Padrão de Qualidade BRT: Ferramenta para avaliação de corredores de BRT

O conceito de BRT como conhecido atualmente, foi durante muito tempo uma incógnita entre planejadores e engenheiros. As diferentes interpretações sobre o conceito permitiam que corredores de ônibus convencionais fossem muitas vezes nomeados incorretamente de BRT.

Entre os anos de 2004 e 2014, houve um crescimento acelerado de implantação de corredores de BRT. Hoje existem cerca de 2.600km de BRTs operacionais no mundo, dos quais aproximadamente 72% foram construídos neste intervalo de 10 anos. No território brasileiro também houve um maior crescimento neste período, onde a extensão de corredores de BRT praticamente dobrou em relação ao ano de 2004.

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Extensão de corredores BRT aumenta em cerca de quatro vezes em um intervalo de 10 anos. Image © ITDP Brasil

Neste contexto, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, juntamente com líderes e especialistas internacionais na área, desenvolveu em 2012 o Padrão de Qualidade BRT. A sua criação visava garantir que os corredores denominados BRT de fato oferecessem uma experiência mais uniforme e benéfica aos seus usuários. O Padrão de Qualidade BRT conta com métricas específicas para a identificação e avaliação de corredores com base em práticas documentadas e disseminadas por um Comitê Técnico internacional. Assim, o Padrão permite que corredores ao redor do mundo sejam comparados com base na mesma ferramenta. Atualmente, o Padrão de Qualidade se encontra em sua quarta versão.

A avaliação de um corredor pode ser realizada sob duas formas: Pontuação de Projeto (100 pontos) e Pontuação Completa (100 pontos relacionados ao Projeto + deduções com base na Operação, que podem variar de 0 a -63 pontos). Dessa forma, a avaliação pode ser feita tanto em corredores já implementados, como em corredores ainda em fase de planejamento. No primeiro caso, o Padrão pode funcionar como um checklist de elementos considerados essenciais. No segundo caso, este permite avaliar e aprimorar o projeto e a operação do corredor.

Resumo das categorias do Padrão de Qualidade BRT. Image © ITDP Brasil

O sistema de pontuação permite então uma classificação de um corredor, de acordo com uma pontuação de 0 a 100. Os corredores com as mais altas pontuações são classificados como Ouro (maior a 85 pontos), Prata (maior que 70 pontos) e Bronze (maior que 55 pontos). Aqueles corredores que não apresentarem uma pontuação acima do estipulado anteriormente e atenderem aos critérios mínimos para serem considerados BRT são enquadrados na categoria Básico. A pontuação só é considerada oficial após a validação do Comitê Técnico do Padrão de Qualidade BRT.

Diversos corredores já foram avaliados no mundo com o Padrão de Qualidade BRT, dentre eles algumas das melhores práticas identificadas estão no corredor TransMilênio, de Bogotá na Colômbia, que apresenta a capacidade de atender uma demanda de passageiros igual ou superior ao de muitos sistemas de metrô; no corredor Metrobus, de Bueno Aires na Argentina, implantado em uma das mais largas vias urbanas do mundo e no corredor CTfastrak, de Hartford nos Estados Unidos, que surgiu da transformação de um corredor inativo de transporte de carga sobre trilhos.

Além disso, desde 2013, o ITDP avaliou 14 corredores em 9 cidades e regiões metropolitanas do Brasil. Destes, o mais recente último corredor de BRT construído na cidade do Rio de Janeiro, o corredor TransOlímpica.

O corredor de BRT TransOlímpica foi implantado como parte dos compromissos da cidade para sediar os Jogos Olímpicos Rio 2016 com o objetivo de ligar as arenas olímpicas da Barra da Tijuca e Deodoro e oferecer uma nova conexão transversal na Zona Oeste da cidade. Com 23 km de extensão, o corredor se conecta ao sistema de BRT já existente na cidade, que agora conta com mais de 120 km de extensão e transporta aproximadamente meio milhão de passageiros por dia (acesse o mapa interativo do sistema de BRT da cidade criado pelo ITDP Brasil). Em operação desde agosto do ano passado, o corredor foi avaliado pelo ITDP Brasil a partir de visitas de campo realizadas entre março e maio de 2017.

