Este artigo foi originalmente publicado no Common Edge.
A aprovação do pacote de mudanças climáticas do governo Biden, a chamada “Lei de Redução da Inflação”, previsivelmente se dividiu em linhas partidárias, com os republicanos caracterizando o projeto como um ato de gastos imprudentes do governo, que certamente aumentará os impostos e alimentará ainda mais a inflação. Mas será que esse ato realmente significa imprudência nos gastos? A legislação autoriza 430 bilhões de dólares em gastos, sendo a maior parte — mais de 300 bilhões de dólares — destinada a créditos fiscais. Outros gastos e iniciativas destinados a estimular a economia de energia limpa e a redução das emissões de carbono. O projeto de lei também permite que o Medicare negocie preços de alguns medicamentos caros com empresas farmacêuticas. O projeto de lei é parcialmente financiado por um imposto mínimo de 15% sobre grandes corporações e um imposto especial de consumo sobre empresas que recompram suas próprias ações. Dado o escopo do problema e os crescentes custos futuros da inação climática, esta legislação é um primeiro passo extremamente modesto, mas muito necessário.
De fato, mais atrasos irão agravar a dor econômica futura. Pode ser por isso que o senador Joe Manchin, de West Virginia, mudou de ideia à medida que os custos de lidar com as inundações em seu próprio estado continuaram aumentando e, preocupado com o futuro de muitas cidades dos Apalaches, permitiu a aprovação da legislação. Esperemos que seja o início da percepção de que a maior ameaça financeira de nossa nação não são o déficit orçamentário, a inflação descontrolada, a queda na produtividade ou os gastos governamentais fora de controle, mas sim o custo iminente e em rápida escalada das mudanças climáticas. Parafraseando os notáveis schlock-rockers Bachman-Turner Overdrive, "você ainda não viu nada!"
Para abordar os custos explosivos relacionados ao clima, podemos olhar para o estado natal de Steven, Louisiana, o famoso canário na mina de carvão (canary in the coal mine). Após os danos devastadores do furacão Katrina, os impactos financeiros foram ficando tão graves que os legisladores foram forçados a consolidar todo o planejamento e orçamento das mudanças climáticas sob uma única Autoridade de Proteção e Restauração Costeira (Coastal Protection and Restoration Authority - CPRA), encarregada de identificar as estratégias de restauração nas áreas costeira mais críticas em um Plano Diretor Costeiro abrangente que agora é atualizado a cada cinco anos. Até hoje, mais de 60 milhas de ilhas-barreira e encostas foram construídas, 365 milhas de diques melhorados e 55.000 acres de pântanos revividos. No futuro, o CPRA está programado para gastar 1 bilhão de dólares todos os anos em projetos de mitigação, com a expectativa de que o programa continue com o mesmo custo (ou mais) por pelo menos mais 50 anos. Para o ameaçado estado da Louisiana, esse não é um gasto opcional.
Além desses caros programas governamentais, encargos financeiros adicionais recaíram sobre o setor privado. Quatro grandes companhias de seguros e várias menores declararam falência desde o furacão Ida, e outras decidiram passar o fardo adiante para os segurados existentes ou deixar o estado após a aceleração das taxas de risco associadas a danos causados por tempestades. Essas falhas do setor privado há muito são apoiadas por programas de seguro federais e estaduais, mas agora estes programas estão atingindo os limites de sua eficácia política, levando muitos cidadãos à falência pessoal e à uma dolorosa migração para terrenos mais elevados (ou para fora do estado).
Mas a Louisiana não está sozinha. Os custosos impactos de inundações, incêndios florestais e, talvez o mais implacável de todos os desafios ambientais, a seca, estão cobrando seu preço em áreas cada vez maiores do país. Por exemplo, mais da metade do Texas está passando por uma seca extrema e, de acordo com drought.gov, este ano será o sexto ano mais seco nos últimos 128 anos. Enquanto isso, é agosto e as águas do Golfo estão se aquecendo. Houston, Galveston e outras cidades costeiras vulneráveis estão se preparando mais uma vez para outra temporada de tempestades ativa. (Observe que o preço da reconstrução de Nova Orleans e Houston, após os furacões Katrina e Harvey, foi de mais de 250 bilhões de dólares, ou mais da metade do custo da conta climática, por apenas duas tempestades).
As recentes inundações do Mississippi e Kentucky também são casos trágicos. Um novo estudo do SafeHome.org as classifica como o quinto e nono piores eventos graves relacionados às mudanças climáticas. Dos cinco fatores de risco medidos – calor extremo, seca, enchentes, incêndios florestais e inundações costeiras – o Kentucky é vulnerável a quatro. A Climate Central descobriu que 3,37% da população de Kentucky está vulnerável ao calor extremo, outros 3,6% estão em risco de enchentes e mais de um terço está em risco de incêndios florestais. Até meados do século, Kentucky passará quase dois mil dias de calor perigoso (um a cada cinco dias), um aumento de 95% na seca de verão e mais duas semanas em risco de incêndios florestais. Em que momento vamos começar a planejar e, sim, gastar para mitigar essas certezas quase certas? É importante mencionar que dois de nossos estados mais populosos, Califórnia e Flórida, enfrentam ameaças climáticas ainda mais graves, com custos potenciais exponencialmente maiores do que os de Kentucky.
Nos EUA, cerca de 162 milhões de pessoas – quase uma em cada duas – provavelmente sofrerão uma queda na qualidade de seu ambiente, ou seja, mais calor e menos água. Para 93 milhões deles, as mudanças podem ser particularmente severas e, em 2070, se as emissões de carbono aumentarem em níveis extremos, pelo menos 4 milhões de americanos poderão se encontrar vivendo à margem, em lugares decididamente fora do nicho ideal para habitação humana. E para aqueles que pensam em fugir para os poucos oásis restantes da mudança climática, pode ser útil imaginar o grande número de refugiados privilegiados que também estão vislumbrando a mesma solução.
À medida que os impactos das mudanças climáticas continuam a acelerar, fatores como a migração humana trarão ainda mais desafios sociais e econômicos. As comunidades afetadas primeiro, e mais duramente, são geralmente aquelas que têm acesso a menos recursos. Na década de 1930, a migração do Dust Bowl matou mais de 7.000 agricultores, deixou 2 milhões de pessoas desabrigadas e reduziu drasticamente a produção agrícola do país. Se o nível do mar continuar a subir conforme o esperado e a seca no oeste persistir, veremos disrupturas semelhantes, se não mais graves, em nosso futuro.
Este é apenas o começo de um futuro que deixará nossos filhos e netos pagando muitos trilhões por mitigação e restauração ambiental, devido apenas ao fracasso total de nossa geração atual em planejar esses custos iminentes. E enquanto nossos líderes políticos estão negociando o que os críticos chamam de leis “boa de ter” ou “que gostaria de ter”, que os leva ao próximo ciclo eleitoral, é importante entender que os custos “obrigatórios” das mudanças climáticas será muito menos indulgente.
Muros marítimos, cidades flutuantes, instalações de captura de carbono, infraestrutura de água potável, moradias permanentes e temporárias para acomodar deslocamentos populacionais, usinas de dessalinização renováveis, centros de resfriamento, uma rede nacional de energia verde — todos esses “must haves” e outros imprevistos exigirão gastos do governo que superam o pacote que o Congresso está prestes a aprovar. Gastamos cerca de 6,5 trilhões de dólares em guerras no Oriente Médio. É provável que os custos das mudanças climáticas excedam isso. É hora de ambos os partidos políticos aceitarem essa realidade. Planejar é sempre uma boa ideia, mas ainda melhor quando o fazemos com antecedência.