O croqui como método essencial de representação

O croqui (sketch) é uma ferramenta análoga de representação onde o desenho transcende à perfeição para dar lugar a elaborações gráficas mais ágeis e a imperfeição tende a ser o atributo do desenhista, a evidência de sua forma de ver o mundo. O âmbito acadêmico, especialmente em arquitetura, pede rapidez de elaboração para demonstrar as ideias que com palavras não podem ser idealizadas e a constante prática em elementos cotidianos como guardanapos, contra-capas de cadernos ou folhas soltas, são os espaços que abrigam os esboços para abrir caminho ao uso de cadernos; como memórias de processos de projeto ou viagens para aprendizado... o qual apresentarei ao final do artigo com o intuito de estimular o leitor na prática desse método.

Expressar uma ideia é uma condição possível em qualquer ser humano, servindo-se de croquis, palavras ou a elaboração de figuras para fazer entender-se o que se deseja comunicar com as mãos como instrumento mediador entre o pensar e o capturar: "na condição do croqui é onde o pensamento tem uma relação direta com o fazer, com sua mão, com a experiência do corpo."

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Princípio de abstração para um objeto em três etapas. Imagem © Sebastián Bayona Jaramillo

O desenho é um método de representação de arte e visto por alguns como uma prática para "virtuosos", porém que deixou de perseguir a imitação da realidade para fazer da expressão singular uma forma de encontrar a essência das coisas, o que os olhos não vêem.

O croqui, apesar da agilidade que se dá em sua aplicação, previamente requer da atenção e do pensar do observador para acompanhar o traço enquanto materializa o desenho, comunicando nos detalhes e, além disso, com a possibilidade de exaltar ou ocultar algum elemento. A intensidade das linhas se dão através da pressão sobre a folha, forte nas proximidades ou suave na profundidade. [1]

Interior da casa Alworth de Marcel Breuer. Lareira ressaltada com texturas. Imagem © Sebastián Bayona Jaramillo

Iniciar a representação de um objeto desde o zero parte de reconhecer sua morfologia característica - ou ideia - e continuá-la ao mesmo tempo de ir despojando as e o excesso de elementos. É um processo recíproco onde os detalhes separados no início do esquema regressam ao final para dar-lhe importância ao que desejamos outorgar maior força e fixar a atenção ali.

"Nossas mãos, como nos propõe Martin Heidegger, são órgãos para o pensamento. No momento em que estas não trabalham para conhecer ou aprender, faz-se para pensar. Desenhar, fazer maquetes, croquizar... é um "fazer" que se converte numa forma de "pensar" em que mãos e pensamentos ficam unidos". [2]

É assim, pois, que o procedimento de abstração ao desenhar é o resultado do complemento entre a mão e a mente; servindo-se previamente da experiência para decantar elementos e começar a criar. [3]

Coliseu / Roma. Imagem © Sebastián Bayona Jaramillo

Os primeiros processos de croquis devem iniciar no entorno próximo com objetos cotidianos e ampliar-se paulatinamente a complexidade quando vários desses acabam por conformar um espaço ou paisagem. Além da prática, a melhoria no resultado final também é o produto da inspiração estabelecida com o objeto de análise. Uma empatia que permite, como qualquer prática artística, capturar a beleza através do sentir pessoal.

Na galeria desse artigo, apresento um caderno de viagem onde o desenho traz consigo a observação e isso pede um pouco de tempo, calma e soltar o afã. É um ponto de vista humano para interpretar uma obra arquitetônica sobre o papel. É conhecer uma essência, nesse caso de algo e não de alguém; e tratar de despojar-lhe de seus possíveis recantos,, complexidades e saturações, para dar-lhe um respiro, limpá-la um pouco e abstrai-la. Assim a entendes e interioriza.

Santa Maria dei Fiore (Duomo) / Florença. Imagem © Sebastián Bayona Jaramillo

Cada croqui é o resultado de uma viagem pessoal que permite relembrar algo, como as cores ou o som das pessoas caminhando, as risadas, o vento e a música das praças, as quais aleatoriamente me recebiam em algum lugar do mundo. Sim, porque dessa forma também inicia-se um croqui, em qualquer parte da folha. Um encontro com lugares icônicos da arquitetura através da história para peneirá-los dentro de um processo criativo como expressão sensível... compartindo-se aos demais, a vocês.

Notas

[1] María Isabel Alba Dorado, Manos que piensan. Reflexiones acerca del proceso creativo del proyecto de arquitectura, 2013, p. 200
[2] Íbid., p. 199
[3] Íbid., p. 201

Parlamento / Budapeste. Imagem © Sebastián Bayona Jaramillo

Citação

Orlando Campos Reyes. Conferência final do Salón de octubre 2014 na Universidad Nacional de Colombia sede Medellín.

Referências

María Isabel Alba Dorado, Manos que piensan. Reflexiones acerca del proceso creativo del proyecto de arquitectura, Valencia, 2013.

Sebastián Bayona Jaramillo é estudante de arquitetura na Universidad Nacional da Colombia (sede Manizales) e autor das exposições: “La piel y los sentidos” e “Bitácora”. Tem participado durante três semestres da implementação do croqui como método de expressão “Mano alzada”, dedicada aos estudantes do primeiro semestre da mesma instituição.

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Sobre este autor
Cita: Bayona Jaramillo, Sebastián. "O croqui como método essencial de representação" [El croquis como método de representación esencial ] 27 Fev 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/782756/o-croqui-como-metodo-de-representacao-essencial> ISSN 0719-8906

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