A relação da arquitetura com os mais diversos suportes de representação, reprodução e publicização não é uma novidade. Desenhos, plantas e fotografias veiculados em livros, revistas e jornais, historicamente, fizeram parte e acompanharam, de algum modo, a trajetória da profissão. Na última década, com a popularização das redes sociais, sobretudo aquelas que têm na imagem o seu principal foco de comunicação, essas plataformas passaram a ser usufruídas de muitas maneiras pelos arquitetos e incorporadas de diversas formas em suas práticas profissionais. Mas, se por um lado elas podem ser capazes de produzir e popularizar uma série de conteúdos e alcançar diversos públicos, por outro lado, na era do engajamento, a arquitetura pode se tornar refém de sua própria representação?
A arquiteta e historiadora Beatriz Colomina, em Privacy and Publicity: Modern Architecture as Mass Media, defende a existência de um conexão fundamental entre a arquitetura moderna e os meios de comunicação em massa, argumentando que a modernidade arquitetônica estaria essencialmente ligada a essa associação, sobretudo a partir do uso de novas tecnologias que surgiram no período. Livros, jornais, revistas, filmes, exposições e propagandas foram responsáveis por criar e divulgar uma infinidade de imagens, notadamente fotográficas, de edificações de tipologias variadas construídas à época, constituindo-se como elementos fundamentais para a sua popularização e disseminação. Estava lançada, de certa forma, um novo tipo de comunicação para a profissão, e a partir daí, a arquitetura caminhou junto à publicidade e outros meios que surgiram e que possibilitaram sua circulação.
Com o surgimento das redes sociais, o que poderia ser mais um suporte de exposição e publicização de imagens e projetos de arquitetura, tal qual eles costumavam aparecer em outras plataformas, parece vir modificando uma série de outros aspectos da profissão. Elas passaram a englobar outras atividades e fazer parte, de maneira quase obrigatória, da atuação profissional atual, inclusive no que diz respeito às suas demandas e horas de trabalho. Em sua visibilidade, com seus milhões de usuários e acessos diários, as redes sociais permitem que o arquiteto possa atrair e alcançar um público amplo e heterogêneo, sendo capazes de promover a popularização e o acesso a diversos conteúdos. Processos de criação e representação gráfica, acompanhamento de obras e escolhas de materiais são alguns dos assuntos compartilhados diariamente por diversos perfis da área, revelando o cotidiano de muitos profissionais. Muitas vezes, o próprio público, ou seguidores, também pode emitir opiniões e interagir ao longo do desenvolvimento de um projeto, por meio de diversas ferramentas disponíveis nos aplicativos como, por exemplo, testes, enquetes e perguntas.
Dentro dessa dinâmica, o processo arquitetônico e desenvolvimento construtivo são expostos através de muitas lentes, em aspectos, etapas e temporalidades íntimas e distintas, que dão a ver muito além das fotografias eternizadas como "oficiais" de um projeto, como as produzidas e registradas para as mídias especializadas. Nesse sentido, é interessante pensar que as redes sociais, de certo modo, vêm criando um outro modo de exposição, interação, consumo e, inevitavelmente, de representação da arquitetura. Aplicativos como o Instagram e o TikTok, altamente populares, permitem não somente a divulgação de conteúdos estáticos, como por exemplo as fotografias, mas também funcionam enquanto plataformas que viabilizam a elaboração, e consequente publicização, de uma série de outras criações e formatos, que mesclam recursos como desenhos, vídeos e músicas, que podem lançar um novo olhar sobre as possibilidades de representação e divulgação de uma obra construída, de um projeto, ou de seu desenvolvimento.
No entanto, ao inserir-se nas dinâmicas típicas das redes sociais, a arquitetura também precisa lidar com características próprias de seu modo operacional. Muitas dessas plataformas são regidas a partir de métricas e análises rigorosas, que expõem em seus gráficos e números o grau de alcance, interação e aprovação dos conteúdos publicados: o famigerado engajamento. E é em busca dele que, muitas vezes, o que poderia constituir-se enquanto nova possibilidade criativa e interativa, para enriquecer o campo em diversos aspectos, acaba por enfraquecer-se e enrijecer-se dentro de seus próprios parâmetros.
Numa velocidade — e necessidade — de publicações vertiginosas, que em nada se assemelha ao bom desenvolvimento de um projeto arquitetônico, as redes sociais demandam uma produção quase irrefreada, selecionam o que divulgam e constantemente prezam mais pela quantidade do que pela qualidade. Na ditadura do engajamento, publicações feitas a partir de padrões prontos e repetidos, postadas em horários determinados e produzidas com os modelos de imagem, filtro e áudio que porventura estejam em alta, acabam gerando uma quantidade desenfreada de conteúdos que, muitas vezes, nada têm a acrescentar. A própria lógica da plataforma, ao favorecer e aumentar a divulgação desses padrões, acaba gerando uma redução na diversidade dos conteúdos e em suas pluralidades criativas, ocasionando sua própria repetição.
Em meio a tantas transformações em curso e em tantos aspectos, é preciso estar atento às dinâmicas das redes sociais e sua relação com a profissão, em seus benefícios e perigos. Sabemos apenas que a arquitetura, de qualquer forma que venha a ser representada ou divulgada, nunca será totalmente captada ou reduzida por nenhuma delas. Muito além de qualquer representação ou plataforma, a arquitetura sempre esteve, está e estará, realística e essencialmente, em sua vivência cotidiana, num eterno processo de construção e reelaboração de seus espaços, a partir de seus usos, afetos e apropriações.
Referências bibliográficas:
- COLOMINA, Beatriz. Privacy and Publicity: Modern Architecture as Mass Media. Cambridge: The MIT Press, 1994.
- FONTCUBERTA, Joan. La furia de las imágenes: Notas sobre la postfotografía. Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2017.