70 ripas de madeira criam uma experiência única no Deserto de Atacama

Construído durante o Encontro Latino-Americano de Estudantes de Arquitetura, ELEA Atacama 2017, o projeto "MUYU, Cámara Circular" dispõe de uma câmara escura circular de armações pré-fabricadas de madeira , que protege e esconde um misterioso pátio interno. Sua forma e configuração espacial obrigam o visitante a cumprir um rito específico para entrar em seu núcleo, buscando oferecer "uma significativa experiência em torno do reconhecimento do território e da mágica cosmologia andina".

O projeto é do arquiteto e fotógrafo chileno Nicolás Sáez, que junto com a colaboração de Ismael Maldonado, estudante de Arquitetura da UBB, lideraram o workshop, conformado por 30 estudantes de arquitetura do Peru, Uruguai, Argentina, Espanha e Chile.

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Descrição do arquiteto. Calama é uma comuna da região de Antofagasta, do Grande Norte do Chile, e é composta pelas comunidades quechuas da Estação de San Pedro, Toconce e Cupo; e as comunidades Lickanantai de Taira, Conchi Viejo, Lasana, San Francisco de Chiuchiu, Ayquina-Turi e Caspana. Calama tem raiz Inca, herdando herança cultural pré-hispânica de notável beleza e sabedoria. Esta região andina foi boliviana, antes da Guerra do Pacífico, e hoje a região de Antofagasta recebe, após a metrópole, o maior número de imigrantes do país.

Processo de Construção. Image © Guillermo Andrés Vejar

Neste contexto geográfico e político, o projeto MUYU, Câmara Circular; enquadra-se como uma arquitetura cultural efêmera baseada na percepção visual do fenômeno físico-lumínico conhecido como câmera obscura. Foi especialmente concebido para ser construído por estudantes da arquitetura latino-americanos que se reuniram na ELEA Atacama 2017 à ser visitada por moradores e turistas que iriam à cidade de Toconao.

© Nicolás Sáez
© Nicolás Sáez
© Nicolás Sáez
© Nicolás Sáez
© Nicolás Sáez

Projeto

  1. Muyu: Círculo ou redondeza.
  2. Muyu: Coisa redonda, circular.
  3. Muyun muyunpi: Borda redonda no contorno.
  4. Muyuquitimpi: Toda rodonda.
  5. Muyuricuni muyurini: Caminhe ao redor ou rode.
  6. Muyurini muyuycuni llactacta: Rodear dando voltas à cidade, casa, ou praça.
  7. Muyuri huanmi huaci: Andar pela casa.
  8. Muyupayani: Andar com frequência, ou com excesso na rodada de alguma coisa, ou cercá-la.
  9. Muyuchini muyurichini: Caminhar, cercar ou dar voltas.
  10. Muyuqquen: Circuito ou caixa de algo.
  11. Muyurcuni: Apenas rodear ou dar voltas.
  12. Muyupayaquen: Aquele que anda rodeando algo.

* Muya: Horta ou jardim.
-  Língua Qquichua ou inca de acordo com González Holguín (1989 [1608]: 254)

Entramos pela única abertura externa tendo essa "vedação anelar" de madeira, cruzando uma primeira cortina que leva a um corredor semi escuro, pouco iluminado pelas frestas entre as madeiras. Circula-se lentamente, devido à instabilidade que causa o estreitamento, a curva e a semi-escuridão. Isso favorece a gradual adaptação dos olhos que começará a dilatar-se após estar em plena luz.

Planta Construtiva

A alguns metros, encontramo-nos com um dos três vidros de 25x30 centímetros que cobrem a altura dos olhos, dispostos de forma sequencial e que recebem a imagem invertida da paisagem externa do deserto. A projeção da luz, causada pelo efeito da câmera escura, permite uma imagem mais nítida e luminosa, incluindo uma pequena perfuração e uma lente biconvexa (lupa). Pequenas telas luminosas que apontam para o vulcão, a cidade e o córrego, acompanham o trânsito até encontrarem uma segunda cortina, que nos introduz em um setor escuro e sem frestas (seladas por silicone preto), o que nos permite contemplar a imagem invertida do pátio oculto projetando-se na parede oposta frente ao pinhole (sem lente).

