Como resolver o problema das habitações sociais?

Recentemente os jornais ingleses e o London Evening Standard têm relatado aumentos dramáticos nos preços das residências na capital. Acima de 8% ao ano. Os aluguéis também estão aumentando. Logo, muitos londrinos, especialmente os jovens, não poderão alugar ou comprar uma casa ou um apartamento. Sem dúvida, isso é cada vez mais comum em muitas grandes cidades. Contudo, a Inglaterra ainda está em uma recessão, a pior em quase um século.

Na busca por casas a preços mais acessíveis as pessoas se mudam para locais mais distantes do seu trabalho, especialmente aquelas com baixos salários, e gastam muito do seu salário e seu tempo no deslocamento. O custo da habitação afeta o que comemos e quanto tempo livre temos, afeta a nossa qualidade de vida.

Não se trata de negócio ou propriedade, é algo mais importante, trata-se de um lar. O lar é um refúgio, nosso porto emocional. Na verdade, é um direito humano. Como diz o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: é "o direito de todos a um padrão de vida adequado para si e sua família, incluindo adequada... habitação."

Arquitetos podem ajudar? Sim. Como arquitetos, temos que perguntar o que uma casa realmente é e como ela se encaixa na cidade. Na verdade, a resposta é tão antropológica quanto arquitetônica, é re-pensar a própria casa, na criação, não como propriedade, mas como lar.

Quase um século atrás, o filósofo Inglês Bertrand Russell, em seu ensaio de 1935 "Arquitetura e Questões Sociais", escreveu sobre a única habitação, a família nuclear, o homem assalariado e a mulher dona de casa. Ele descreveu "cada casa como um centro de vida individual, a vida comunitária é representada no escritório, na fábrica." A esposa, isolada em casa nos subúrbios, ocupa-se com tarefas, incapaz de sair para trabalhar, era dependente do marido. Era um mecanismo de controle que afetava sua auto-estima e status.

Bertrand Russell. Image © Wikimedia Commons

Sua solução foi dividir e compartilhar os papéis da dona de casa - cuidar das crianças, fazer compras, cozinhar e limpar - e liberar a mulher para trabalhar. Neste cenário, as habitações seriam comunitárias, reunidas em torno de uma cozinha, berçário, playground e jardins. Claro, os tempos mudaram, e embora o seu raciocínio seja antiquado, a sua proposta, mais em consonância com as políticas ideológicas de esquerda dos anos entre guerras, ainda é relevante.

Hoje, embora a cidade e nossa sociedade tenham mudado, a habitação continua a ser basicamente a mesma. Não estou falando sobre o estilo, nem se é uma casa ou um apartamento. Estou pensando em o que é. Pergunte a um construtor ou um agente imobiliário e eles vão te dizer quantos dormitórios ela tem. Compare com a indústria automobilística. Houve um tempo em que todos podiam comprar um carro grande, potente. Recentemente contribuí com um capítulo do livro The Car in 2035 que, como o título sugere, busca prever como o carro - e a cultura gerada por ele - mudariam nosso modo de vida nos próximos 22 anos. Os "Smarts" da Mercedes e a nova geração do "Mini" da BMW desencadearam uma variedade de "minis" e "micros"

Suburban Sprawl. Image © Flickr CC User Craig L. Patterson

Então, qual é o equivalente arquitetônico? O Pocket de Londres criou uma série de habitações compactas que são vendidas com valor 20% abaixo do preço de mercado. Claramente, o tamanho importa. Suas casas são mais baratas para construir e seus desenvolvimentos ocupam menos espaço. No entanto, a micro-casa volta pelo menos ao ano de 1934, quando o arquiteto Wells Coates concluiu o Edifício Isokon em Hampstead. Este ícone do início do Modernismo combinaava 34 apartamentos, alguns tão pequenos, de 25m², com uma cozinha comum e lavandaria. Os primeiros moradores incluíram ex-membros da Bauhaus Gropius, Breuer e Moholy-Nagy, bem como a escritora Agatha Christie. Outro morador famoso na década de 1960 era o jovem arquiteto James Stirling.

Outro marco arquitetônico de casas compactas surgiu em 1972, pelo arquiteto Kisho Kurokawa, a Nakagin Capsule Tower, em Tóquio. Cada cápsula de 8m² foi pré-fabricada em uma indústria de containers- as fotos da construção mostram elas sendo montadas. Em seu interior, embora não haja nenhuma cozinha, a estética é importantíssima. Cada cápsula inclui um banheiro (vaso sanitário, pia e banheira), geladeira, guarda-roupas, cama, mesa retrátil e uma relativamente grande janela circular. Hoje, como um recente artigo na revista MARK (agosto / setembro 2013) ilustra, o prédio está em mau estado e apenas alguns das 144 cápsulas originais ainda estão ocupadas. Isso pode ter muito a ver com a natureza efêmera da construção e suas deficiências técnicas. Acredito que a filosofia do arquiteto tem, em parte, alguma culpa.

