Dormitórios infantis: como projetar um ambiente saudável para o sono

Muitos fatores influenciam no bem-estar das pessoas, mas poucos tem um poder tão grande quanto a qualidade do sono. Adultos passam, em média, um terço de seu dia (e de sua vida) dormindo. No caso das crianças pequenas essa proporção é ainda maior. De acordo com um estudo publicado pela OMS em 2019, bebês (de 4 a 11 meses) devem dormir entre 12 e 16 horas/dia; e crianças até 4 anos devem dormir entre 10 e 13 horas/dia.

Um sono de qualidade atua diretamente no desenvolvimento cerebral da criança, principalmente durante sua primeira e segunda infância (do nascimento até os 12 anos). Durante o período de descanso o corpo libera os hormônios necessários para o crescimento e aprendizado, e isso relaciona-se diretamente ao desenvolvimento físico, motor, emocional e cognitivo. É sabido também que o ambiente onde se dorme interfere na qualidade desse sono, e alguns aspectos importantes devem ser considerados na hora de projetar espaços de dormir para crianças e bebês.

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Apartamento AMRA7 / Piratininga Arquitetos Associados + Bruno Rossi Arquitetos. Image © Nelson Kon

Temperatura

Em qualquer faixa etária, sentir frio ou calor ao dormir faz com que a pessoa desperte antes de ter completado o ciclo de sono devido. Proporcionar temperaturas adequadas (entre 18ºC e 20ºC) é fundamental. Neste ponto, assegurar que a ventilação do ar esteja sendo feita de forma mais adequada é bastante desejável.

Regular a temperatura do ambiente interno ao clima pode ser um desafio. Sempre que possível, a ventilação natural é a mais interessante. Mas é possível valer-se da tecnologia: para as estações do ano (ou regiões do país) mais quentes, pode-se considerar o uso de ar-condicionado ou ventiladores, preferencialmente no teto pois são mais seguros; no caso de períodos (ou regiões) com o clima frio, além de certificar que as aberturas estejam devidamente vedadas, e de utilizar itens como tapetes, mantas e roupas de cama, também pode ser aconselhável utilizar aquecedores elétricos, ou tecnologias ainda mais avançadas como sistema de aquecimento de piso e calefatores. 

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Apartamento Painel Azul / MAB3 Arquitetura. Image © Mariana Orsi

Claridade

Durante a noite, recomenda-se que o quarto esteja o mais escuro possível para não prejudicar a produção do hormônio do sono (a melatonina). Um bom aliado neste aspecto é a cortina tipo blackout. Suas opções mais comuns no mercado são as feitas com PVC (que bloqueia 100% da luminosidade); e a que é feita com tecido 100% poliéster (capaz de bloquear em torno de 80% da luminosidade). É comum que esse tipo de cortina seja utilizado em conjunto com outro tipo, normalmente de tecido mais fino, como o voil, por exemplo.

Sobre a iluminação artificial, uma boa estratégia é manter uma iluminação central, direta e dimerizada, para que os níveis de iluminância sejam ajustáveis (na hora da troca de fralda noturna, por exemplo, é interessante que a iluminação seja boa o suficiente para que o cuidador faça a higiene com precisão, mas ao mesmo tempo, que seja escura o bastante para não despertar a criança completamente). Outra boa opção é incluir pontos de iluminação indireta. Pode estar em nichos, em abajures, ou com fibra óptica aplicada no gesso, criando efeito de céu estrelado, por exemplo.

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Apartamento Vitra Cambui / Bohrer Arquitetura. Image © Favaro Jr.
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Hospital Infantil EKH / IF (Integrated Field). Image © Ketsiree Wongwan

Silêncio

Garantir que o ambiente de sono seja silencioso é essencial. Para isso, verifique possíveis frestas em esquadrias para diminuir o ruído vindo do exterior

Mais uma vez, tapetes e outros materiais têxteis aplicados ao ambiente podem contribuir por conta de sua capacidade de absorção acústica. Além das cortinas blackout, janelas de vidro duplo também são aconselháveis. Opte também por móveis silenciosos, os que possuem rodízios são interessantes, desde que possam ter as rodas bloqueadas, para garantir a segurança das crianças. 

Se estiver construindo o ambiente do zero, pode ser vantajoso projetar as paredes com tratamento antirruído. Uma das opções mais tradicionais é a utilização de isolantes termoacústicos como lã de vidro ou lã de rocha, por exemplo. Isopor, mantas plásticas ou mantas de borracha também são opções a serem consideradas. 

