Conselhos para exercer arquitetura como autônomo

O pouco que conhecemos sobre a profissão de arquiteto ficou para trás. Não é aplicável ao segundo milênio e a prova disso é a insustentável realidade da grande maioria. O que viveram as gerações anteriores são experiências únicas ligadas a um momento histórico concreto. Agora precisamos aprender a ler nosso próprio momento histórico e reprogramar nossa visão para conseguir encontrar saídas para o atual contexto.

Nos transformamos em profissionais livres que oferecem soluções reais para problemas reais. Deixamos de ser substituíveis por qualquer outro arquiteto. Entendemos as necessidades do mercado, resolvemos problemas importantes, singulares e concretos, e por isso podemos estabelecer nossas condições e viver de arquitetura de uma forma livre, estável e próspera.

Como você pode se inserir nesse movimento? Aqui você encontrará os pontos chave para começar a compreender como funciona o mecanismo de sua profissão e como exercer a arquitetura enquanto autônomo. Não importa qual seja o seu background, nem o lugar onde você está, não há desculpas.

O mercado dos arquitetos hoje

Esta é a realidade: apenas 20% das pessoas que estudaram arquitetura nos últimos 10 anos podem exercer como tal com condições dignas e com perspectiva de crescimento.

Os outros 80% de arquitetos são pessoas com um enorme talento, inteligentes e compromissadas, mas que não encontram um meio de vida que cubra suas necessidades básicas e desejos profissionais. Ou seja, vivem na precariedade e não sabem como sair dessa situação.

Nós arquitetos aprendemos a desenvolver nossas habilidades e nossas paixões, mas não aprendemos a ler o mercado para detectar novos problemas, necessidades ou desejos reais e não saturados pela concorrência. Como consequência, todos os arquitetos fazem as mesmas coisas, e assim nos transformamos em profissionais perfeitamente substituíveis. Mão de obra. Com 5 ou mais anos de experiência, 95% dos arquitetos na Espanha não ganham mais de 25k€. Com 30 anos não podem nem pensar em ter filhos, comprar uma casa, ou simplesmente economizar 200€ por mês. Somos mais arquitetos que nunca e a precariedade do trabalho é uma situação generalizada.

Compreender que somos muitos querendo exercer da mesma forma é o primeiro passo para aceitar o problema. Nosso problema. E só quando compreendermos o problema e nos atribuirmos nossa responsabilidade poderemos encontrar a solução. Nossa situação acabou sendo uma rolha que deriva das correntes, crises e circunstâncias. Assuma a sua responsabilidade.

© Caterina De La Portilla

Analise o mercado para detectar novas oportunidades

Nossa formação se concentra geralmente apenas em nossa faceta criativa. Nos treinam para ter boas ideias, mas esquecemos que essas ideias precisam pagar as nossas contas. De forma geral, desde a escola, pessoas criativas pensam muito sobre o que querem e gostam, e muito pouco sobre o que o mercado quer, pensa, ou realmente precisa. E é certo que o mercado não nos paga por nossas ideias, mas sim para resolver problemas.

O arquiteto do segundo milênio está condenado a encontrar novas linhas profissionais, ou sucumbir pela concorrência. Encontrar novos nichos não saturados que se alinhem com seus interesses e analisá-los para determinar quais são aqueles profissionalmente mais atraentes, é o segundo passo para estabelecer sua rota. Antes de preparar os cartões de visita, antes de montar um site, é preciso encontrar o problema que você vai resolver. Não comece a casa pelo telhado, não comece pela solução.

Para encontrar esses nichos de mercado não saturados, essas águas calmas onde a concorrência apenas existe, devemos aprender a observar e escutar. Este é um exercício em risco de extinção em nossa área (é um fato, nós arquitetos somos vistos por grande parte da sociedade como artistas caros, arrogantes e vaidosos) mas estamos em tempo de colocá-lo em prática e nos salvarmos. Você pode começar hoje mesmo.

O requisito para a observação e a escuta é sair fora de si. Não faça perguntas a você mesmo, não especule com os problemas ou desejos que as pessoas podem ter, não cometa o erro tão comum de pensar que já sabemos de tudo sobre todos. Outros viram oportunidades onde você não via nada. Aprenda a observar e faça as perguntas diretamente ao mercado. É assim que você poderá aprender algo de novo, saindo de sua "cabeça arquitetônica".

© Caterina De La Portilla

Crie um sistema que garanta um fluxo constante de trabalho

Enviar emails, ir a alguns eventos, carregar seu portfólio nas redes e entrar em contato com alguns amigos de amigos está muito distante de ter um sistema sólido para gerar um fluxo de trabalho constante. Você acha que é essa a estratégia de Jeff Bezos? Ligar o computador de manhã esperando que um grande cliente caia do céu? Negativo.

Ser arquiteto autônomo não é instável; a sua forma de exercer a profissão enquanto autônomo é que é instável.

Quando você detectar um problema real e importante e oferecer uma solução única e valiosa, vai ver que um padrão de conversão começa a aflorar em sua atividade (conversão = transformação de um completo estranho em um cliente). De repente, você se da conta de que para cada X emails enviados, você recebe Y respostas; dessas Y respostas, Z viram reuniões; que a cada Z reuniões, você consegue 1 cliente. Os negócios são uma ciência e os arquitetos não escapam dela.

O genial desse sistema é que é possível fazer a matemática inversa, estabelecer um número de clientes como objetivo e executar os passos prévios diariamente. Isso não é uma ciência oculta, são fatores tipicamente utilizados nas indústrias digitais e tem uma razão de ser absolutamente empírica. Se você tem algo que as pessoas querem, em pouco tempo é possível determinar qual é o seu padrão de conversão. E se você não mudar aquilo que oferece, vai poder operar sobre esse padrão.

Isso significa, nem mais nem menos, que você vai ter controle sobre o seu veículo; quanto trabalho quer ter, quanto dinheiro quer ganhar, o que você precisa para aumentar o diminuir o volume de trabalho. Essas são perguntas básicas que os arquitetos podem responder.

Esta forma de exercer como autônomo reune o melhor de um emprego (a estabilidade) com o melhor de trabalhar por sua conta (a liberdade). De arquiteto para arquiteto, minha sugestão é que você se ocupe em conhecer como funciona o seu veículo.

Você é arquiteto para ter uma profissão. Você tem uma profissão para ter um meio de vida. Você tem um meio de vida para desenvolver-se profissional e pessoalmente. Se você não sabe como conduzir seu meio de vida, para que é arquiteto?

Desde 2009 Caterina dedicou 10 anos a sua formação e exercício como arquiteta na Espanha e Estados Unidos. Atualmente trabalha também como mentora com outros arquitetos para ensinar as chaves de como exercer e fazer de sua profissão um meio de vida estável, livre e próspero. Para mais informações acesse www.caterinadelaportilla.com ou www.linkedin.com/in/caterinadelaportilla

Sobre este autor
Cita: De La Portilla, Caterina. "Conselhos para exercer arquitetura como autônomo" [Consejos para ejercer en arquitectura como independiente] 12 Set 2019. ArchDaily Brasil. (Trad. Daudén, Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/924583/conselhos-para-exercer-arquitetura-como-autonomo> ISSN 0719-8906

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