Pode-se, então, contemplar esta imagem que inunda a parede curva pintada de branco em um processo que vai da percepção de silhuetas, cores e figuras a reconhecer a paisagem invertida e seu movimento (provocado pela presença de um visitante anterior ainda no pátio ). Aviso espectral... como uma miragem, do que será revelado ao abrir a cortina preta localizada no final do corredor.

Interior/ Cores da Cruz do Sul

Aparece novamente a luz solar que entra no pátio interno oculto com um concha multicolorida; pátio que desorienta ao se fechar para a paisagem lateral emoldurando o céu. A cor é responsável por dar referência cardeal ao visitante, que deve compreender o código andino. Violeta para o norte, vermelho para o sul e amarelo para o eixo do sol. O ritual tenta construir uma experiência significativa em torno do reconhecimento do território e da mágica cosmologia andina.

© Josefa Navarro
© Nicolás Sáez
© Graciela Llerena

Muyu como é nomeado o projeto, busca revalorizar a língua quechua, quarta língua mais falada na América do Sul, mas que sofre perigo de extinção devido à exclusão linguística. O projeto contemporâneo é nomeado com uma palavra primitiva e também tenta explicar, a partir do seu significado e simbolismo, o pensamento ancestral enraizado em seu território. Podemos rever esses significados graças ao trabalho de Fray Diego Gonzáles Holguín*, sacerdote jesuíta espanhol que, em 1608, publicou sua pesquisa sobre a língua quechua.

© Nicolás Sáez

Assim, quando buscamos a palavra "círculo" na língua quechua, encontramos uma série de sutis variações em torno da percepção do fenômeno circular. Como um primeiro significado, Muyu significa círculo ou redondeza; Coisa redonda, circular. Antes disso, e em ordem alfabética, Muya significa horta ou jardim. Esta proximidade fonética deve-se ao fato de que Muyu também simboliza, para os povos indígenas, o ciclo de vida e semente.

© Nicolás Sáez

Hoje, a experiência da câmera obscura nos permite referir-se à compreensão da origem da imagem hiper-real que monopoliza a cultura de consumo irracional. Como uma espécie de arquitetura da imagem, podemos obter uma experiência pré-fotográfica, já descrita por Aristóteles, percebida com os olhos nus e sem um mediador que não só explica o fenômeno de nossa visão, mas também da fotografia, um instrumento que monopolizou e mantém a poder hegemônico de nossa maneira de ver e reconhecer o mundo. Construir esse tipo de arquitetura efêmera é uma oportunidade para criar uma experiência didática à seus visitantes em torno da compreensão da imagem e do território onde está localizada.

© Nicolás Sáez

Construção

O projeto contempla a pré-fabricação de 70 ripas compostas por placas de madeira pinus de 1,2 metros de largura e 2 metros de altura que são dispostos em torno de um círculo de 5 metros de diâmetro. Cada quadro é unido por tábuas, variando o ângulo das aberturas devido ao ângulo de separação fazendo com que a disposição seja radial. As ripas do perímetro que confina o pátio interno são pintadas de acordo com as cores da Cruz do Sul dos Andes, com base em seu significado ancestral.

Processo de Construção. Image © Josefa Navarro

Uma vez que o anel é definido, o setor do pinhole é selado com silicone preto, além de pintar a parede oposta em branco para receber a imagem invertida. Os estenopos que receberão as lentes de 5 centímetros de diâmetro e os 2 centímetros são limpos diretamente na placa onde são perfurados. A única divisão, as três cortinas pretas que o projeto contempla são então colocadas. Finalmente, os 14 bancos são colocados no interior que convidam para a reunião circular.

Axonométricas / Processo Construivo

O projeto foi financiado pelo ELEA 2017 e contou com o apoio do GIDPRO (Grupo de Didáctica Projetual GI 160402 / EF), da Faculdade de Arquitetura, Construção e Projeto e do Departamento de Projeto e Teoria da Arquitetura e Escola de Arquitetura de Universidade do Bío Bío na cidade de Concepción, no Chile.

