a partir de softwares paramétricos – Rhino e Kangaroo, essenciais à conformação do processo formal.

As propriedades das estruturas Tensegrity (Tensegridade) dispõe de consideráveis avanços estruturais num sistema integrado entre as partes, tornando cada componente essencial ao funcionamento integral da estrutura. Há diversos pesquisadores e arquitetos desenvolvendo protótipos e buscando um maior entendimento das potencialidades do sistema. Ainda que aplicações práticas na arquitetura e engenharia ainda não sejam tão comuns, o sistema apresenta potencialidades diversas.

Parametric Tensegrity Structure for Local Art Fair. Image © Gernot Riether

Notas

[1] (DA SILVA; FARBIARZ. 2016. p. 2007-2008).
[2] (VICTOR. 2008. P.22).
[3] (FULLER) in: (DA SILVA; FARBIARZ. 2016. p. 2008).
[4] (VICTOR. 2008. P.22).
[5] (DEIFELD; PAULETTI. 2002. p.04).
[6] (DEIFELD; PAULETTI. 2002. p.04).
[7] (DEIFELD; PAULETTI. 2002. p.04).
[8] (DEIFELD; PAULETTI. 2002. p.05).

Referências Bibliográficas

DA SILVA, Julia Teles; FARBIARZ, Jackeline Lima. O pensamento de Buckminster Fuller e o LILD, PUC-Rio. 2016. Disponível em: <http://pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/ped2016/0170.pdf>. Acesso em 25 Dez 2017.

DEIFELD, Telmo Egmar Camilo; PAULETTI, Ruy Marcelo de Oliveira. Um breve estudo sobre as estruturas Tensegrity. 2002. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Ruy_Pauletti/publication/242195354_UM_BREVE_ESTUDO_SOBRE_AS_ESTRUTURAS_TENSEGRITY/links/0c96052950cf47d9a8000000/UM-BREVE-ESTUDO-SOBRE-AS-ESTRUTURAS-TENSEGRITY.pdf>. Acesso em: 25 Dez 2017.

VICTOR, Georgia Ribeiro. Design para Saúde. 2008. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=13171@1>. Acesso em: 25 Dez 2017.

Sobre este autor
Cita: Matheus Pereira. "Estruturas Tensegrity: o que são e o que esperar delas" 23 Jan 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/887543/estruturas-tensegrity-o-que-sao-e-o-que-esperar-delas> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.