Arquitetura de conservação na Índia: cultura e edifícios vivos

O ambiente construído na Índia está envolvido em uma negociação entre tradições antigas, uma população diversificada e ambições globalizadas. Quando se trata de preservação do patrimônio, essas forças convergem para criar uma abordagem distintiva aos esforços de conservação no país. Além dos modelos convencionais vistos em muitas partes do mundo, os projetos de conservação na Índia entrelaçam práticas históricas, envolvimento comunitário e reverência pela essência viva dos edifícios.

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Apesar da longa e contínua história da civilização na Índia, diz-se que a prática formal de conservação surgiu com o estabelecimento do Levantamento Arqueológico da Índia (ASI) pelos britânicos em 1902. Embora esteja ainda em seus estágios iniciais como uma preocupação mais abrangente do público e dos profissionais, há uma riqueza de conhecimento se acumulando. Por meio da síntese da experiência indígena e da colaboração internacional, diretrizes para a preservação do patrimônio arquitetônico e urbano na Índia estão sendo desenvolvidas. O processo busca alcançar uma definição mais clara do contexto indiano no campo do planejamento da conservação.

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Red Fort Center / Design Factory India. Imagem © Andre J. Fanthome

Os projetos de conservação histórica não consideravam as complexidades dos estilos de vida indianos modernos e geralmente se concentravam na abordagem dos desafios locais. Diferente do modelo amplamente predominante de arquiteto-pedreiro-empreiteiro, os esforços tradicionais de conservação envolviam uma variedade de profissionais, como artesãos, astrólogos, padres, líderes locais, ecologistas e muito mais. Assim como os projetos contemporâneos de construção, que exigem um esforço colaborativo e multidisciplinar, a restauração tradicional envolvia toda a comunidade como partes interessadas ativas.

Um exemplo dessa abordagem colaborativa é evidenciado na restauração do Templo Vadakunnathan em Thrissur, Kerala, realizada pelo escritório de arquitetura local dd Architects. Este templo, construído no estilo arquitetônico tradicional do estado, foi erguido no solo sagrado de um bosque. Além de proporcionar espaço para os seres humanos, a idéia era também criar um ambiente para animais, insetos e espíritos – uma abordagem holística à coexistência com a natureza.

O projeto de restauração do Templo de Vadakunnathan incorpora uma filosofia única. "Como arquitetos, éramos apenas facilitadores do processo", compartilhou Vinod MM Kumar, fundador e arquiteto principal da dd Architects. Seu papel não era impor grandes intervenções, mas auxiliar e organizar os processos existentes. Na Índia, projetos de conservação estão profundamente enraizados em um processo antigo como uma forma de "dar vida". O objetivo não é apenas preservar estruturas, mas infundir vida nelas, um sentimento que se alinha à compreensão holística da natureza.

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Restauração do templo por dd Architects com artesãos. Imagem cortesia de dd Architects

As estruturas indianas, especialmente os edifícios religiosos, são percebidas como seres vivos, com uma força vital própria. A conservação de templos, residências e outros patrimônios envolve rituais que vão além dos elementos tangíveis. Buscar a aprovação de divindades e árvores antes de iniciar o trabalho, além de realizar rituais semelhantes à anestesia para atrair energias para áreas específicas, são aspectos integrantes do processo de conservação.

O Templo Vadakkunnathan é um testemunho dessa prática. Localizado em um ambiente contestado, porém democrático, o processo de conservação do templo permanece acessível a todos. Além do uso para rituais, a comunidade participa ativamente na formação da paisagem urbana em evolução ao redor do templo. Isso transforma o esforço de conservação em uma narrativa compartilhada, preservando a autenticidade e integridade de um monumento vivo.

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Restauração do templo por dd Architects. Imagem cortesia de dd Architects

A Índia enfrenta um delicado equilíbrio entre preservar a tradição e navegar pela rápida modernização. O ambiente construído, onde o antigo e o novo coexistem, reflete essas complexidades. Os desafios na conservação não estão apenas na preservação física, mas também na manutenção da relevância funcional em meio a mudanças nos padrões sociais.

Embora as estruturas religiosas históricas geralmente mantenham significado social, outras arquiteturas, como palácios e edifícios residenciais, lutam para permanecer culturalmente relevantes. A mudança nos padrões sociais, como a configuração familiar, impacta a relevância dessas estruturas nos tempos modernos. No entanto, elas são indispensáveis para a paisagem construída, servindo como elementos cruciais que conectam os cidadãos à sua identidade cultural.

A restauração de um palácio de 300 anos em Kerala feita pela dd Architect demonstra o valor cultural que a arquitetura tradicional incorpora. Com a possibilidade de demolição iminente devido à sua localização valiosa, a estrutura mantinha importância histórica como uma das mais antigas da localidade. A preservação de tais estruturas torna-se sinônimo de preservação da história e da identidade de um lugar. "No mundo unipolar de hoje, compreender a história de um lugar torna-se um aspecto crucial para se conectar com a terra e estabelecer um senso de identidade", observa Kumar.

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Alembic Industrial Heritage and Re-Development / Karan Grover and Associates. Imagem © Esha Daftari, Nilanjan Roy

O patrimônio da Índia é diversificado, variando de estado para estado, e requer uma abordagem diferenciada para a conservação. Um desafio significativo está na escassez de arquitetos e conservacionistas do patrimônio equipados com um profundo conhecimento das culturas regionais e das linguagens de construção. Cada localidade possui patrimônio, cultura e tradições únicas, demandando um conhecimento especializado para uma preservação eficaz.

A necessidade de conhecimento localizado na conservação é acentuada pelo fato de que apenas alguns projetos em cada localidade são preservados de maneira tradicional. À medida que a Índia avança rumo ao futuro, o processo de conservação deve envolver a comunidade e várias partes interessadas, transformando a preservação em um esforço coletivo. "Não se trata apenas de salvar estruturas físicas, trata-se de preservar as histórias, identidades e conexões incorporadas na cultura de cada região", afirma Kumar.

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Hall of Nations / Raj Rewal. Imagem © Panoramas

Os projetos de conservação na Índia transcendem a mera preservação das estruturas. Eles incorporam uma abordagem holística que abraça a tradição, a dinâmica colaborativa e o respeito pela essência viva dos edifícios. Ao olhar para o futuro, é crucial manter a dinâmica observada no passado em direção a projetos de conservação. A preservação do patrimônio não é apenas uma tarefa para arquitetos e especialistas - é uma responsabilidade compartilhada que une comunidades, preserva identidades e garante que o patrimônio cultural da Índia continue a prosperar.

This article is part of an ArchDaily series titled India: Building for Billions, where we discuss the effects of population rise, urbanization, and economic growth on India’s built environment. Through the series, we explore local and international innovations responding to India’s urban growth. We also talk to the architect, builders, and community, seeking to underline their personal experiences. As always, at ArchDaily, we highly appreciate the input of our readers. If you think we should feature a certain project, please submit your suggestions.

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Sobre este autor
Cita: Gattupalli, Ankitha. "Arquitetura de conservação na Índia: cultura e edifícios vivos" [Conservation Architecture in India: Living Buildings and Cultures] 02 Fev 2024. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1012754/arquitetura-de-conservacao-na-india-cultura-e-edificios-vivos> ISSN 0719-8906

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