Axonométricas / Processo Construivo

*GONZÁLEZ HOLGUÍN, D., 1989 [1608]. O vocabulário da língua geral de todo o Peru é chamado Qquichua ou língua inca. Universidade Nacional de São Marcos, Lima. Versão online (Atualizada em julho 2017).

Arquiteto das oficinas: Nicolás Sáez Gutiérrez. Arquiteto e Acadêmico UBB, artista visual. Concepción, Chile
Estudante colaborador: Ismael Sandoval Maldonado, 23 Anos, UBB, Concepción, Chile, 4º ano

Participantes ELEA:
Mariana Belén Mirallas, 26 anos, UNC, Córdoba - Argentina, 6º Ano - Título Universitário
Franco Ignacio Van Der Molen, 22 anos, UBB, Tomé - Chile, 3º ano
Ignacio Martínez Pendás, 22 anos, UPM, Madrid - Espanha, 4º ano
Miguel Cerezo Diaz, 21 anos, UPM, Madrid - Espanha, 4º ano.
Cristopher Arnold Vrsalovic Rojas, 26 anos, UV, Valparaíso - Chile, 6 anos - Título Universitário
Josefa Navarro Marco, 25 anos, UBB, Concepción - Chile, 6º Ano - Título Universitário
Fernanda Alvarez Ibañez, 23 anos, UPC, Lima - Peru, Graduada
María Fernanda Moyano, 24 anos, UNC, Córdoba - Argentina, Graduada
Sandra Idiáquez Contreras, 24 anos - URP, Lima - Peru, graduada
Liseth Zárate Mamani, 21 anos, UNSAAC, Cusco-Perú, 4º ano
Karen Gianela Carmen Trevejo, 21 anos, URP, Lima- Peru, graduada
Mayli Araceli Quispe Céspedes, 22 anos, UNSAAC, Apurimac-Peru. 4 anos
Graciela Isabel Llerena Zamudio, 24 anos, UPC, Lima - Peru, graduada
Fabiola Baca Matelic, 22 anos - URP - Lima - Peru, Bacharelado em Arquitetura
Dominique Benítez Kilman, 25 anos, UBB, Concepción - Chile, 6º Ano - Título Universitário
Shanery Ochoa Bravo, 22 anos, UNSAAC, Abancay - Apurimac - Peru, 3º ano
Bárbara Ibarra Mendoza, 25 anos, UBB, Concepción-Chile, 6º ano, 6º ano - Título Universitário
Guillermo Vejar, 25 anos, UBB, Concepción- Chile, 6º ano - Título Universitário
Karla Mercado Muñoz, 24 Anos, UBB, Concepción- Chile, 6º Ano - Título Universitário
Javier Escalona Godoy, 27 anos, UBB, Concepción, Chile, 6º ano - Título Universitário
Nicolás Martínez Rosso, 20 anos, UDELAR, Montevidéu - Uruguai, 2º ano
Yamila Fernández Fernández, 20 Anos, UDELAR, Montevidéu - Uruguai, 2º ano
Yaizon Oliver Pfuño Cuchillo, 20 anos, UNSAAC, Cusco-Perú, 3º ano
Anderson Contreras 24 Anos, UBB, Concepción-Chile, 2º Ano
Hwa Ye Qiu Álvarez, 24 Anos, UBB, Concepción- Chile, 6º Ano - Título Universitário
Felipe Díaz Acuña, 20 Anos, UBB, Concepción, Chile, 3º ano
Francisco Galindo Morales, 20 Anos, UBB, Concepción, Chile, 3º ano
Sebastián Pinochet Pozas, 24 anos, UBB, Concepción, 6º Ano - Título Universitário
Gabriel Antonio Burgos Manríquez, 22 anos, UBB, Concepción - Chile, 5º ano, Ubb

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Sobre este autor
Cita: Franco, José Tomás. "70 ripas de madeira criam uma experiência única no Deserto de Atacama" [MUYU, Cámara Circular: 70 marcos de madera construyen una experiencia única en el Desierto de Atacama] 18 Dez 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Pereira, Matheus) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/885595/70-ripas-de-madeira-criam-uma-experiencia-unica-no-deserto-de-atacama> ISSN 0719-8906

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