BRT TransOlímpica, em verde, no sistema de BRT da cidade, exibido no mapa interativo criado pelo ITDP Brasil. Image © ITDP Brasil

A avaliação do BRT TransOlímpica revelou que o corredor se destaca pelo planejamento de serviços. O corredor oferece, além das linhas que percorrem o corredor inteiro, outras que acessam partes dos corredores de BRT TransCarioca (linha Madureira x Terminal do Recreio) e BRT TransOeste (linha Jardim Oceânico x Sulacap). Com estas linhas, passou de 8 para 27 o número de estações em que é possível utilizar um serviço que acesse mais de um corredor do sistema. Estas múltiplas linhas se complementam e permitem uma maior integração entre os corredores do sistema de BRT, além de facilitar o acesso a diferentes partes da cidade.

BRT TransOlímpica, em operação no Rio de Janeiro desde agosto do ano passado, foi avaliado pela ferramenta Padrão de Qualidade BRT, concebida pelo ITDP.. Image © ITDP Brasil

A avaliação do BRT TransOlímpica revela também alguns pontos que devem ser melhorados, principalmente com relação aos seus acessos por bicicleta e a pé. A infraestrutura de acesso e estacionamento para bicicletas é incipiente e cobre apenas a Avenida Salvador Allende. Porém, mesmo nesta extensão, a rede cicloviária é descontinuada em alguns trechos, para permitir o acesso de veículos a garagens ou compartilhamento com pedestres, além de ser interrompida em vias transversais ao corredor. O corredor apresenta atualmente apenas uma estação de bicicleta compartilhada, próxima ao Terminal do Recreio. Uma infraestrutura de acesso e de estacionamento adequada para bicicletas e a presença de sistemas de bicicletas compartilhadas nas estações garantiria conforto e segurança para os usuários que já realizam parte do caminho de bicicleta e criaria também uma outra opção para os usuários acessarem seus destinos finais, o que potencialmente aumentaria a cobertura do sistema.

A Avenida Salvador Allende conta com uma ciclovia paralela ao corredor, com trechos de descontinuidade para acesso de veículos, principalmente entre as estações Minha Praia e Asa Branca.. Image © ITDP Brasil
Para acesso à estação Boiúna é necessário percorrer cerca de 300m a céu aberto sobre a via elevada. Image © ITDP Brasil

O acesso às estações para pedestres também é outro ponto a ser aprimorado. A maioria dos acessos no trecho em via elevada é desconfortável aos usuários, por obrigá-los a percorrer um caminho a céu aberto sujeito a intempéries em uma distância razoável para caminhada.

Além disso, o acesso à via elevada é realizado por passarelas que se encontram entre dois viadutos, o que provoca uma sensação de insegurança, sentida em especial pelas mulheres, dada a pouca visibilidade dos trechos.

Todos os acessos à via elevada ao longo do corredor seguem o mesmo padrão, entre dois viadutos, que projetam insegurança e diminuem a atratividade do corredor. Image © ITDP Brasil

O corredor de BRT TransOlímpica recebeu o selo Prata em sua avaliação completa, que englobou quesitos ligados ao projeto e à operação. Outros corredores também avaliados com o selo prata pelo ITDP incluem: o sistema Expresso Tiradentes em SP, que circula em via elevada e conecta periferia à área central da cidade; o BRT Antônio Carlos em BH, que conta com uma operação intensa em horário de pico; alguns corredores da cidade do México e de Ahmedabad na Índia – que tiveram ampla aceitação e levaram outras cidades indianas a adotar o modelo de BRT; e o corredor​es​ de Brisbane, Austrália e Istambul, na Turquia​.

Sobre este autor
Cita: ITDP Brasil. "Padrão de Qualidade BRT: Ferramenta para avaliação de corredores de BRT" 07 Jul 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/875313/ferramenta-avalia-corredores-de-brt-com-metricas-que-medem-a-qualidade-e-a-experiencia-dos-usuarios> ISSN 0719-8906

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