Modernidade e tradição em Lucio Costa: debate com Ana Luiza Nobre, Guilherme Wisnik e Arquicast

A cidade brasileira está no centro dos debates atuais sobre qualidade de vida e justiça social em função do quadro pandêmico generalizado em que se encontram nossos núcleos urbanos. Há muito tempo, tanto a relevância do planejamento urbano, quanto o valor do bom projeto habitacional, não tinham o protagonismo que estão tendo hoje, para além dos ambientes sociais e técnicos onde atua o arquiteto. É como se tivéssemos esquecido que a cidade em que vivemos é de nossa responsabilidade e que o descaso é também uma forma de projeto. Agora a realidade cobra o seu preço. 

Mas nem sempre foi assim. A história nos mostra que o campo da arquitetura e do urbanismo no Brasil pode sim produzir mudanças estruturais positivas para a sociedade, quando se articula na priorização de um projeto de nação que tem como foco o interesse da coletividade e a valorização da plural cultura nacional.

O Arquicast 110 traz como tema a lembrança da atuação multidimensional de Lucio Costa (1902-1998), arquiteto e urbanista franco-brasileiro mundialmente conhecido pelo projeto do Plano Piloto de Brasília, e cujos ensinamentos vão muito além da brilhante capacidade de síntese projetual expressada nos traços gráficos precisos que desenharam a capital federal. Quem nos acompanha nesta imersão sobre a ampla contribuição de Lucio à cultura arquitetônica, urbana e patrimonial brasileira são os arquitetos e historiadores Ana Luiza Nobre (link lattes) e Guilherme Wisnik (link lattes), ambos autores essenciais na bibliografia que contempla o arquiteto.

Lucio Costa. Image © Hugo Segawa

Filho de pais brasileiríssimos (o pai, de Salvador; e a mãe, de Manaus), Lucio Costa nasceu em Toulon, na França, onde pode naturalizar muito da cultura urbana europeia, o que certamente lhe permitiu cultivar um olhar atencioso à importância da construção identitária do Brasil através de seu patrimônio material e imaterial. Suas raízes brasileiras se revelaram desde cedo, tanto na valorização de nosso passado arquitetônico, manifesta em sua atuação junto ao SPHAN, quanto na busca de um futuro moderno para o Brasil, através de sua atuação na tradicional Escola Nacional de Belas Artes, onde propõe, quando diretor, a reforma curricular da faculdade de arquitetura, introduzindo novas disciplinas, técnicas e lógica compositiva.

Sempre competente e firme em suas opiniões, através de sua formação historicista e curiosidade inata, atuou como um arquiteto eclético por vários anos em escritório próprio e de parceiros, tornando-se um profissional de muito prestígio entre seus pares e clientes. Tudo isso muito cedo na carreira, quando ainda não havia adotado o modernismo como paradigma para sua visão sobre arquitetura e sobre a cidade. Quando decide se “converter” ao Movimento Moderno, o faz de forma abrupta e definitiva, negando aos clientes os projetos historicistas pelos quais era conhecido, ao ponto de faltar-lhe trabalho por alguns anos. 

O concurso de Brasília, sua amizade e parceria com Oscar Niemeyer, o projeto para o Ministério da Educação e Saúde, são apenas parte da abundante produção de Lucio Costa. Sua sensibilidade para com os fundamentos da arquitetura e do urbanismo e sua função civilizatória nos servem hoje como motivação para refletir nossa contribuição na transformação da realidade.

Ouça a conversa com Ana Luiza Nobre e Guilherme Wisnik aqui.

Texto de Aline Cruz.

Sobre este autor
Cita: Arquicast. "Modernidade e tradição em Lucio Costa: debate com Ana Luiza Nobre, Guilherme Wisnik e Arquicast" 18 Jun 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/941812/modernidade-e-tradicao-em-lucio-costa> ISSN 0719-8906

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