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Apartamento Insight / Bohrer Arquitetura. Image © Fellipe Lima / Vanguard Home

Cores tranquilas

A escolha da paleta de cores deve ser coerente com a atmosfera suave necessária para um sono tranquilo. Por isso, uma paleta que tenha uma base neutra, com cores como preto, branco, tons de cinza, tons de bege ou tons pastéis, são bastante razoáveis. Essa lógica deve se repetir nos revestimentos e nos materiais dos mobiliários também. 

Caso haja o desejo e/ou necessidade de incluir cores, pode-se definir alguns pontos de cor em itens de decoração, luminárias, roupas de cama, etc.

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Cores Apartment / Camila Fleck Arquitetura. Image © Denilson Machado – MCA Estúdio
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Blue and Glue / HAO Design. Image © Hey! Cheese

5. Telas

Em termos gerais, telas não são recomendadas por diversos fatores. A OMS considera, por exemplo, que crianças menores de 1 ano não devem ter contato nenhum com tela. Para crianças de 2 anos, a recomendação é que a criança passe, no máximo, uma hora de seu dia em contato com eletrônicos. Esse tempo vai aumentando gradativamente de acordo com cada faixa etária, mas em nenhuma idade (inclusive para adultos), o contato com telas antes do período de sono é bem-vinda. Isso porque a luz azul emitida através das telas tem o poder de bloquear a produção do hormônio do sono.

Por todos esses aspectos, pode não ser interessante incluir aparelhos como televisores, em quartos de crianças pequenas, mas se esta for uma exigência de projeto, tente posicioná-la de forma que não seja confortável assisti-la na posição deitada, evitando o problema do contato com a luz azul antes de dormir.

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Apartamento Taquinho / Lez Arquitetura. Image © Júlia Tótoli

Flexibilidade

Planejar um quarto para a chegada de um bebê requer um grande investimento. Por isso, aconselha-se a pensar em um layout com móveis flexíveis, que sejam eficientes e seguros para os bebês, mas que também sejam úteis nos primeiros anos de vida da criança. 

Optar por uma cama baixa, ao invés de um berço ou projetar um berço que possa depois se tornar em cama é algo bastante vantajoso. Pode-se também aproveitar o espaço interno do armário como trocador ou transformar o ambiente de troca de fraldas em uma mesa com altura ajustável, por exemplo.

Outra sugestão é que seja definido um temas para o quarto que seja neutro, atemporal para que ele sirva para o bebê, mas também seja condizente com os primeiros anos de vida da criança. 

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NOMAD 33 / Felipe SS Rodrigues. Image © Guilherme Pucci

Decoração

Vários artigos que falam da neurociência aplicada à arquitetura abordam a questão de pertencimento. Neste ponto, torna-se bastante conveniente que se inclua no ambiente da criança brinquedos e objetos de decoração que sejam coerentes com seus assuntos preferidos.

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Apartamento Arch 103 / Bohrer Arquitetura. Image © Fellipe Lima
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Apartamento VM / Manore Arquitetura e Urbanismo. Image © Ricardo Bassetti

8. Organização

Um ambiente bem organizado é, instintivamente mais tranquilo. Consequentemente, uma atmosfera organizada e serena influenciará diretamente na qualidade do sono das crianças. Por isso, projetar nichos e espaço para que cada item tenha seu lugar certo é imprescindível. 

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Requalificação de residência projetada por Zanine Caldas / PKB Arquitetura. Image © Andre Nazareth

Recomendações extras

  • Atente à segurança no ambiente
    Retire tudo o que possa causar acidentes como fios expostos. Proteja tomadas. Bloqueie gavetas que tenham itens perigosos. Retire objetos soltos do chão. Inclua redes de proteção em todas as janelas, não apenas nos dormitórios.
  • Cuidado com alergias
    É bastante frequente alergias e problemas respiratórios em crianças pequenas. Considere utilizar tecidos antialérgicos e especifique materiais que sejam de fácil manutenção e limpeza.
  • Possibilite a autonomia
    Organize brinquedos e livros que possam interessar às crianças em uma altura acessível, onde ela mesma possa os alcançar para brincar, e depois para guardá-los.

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Sobre este autor
Cita: Audrey Migliani. "Dormitórios infantis: como projetar um ambiente saudável para o sono" 23 Out 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/946618/dormitorios-infantis-como-projetar-um-ambiente-saudavel-para-o-sono> ISSN 0719-8906

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