Casa da Arquitectura inaugura exposição sobre a história de Portugal nas Bienais de Veneza

A Casa da Arquitectura inaugura no dia 8 de maio a exposição Radar Veneza – Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021, que propõe uma análise crítica das muitas formas como o Portugal democrático expôs e se expôs na mais prestigiada Bienal de Arquitetura do mundo.

Com curadoria de Joaquim Moreno e Alexandra Areia, Radar Veneza revela os objetos que fizeram parte de cada participação portuguesa e discute o próprio conceito de “representação” nacional e/ou oficial. A documentação relativa a cada edição é complementada por informações de carácter político-social, ao mesmo tempo que se valoriza a memória oral associada à construção da participação portuguesa. 

A mostra contribui também para a definição de uma cronologia, que estava por fazer, da participação, oficial ou não, da arquitetura portuguesa na Bienal de Veneza. Ao mesmo tempo que estabelece uma história da representação de Portugal, valoriza a qualidade e diversidade da obra dos arquitetos portugueses, reconhecidas em todo o mundo.

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Instalação / Installation Metaflux, 2004. Imagem: Adriana Freire

Leia o texto curatorial, a seguir:

O radar é uma arma invisível que torna as coisas visíveis porque converte objectos ou inimigos que não querem ser vistos ou sequer medidos em transmissores involuntários e compulsivos. – Friedrich Kittler (1999)

Radar Veneza

O radar obriga os objetos que estavam invisíveis a transmitir a sua posição. Capta em eco as posições relativas de atores que talvez preferissem permanecer em silêncio. Esta imagem tão nítida de uma máquina de tornar visível todo um campo de batalha é um eco da reflexão de Paul Virilio sobre Guerra e Cinema (1983). Segundo ele, a conversão do sinal de radar em imagem de radar desdobra a perspetiva do guerreiro em duas imagens sobrepostas do campo de batalha: a ocular e a eletrónica: a visão da proximidade e a visão para lá do visível, a tele-visão. Dizer “Radar Veneza” é deslocar esta maneira de imaginar, de tornar imagem, para outro campo e para outras batalhas e também a possibilidade de escutar outros ecos. Acrescentar uma janela temporal 1975-2021, é a oportunidade de sobrepor ao ciclo alargado da presença autónoma da arquitetura na Bienal de Veneza a representação cultural da arquitetura de um Portugal democrático. A difícil contradição deste mecanismo é a sua dificuldade de memorização, porque cada novo eco, por mais longínquo que seja, apaga o anterior; porque os combates importantes são sempre os do presente e as urgências do agora estão continuamente a ser atualizadas, ou, em linguagem de imagens eletrónicas, refrescadas. Dizer “Radar Veneza 1975-2021” permite imaginar e investigar novas perspetivas e reflexos desconhecidos, produzir imagens-memória destes campos de reverberações e colocá- las lado a lado numa acumulação de presentes sucessivos, num bairro Veneza que encena uma paisagem através de todos estes presentes.

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Capa do jornal homeland, news from Portugal #3, 2014. Imagem: Rafaela Bernardo

Os Arquitetos Portugueses e a Bienal

Como o ciclo histórico da democracia portuguesa que observa, também este mecanismo promove a transparência das posições e dos vetores de movimento dos arquitetos portugueses, registando-os de forma autónoma através dos seus ecos involuntários. A tele-visão para lá do horizonte português deste radar, o contra-campo do olhar da Bienal para os arquitetos portugueses, complementa o campo das representações nacionais que constitui o núcleo documental original que a DGARTES depositou na Casa da Arquitectura. Constrói-se assim um duplo eco: por um lado o eco das transformações da Bienal de Veneza e da atenção que esta dá aos arquitetos portugueses e por outros o eco dos mecanismos de representação que Portugal ativa para se fazer representar, que começaram para uns em 2002 e para outros em 2004, e de toda a complexa narrativa do que aconteceu antes e ao redor destas representações.

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Vista interior / Interior view Two Monumental Heads, Pancho Guedes, 1975. Imagem: Pancho Guedes

A investigação organiza-se em três planos: a cronologia — o registo de todas as cintilações do radar —, a história oral — o dar a palavra aos protagonistas dos eventos — e o bairro Veneza — campo de desenhos levantados das arquiteturas que se sucederam em Veneza. A cronologia colaborativa é o horizonte de todo o trabalho, o registo estruturante e aberto de uma história que começa a ser significante e pode informar os desafios do incerto futuro que imaginamos a partir deste presente confuso. O gesto da escuta, a atenção às vozes que testemunharam e protagonizaram esta história e as surpresas que surgem do diálogo e da rememoração, acumulam-se na história oral entretanto depositada na Casa da Arquitectura e da qual se dá apenas uma amostra editada. Para memória futura, as representações portuguesas e as instalações que os arquitetos portugueses foram convidados a construir na Bienal foram levantadas e desenhadas à mesma escala, num sistema de planos rebatidos que permite levantar e armar as suas superfícies e as suas formas. Desenhos levantados que articulam as perspetivas e as vizinhanças que o tempo proibiu e que depois se planificam outra vez para morar todos juntos no arquivo de todos estes presentes.

Joaquim Moreno e Alexandra Areia
Curadores

A exposição Radar Veneza – Arquitetos Portugueses na Bienal 1975-2021 ocorre na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, entre 8 de maio e 10 de outubro de 2021. Para mais informações, acesse a página do Centro Português de Arquitectura.

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Sobre este autor
Cita: Equipe ArchDaily Brasil. "Casa da Arquitectura inaugura exposição sobre a história de Portugal nas Bienais de Veneza" 07 Mai 2021. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/961254/casa-da-arquitectura-inaugura-exposicao-sobre-a-historia-de-portugal-nas-bienais-de-veneza> ISSN 0719-8906

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