Expansão urbana e cidades fantasmas: o impacto da mineração no ambiente construído

Muitas das cidades que conhecemos hoje, não apenas foram fundadas a séculos mas cresceram e floresceram devido a uma série de diferentes razões. Alguns dos mais importantes assentamentos humanos e urbanos se desenvolveram devido à sua proximidade com a água, como no o caso de Dar es Salaam, atualmente uma das mais importantes cidades portuárias da África Oriental. Outras famosas capitais do mundo foram planejadas e construídas do zero muito mais recentemente, como no caso do Brasil e também da Nigéria. Existem ainda cidades e até regiões criadas para servir a um determinado setor da economia ou industria, como é o caso do Vale do Silício, no estado americano da Califórnia. Entre a infinidade de distintas razões que podem provocar o surgimento ou o desenvolvimento de uma determinada cidade, existe uma que no entanto, foi capaz não apenas de criá-las da noite para o dia, mas também de destruí-las em um curto espaço de tempo.

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A descoberta de um mineral precioso na superfície ou nas profundezas da terra têm sido, historicamente, uma das principais razões pelas quais cidades foram fundadas, floresceram e desapareceram em um breve período de tempo. A atividade mineradora, portanto, parece operar como uma faca de dois gumes. Nos Estados Unidos, podemos encontrar um grande número dessas cidades, a maioria delas tendo sido fundada ao longo dos séculos XIX e XX, à medida que o país passava pela Corrida do Ouro—uma descoberta que provocou um intenso processo migratório, principalmente de homens jovens e solteiros em busca de fortuna.

Décadas depois, muitas das cidades que haviam surgido durante os fartos anos dourados, foram completamente abandonadas após o esgotamento das jazidas ou devido também aos desastres naturais provocados por uma atividade predatória e precária. A cidade de Berlim, no estado americano de Nevada, é um ótimo exemplo da má fortuna das cidades fundadas por corporações. Estabelecida no final do século XIX, a Berlim americana foi um importante centro de mineração de prata na época, uma comunidade que beirava os 250 habitantes, entre eles mineiros, lenhadores e um médico. O posterior abandono de Berlim nos mostra como as corporações exploravam a terra até esgotar seus últimos recursos naturais e humanos, já que um dos principais motivos pela derrocada e abandono da cidade foi uma greve iniciada pelos mineiros no ano de 1907. Acontece que as demandas dos trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho não foram atendidas pela empresa, e aquilo que deveria ser apenas uma greve momentânea se transformou e um êxodo em massa e a consequente ruína da cidade.

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Cidade Fantasma de Berlin, Nevada. Imagem © SofieLayla Thal via Pixabay

Outras cidades fantasmas americanas, como Independence e Carson, foram abandonadas devido a catástrofes naturais, tendo sido esta última, por exemplo, abandonada devido ao frio insuportável dos longos meses de inverno. A queda das cidades pós-industriais na Europa Oriental é um tema já vastamente documentado e explorado. A cidade de Vorkuta, construída junto a uma das maiores minas de carvão da antiga União Soviética, é hoje uma das cidades que mais rapidamente está desaparecendo ou encolhendo, contrastando fortemente com a vibrante cidade que era na década de 1980.

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Mina Mirny, Sakha Republic, Rússia. Imagem © Alexander Veryovkin for Zupagrafika

No entanto, esta não é uma regra sem exceções e nem todas as cidades mineradoras acabam sucumbindo, sendo abandonadas ou esquecidas. Muitas das grandes metrópoles do mundo hoje, em algum momento de sua vasta história, tiveram relações diretas com algum tipo de atividade de mineração. A história da cidade de Joanesburgo, na África do Sul, está profundamente conectada com a descoberta de ouro em seu território. Paralelamente à corrida do ouro nos Estados Unidos, ocorreu um fenômeno bastante semelhante na África do Sul chamado de “a corrida do ouro de Witwatersrand”, que no final do século XIX transformou completamente a paisagem urbana da então incipiente cidade de Joanesburgo. Em apenas 10 anos a cidade cresceu e se desenvolveu de forma nunca antes vista no país e 30 anos depois da descoberta do ouro, Joanesburgo já era a maior cidade da África do Sul.

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Mina abandonada, Johannesburg. Imagem © Mark Lewis

Economicamente, Joanesburgo não sofreu tanto como outras cidades fundadas na época da corrida do ouro na África do Sul. No entanto, a transformação de Joanesburgo em uma nova metrópole baseada em práticas exploratórias desiguais, provocaram a marginalização das populações nativas africanas, induzindo um aumento substancial nos assentamentos informais espalhados pela cidade.

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© Flickr User sea turtle under the (CC BY-NC-ND 2.0) license.

Neste contexto, as minas de ouro abandonadas na periferia da cidade de Joanesburgo foram transformadas em bairros ocupados principalmente por famílias de baixa renda. A atividade extrativa predatória na cidade de Joanesburgo provocou uma série de danos ambientais irreversíveis e que ainda hoje permanecem presentes na paisagem urbana de Joanesburgo. Este ambiente urbano degradado, por sua vez, é um prato cheio para a precariedade da vida cotidiana de muitas famílias de toda a cidade.

Recentemente muito tem se falado sobre as práticas de mineração antiéticas que ainda hoje são uma realidade em diversos países ao redor do mundo. Dito isso, é imperativo melhor compreender de que maneira os assentamentos humanos foram estabelecidos ao redor de uma indústria extrativista como a mineração, para que possamos então cobrar uma abordagem distinta das cidades corporativas do presente e do futuro.

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Sobre este autor
Cita: Maganga, Matthew. "Expansão urbana e cidades fantasmas: o impacto da mineração no ambiente construído" [Urban Sprawl and Ghost Towns: The Impact of Mining on Cities] 11 Nov 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/970251/expansao-urbana-e-cidades-fantasmas-o-impacto-da-mineracao-no-ambiente-construido> ISSN 0719-8906

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