Kurokawa se explicou: "A cápsula se destina a instituir um sistema inteiramente novo de família centrada em indivíduos. A unidade de habitação baseada no casal se desintegra". Se Kurokawa estava sugerindo que a família estava em declínio e a casa de uma única pessoa estava em ascensão, ele estava certo. Mas seu esquema era uma simplificação do problema. As famílias realmente mudaram, menos pessoas se casam, se divorciam mais, existem mais pais e mães solteiras e as pessoas mais velhas sobrevivendo sem seus parceiros. Mas como é que eles realmente querem viver? O que é bom para a nossa saúde, principalmente a nossa saúde mental, na era deslocada da mídia social? A resposta encontra-se no ensaio de Russell e na revolução silenciosa da co-habitação que, como a Nakagin Capsule Tower, data de 1972.

Nakagin Capsule Tower / Kisho Kurokawa. Cortesia de arcspace

Um projeto de co-habitação não poderia ser mais diferente da visão de Kurokawa. Não se trata do individual, mas do grupo. Moradores possuem suas casas, mas compartilham instalações e atividades, tais como parques infantis e jardins. E, já que o espaço é compartilhado, as habitações podem ser menores e mais baratas.

A natureza social e econômica das habitações significa que seu arquiteto deve explorar onde traçar a linha - o limite - entre a casa e os vizinhos, família e cidade. A casa se estende aos espaços comuns - onde comemos, festejamos, lavamos roupas, onde as crianças brincam e se exercitam. E, em uma comunidade inter-geracional, o mais velho pode cuidar do muito jovem. Refeições comunais naturalmente criam padrões sociais para os moradores de todas as idades.

An example of co-housing in Italy. Image © Flickr CC User HousingLab

Esquemas de co-habitação variam em tamanho de 6 a 40 famílias. Grande o suficiente para tornar viável o espaço compartilhado, pequena o suficiente para que os residentes conheçam e confiem uns nos outros. Tende a ser uma casa comum planejada em torno de um espaço polivalente, juntamente com uma cozinha, lavandaria, oficina, sala de jogos infantis, um escritório ou bibliotecas.

Atualmente, estão construindo o Springdale Gardens, um esquema para seis famílias no norte de Londres, com uma sala comum, oficina e lavandaria. O projeto busca uma tipologia espacial que manifeste a idéia de comunalidade em um terreno cercado por casas e jardins. Nosso modelo coloca os serviços no centro do terreno onde estão as instalações comuns e em torno do qual os seis casas estão estabelecidas. É uma comunidade intencional.

Springdale Gardens. Cortesia de Henley Halebrown Rorrison Architects

Há talvez uma ameaça a este modelo emergente. Em 2010, a prefeitura lançou novos padrões mínimos de espaço para habitação. O problema é que as co-habitações podem ser de uma forma sub-padrão, pois a casa se ​​estende para além da habitação. Isto irá inevitavelmente confundir os políticos, em parte, porque os construtores são obrigados a esperar nos bastidores por uma brecha na lei que lhes permita continuar a rebaixar e reduzir as casas para o lucro. Sejam quais forem os riscos, a co-habitação está ganhando força.

Naturalmente, o processo envolve encontrar um grupo de pessoas que estejam de acordo com esta proposta e a busca por um financiamento para o projeto e construção. Entretanto, em um cenário de aumento dos preços das casas e com poucas escolhas no mercado, este modelo permite que as pessoas moldem suas casas e construam uma comunidade dentro de seus orçamentos.

Simon Henley é professor, autor do livro The Architecture of Parking e co-fundador do estúdio londrino Henley Halebrown Rorrison (HHBR). Sua coluna, London Calling, fala sobre a realidade de Londres de todos os dias, a sua cultura arquitetônica e seu papel como um centro arquitetônico global; acima de tudo, a coluna explora como Londres está influenciando projetos em diversos lugares. Você pode seguí-lo no Twitter @SiHenleyHHbR e curtir sua página no Facebook, HHBR Arquitetura.

Mais Informações:

O evento chamado “Cultura + Comércio: Se Eu Tivesse Um Martelo... Nosso "Faça-Você-Mesmo" do Futuro – As co-habitações e auto-construções são a resposta para nossos problemas?” que explora o fenômeno das co-habitações.

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Sobre este autor
Cita: Simon Henley. "Como resolver o problema das habitações sociais?" [London Calling: How to Solve the Housing Crisis] 01 Nov 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Martins, Maria Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-149859/como-resolver-o-problema-das-habitacoes-sociais> ISSN 0719-8906

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