Quando falamos de produção social, tratamos dos processos em que os líderes das comunidades são adultos que representam e tomam as decisões por sua comunidade; mas deixamos de fora as crianças que também se apropriam e vivem em seus espaços. Quem têm imaginação e criatividade ilimitadas, que criam cenários em Marte em uma quadra de basquete. Quem têm as melhores corridas de carros na areia espalhada de seu quintal. Meninos e meninas que, por diferentes circunstâncias familiares ou econômicas, não podem escrever uma carta, mas conseguem dizer o que sentem e querem nas entrelinhas.
As crianças ajudam a reunir a comunidade sem se darem conta. Quando arquitetos, arquitetas, engenheiros, engenheiras ou profissionais em treinamento chegam a suas casas, as crianças são os primeiros a correr para ver o que está acontecendo. No início, eles podem se sentir envergonhados e constrangidos ou simplesmente ouvir os adultos falar, mas com o passar do tempo vão ganhando confiança e participam brincando.
Com sua forma simples e mágica de ver sua comunidade, eles escrevem como seria seu lugar especial e convidam seus amigos a participar porque para eles é tudo um jogo. Como esponjas, eles querem absorver tudo dessas pessoas que chegam, e sem hesitar começam a questionar com sua natureza de maravilha e dúvida: para que servem essas ferramentas, para que cada coisa será usada? Se a equipe de técnicos pede algo, as crianças respondem com muita confiança onde podem conseguir o que precisam e sem hesitação comprometem suas mães e seus pais a ajudar.
Elas são atraídas pelo ensino de novas técnicas de construção como a terra, já que as crianças são mais dinâmicas e didáticas. O simples fato de brincar com a terra atrai sua atenção, em vez de simplesmente ver como as outras pessoas o fazem, elas querem experimentar. As crianças estão apenas esperando por um convite para entrar em ação e começar a jogar como aqueles adultos fazem com pás e picaretas.
Elas vêem as práticas de construção como um jogo, então se ouvem que um dos "arquis" (arquitetos) está pedindo água, sem hesitação os convidam para sua casa para que sua mãe possa conhecê-los. Elas também costumam contar no caminho sobre as aventuras que tiveram ou as histórias contadas por seus pais ou avós; e é aqui que a pessoa que as acompanha deve implementar sua escuta ativa. É nas histórias em que elas podem imaginar a simples dinâmica ou atividades que os adultos decidiram omitir por não acharem necessário.
Quando são oferecidas oficinas para ensinar novas técnicas do que já foi discutido coletivamente, estas crianças, estando imersas no jogo de ser o arquiteto ou engenheiro que chegou, assumem o bastão e ensinam aos pais como as coisas devem ser feitas ou qual metodologia eles adaptaram para melhorar a elaboração de um bloco de terra. Elas também aprendem a identificar qual solo funciona, se falta água ou um agregado nas misturas; elas são tão ativas que agora corrigem os técnicos se eles se esquecem de um passo.
É muito importante envolver as crianças em todo o processo, pois elas também contribuem para a melhorar os seus habitats, o que podemos ignorar se acreditarmos que a resposta está unicamente em nós, os adultos.
Elas vêem seu contexto de maneira diferente e são elas que amanhã terão as bases para administrar e construir uma comunidade com direito à vida digna que merece. Para tornar realidade a utopia em que muitos de nós acreditamos.
Este artigo é parte de uma colaboração com o site coolhuntermx e foi publicado originalmente sob o título ""La niñez: grandes actorxs de la producción social del hábitat"
