"Edifícios têm que ser para as pessoas se sentirem bem": entrevista com Tomás Salgado do ateliê Risco

No País dos Arquitectos é um podcast criado por Sara Nunes, responsável também pela produtora de filmes de arquitetura Building Pictures, que tem como objetivo conhecer os profissionais, os projetos e as histórias por trás da arquitetura portuguesa contemporânea de referência. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, Portugal é um país muito instigante em relação a este campo profissional, e sua produção arquitetônica não faz jus à escala populacional ou territorial.

Neste episódio da quarta temporada, Sara conversa com Tomás Salgado, do ateliê Risco, sobre a Cidade do Futebol, um equipamento da Federação Portuguesa de Futebol. Ouça a conversa e leia parte da entrevista a seguir.

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Sara Nunes - Este episódio será lançado no dia a seguir aos resultados do Mundial de Futebol, do qual infelizmente já fomos eliminados. E hoje, curiosamente, vamos falar de futebol. Este não é o primeiro edifício que o atelier Risco desenhou para uma estrutura desportiva ligada ao futebol. E eu devo confessar que moro praticamente a 300 metros do Estádio do Dragão e de muitos outros edifícios que vocês desenharam, nomeadamente o Plano Urbano para a zona das Antas. Com esta experiência a fazer edifícios ligados ao desporto e edifícios ligados ao futebol, primeiro perguntava-lhe se gosta de futebol, Tomás?

Tomás Salgado - Gosto de futebol. Não sou fanático. Sou um benfiquista razoavelmente devoto, mas em alguns momentos um pouco distante.

SN - Foi difícil para um benfiquista devoto fazer o Estádio do Dragão?

TS - Não, não foi nada difícil porque fomos super bem tratados. O Porto sempre percebeu o que é que a arquitectura poderia aportar ao projecto do Estádio e sempre nos tratou muito bem e sempre percebeu muito bem aquilo que eram as nossas preocupações, as mais arquitectónicas, digamos assim. Portanto, foi bastante fácil.

SN - E o que é que aprendeu sobre o futebol ao longo destes anos a trabalhar com o futebol?

TS - Aprendi muita coisa técnica essencialmente, muita coisa relacionada com o funcionamento destas máquinas porque aquilo na realidade são máquinas e são máquinas que têm de servir jogadores e equipas que valem muitos milhões de euros. Por outro lado, também aprendi que o futebol tem uns timings muito próprios e que às vezes...

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SN - Em que sentido?

TS - No sentido em que os projectos ligados ao futebol invariavelmente têm de cumprir uma espécie de datas-chave com um determinado significado. Quer dizer, no caso do Estádio do Dragão era mais ou menos evidente... era o Euro 2004. Aí não havia grande história, mas nos projectos que fizemos para a Federação Portuguesa de Futebol houve sempre uma marcação de uma determinada data para a inauguração do edifício quando ainda estávamos bem longe de ter a obra pronta e que tinha sempre muito a ver com essa importância do significado da data. E isso é mais ou menos uma constante nos projectos para o futebol. Há sempre esta ideia de que temos de fazer isto a correr porque temos de inaugurar no dia tal... porque o dia tal representa qualquer coisa muito importante. Isso é uma constante e é uma grande pressão sempre esse tipo de datas de inauguração.

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SN - É engraçado falar dessa pressão, mas até comparando com outros edifícios e convidados que tivemos no podcast... normalmente queixam-se exactamente do contrário. Ou seja, queixam-se que os projectos demoram muito tempo, demoram muitos anos até que sejam prontos. Aqui vejo que se calhar foi exactamente o contrário. Houve um grande desafio por haver mais pressa para o edifício estar concluído, não é?

TS - É. Nós temos de tudo. Devo dizer que nós aqui no atelier também temos esses projectos que se arrastam décadas. Agora mesmo estamos a acompanhar uma obra que eu lhe referi antes desta conversa no Convento do Beato. Foi um projecto que começámos em 2008. Estamos em 2022 e a obra não está pronta.

SN - Esse já faz parte da vossa vida.

TS - Sim, mas eu acho que a nossa vida tem estas duas situações. De facto, ambos os projectos...

SN - Essas duas velocidades.

TS - Essas duas velocidades. É isso mesmo.

SN - Agora que falava em datas... uma coisa que eu achei muito curiosa na minha pesquisa... espero que esteja correcta, mas o Tomás vai-me corrigir se eu não estiver correcta... é que o edifício inaugurou antes de começar o Euro 2016. Ou seja, eles puderam estagiar na Cidade do Futebol antes de irem para o Euro 2016, que Portugal ganhou, é verdade?

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TS - É verdade. E essa era exactamente a grande pressão que existia quando fizemos o projecto do edifício é que tinha de estar aberto e a obra tinha de estar terminada nessa data para fazer esse estágio. Não podia atrasar três meses... um mês que fosse de atraso comprometia o objectivo do estágio da selecção. Portanto, não houve folga nenhuma. Foi uma correria do primeiro ao último minuto.

SN - O Tomás sente-se responsável por a equipa portuguesa ter ganho? Ou seja, será que a arquitectura teve também impacto na performance dos jogadores? A arquitectura pode ter impacto na performance desportiva?

TS - Eu acho que sim, mas acho que é integrada numa questão muito mais vasta. Ou seja, eu acho que é fácil perceber quando se olha para os últimos 15 anos do futebol português... percebe-se uma enorme evolução que houve em termos de estruturas de gestão, não é? Quer dizer, se visitarmos, por exemplo, hoje em dia o Centro de Estágio do Benfica... eu fui lá, há pouco tempo, por causa de um projecto que temos a possibilidade de talvez vir a fazer, no Brasil, que tem a ver com um Centro de Treino para as camadas jovens de um clube. Portanto, estive a visitar o Centro de Estágio do Benfica e fiquei muito impressionado com a conversa que tive com psicólogos, nutricionistas, professores, treinadores... Houve esse salto enorme... e na Federação, em concreto... Quer dizer, se nós nos lembrarmos o que era a Federação quando estava ali no Largo do Rato ou, ainda antes, na Praça da Alegria num edifício decrépito – com estruturas como aquelas que nós nos lembramos de haver nos anos 80, quando íamos tirar o Cartão de Cidadão ou quando íamos àqueles serviços públicos já muito obsoletos – é fácil perceber que, de facto, a Federação deu um salto enorme. E a Cidade do Futebol faz parte de um conjunto de investimentos. Portanto, tudo isto, eu acho que gerou um enquadramento totalmente diferente para a selecção nacional e, nesse sentido, sim, a arquitectura acho que foi mais um dos elementos que contribuiu para essa boa performance. Acredito que sim.

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Ouça a entrevista completa aqui e reveja, também, a terceira temporada do podcast No País dos Arquitectos:

Nota do editor: A transcrição da entrevista foi disponibilizada por Sara Nunes e Melanie Alves e segue o antigo acordo ortográfico de Portugal.

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Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. ""Edifícios têm que ser para as pessoas se sentirem bem": entrevista com Tomás Salgado do ateliê Risco" 15 Jan 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/994575/edificios-tem-que-ser-para-as-pessoas-se-sentirem-bem-entrevista-com-tomas-salgado-do-atelie-risco> ISSN 0719-8906

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