Um novo estilo arquitetônico para a era do individual

Ao passo que os arquitetos modernistas romperam com a arquitetura vernacular e desenvolveram um estilo internacional homogeneizado, muitos criaram espaços estéreis e lugares distantes do calor das formas históricas do habitar humano. Reações negativas à brutalidade dos espaços modernistas encorajaram movimentos arquitetônicas como o pós-modernismo e o desconstrutivismo, mas estes nunca chegaram a subverter a caixa racionalista moderna como paradigma arquitetônico dominante. 

Contudo, a almejada precisão mecânica desses edifícios em alguns casos se tornou, com o passar do tempo, acidentalmente humanizada através do acréscimo de cortinas, pinturas coloridas, ou mesmo alterações e reparos imperfeitos. Acredito que os sucessos e fracassos do modernismo geraram um novo tipo de estilo arquitetônico previamente não classificado: o Pixelismo. Saiba mais sobre esse fenômeno, a seguir.

Interiores das Torres Rabot durante a demolição. Imagem © Pieter Lozie

A ascensão do Modernismo

Num mundo marcado pela mudança do trabalho manual para a indústria em larga escala, e ainda vivendo as consequências da Segunda Guerra Mundial, os arquitetos estavam trabalhando em um novo contexto cultural - e com uma paleta de materiais e técnicas construtivas atualizada. Figuras icônicas como Le Corbusier e Mies van der Rohe foram influenciados por processos industriais e novos materiais como o aço e o concreto armado durante o processo de estabelecimento do estilo arquitetônico moderno.

Um dos mais notórios projetos modernistas de habitação em grande escala, o conjunto Pruit-Igoe em St. Louis, EUA, é frequentemente citado como um fracasso desse período. Esses grandes e desoladores empreendimentos frequentemente criavam ambientes desagradáveis (e mesmo perigosos) devido a um sentido de alienação causado por suas escalas e homogeneidade. Quando muitos desse projetos fracassados foram demolidos, as intervenções internas nas minúsculas unidades expuseram o desejo dos moradores de personalizar seus espaços - a manifestação física da necessidade humana de se diferenciar. Um exemplo disso foi visto durante a demolição das torres Rabot, em Ghent, Bélgica, onde a remoção dos painéis de fachada revelou interiores coloridos que compunham, quando vistos em conjunto, uma espécie de obra de arte abstrata

© Jonathan Choe

Respostas ao Modernismo

Houve diversos movimentos arquitetônicos que evitaram a brutalidade do modernismo: o primeiro e mais notório foram os gestos formais exagerados do pós-modernismo, inspirados em referências históricas, que buscavam evocar a grandeza e humanidade dos estilos arquitetônicos clássicos como uma medida desafiadora ao modernismo, percebido como algo sem graça e sem alma. 

Os resultados frequentemente insípidos do estilo pós-moderno motivaram uma geração posterior de arquitetos a criar composições arquitetônicas desconstruídas (Desconstrutivismo) e as formas amórficas da Blobitecture. Essas estruturas eram capazes de recriar o estilo ornamental da construção clássica (algo evitado pelo modernismo) através de um vocabulário contemporâneo.

© Jonathan Choe

Pixelismo: extrapolando o modernismo?

No entanto, nenhuma dessas tentativas de reforma estilística realmente conseguiu substituir o modernismo como movimento estético dominante na arquitetura, com ramificações do movimento ainda bastante presentes no campo. Muitas das vantagens do modernismo, como eficiência e pureza estrutural (forma segue a função), ainda são convincentes no contexto arquitetônico contemporâneo. Mas os arquitetos tiveram que encontrar um modo de antropomorfizar essas estruturas racionais para evitar a alienação causada pelo modernismo no passado.

A geração atual de arquitetos é obcecada pela diferença, ainda que dentro de uma estrutura subjacente em grande parte moderna, e o paradigma arquitetônico contemporâneo se expande sobre conceitos básicos da teoria moderna enquanto um estilo mutável, ao invés de reacionário. Os arquitetos começaram a aproveitar o poder de abstrações aparentemente aleatórias como um modo de transmitir informação, identidade e individualidade. 

© Jonathan Choe

As massas ininterruptas e a opressão reticulada das estruturas modernistas se tornaram uma celebração das diferenças e texturas. Desvios de repetente se integraram e a monotonia dos planos urbanos idealistas - mas, em última instância, sem graça - de Le Corbusier e Hilberseimer foram distorcidos para promover a diferença, embora a constituição fundamental permaneça a mesma. O Pixelismo, apesar de se basear no modernismo, abraça a heterogeneidade, ao invés de esconder uma civilização urbana diversificada atrás de fachadas e plantas sóbrias e homogêneas. 

Nossa civilização está passando por uma mudança radical - de proporções similares à revolução industrial, que criou um novo ecossistema cultural no qual o modernismo arquitetônico foi criado - em direção a um mundo digital onde novas tecnologias são desenvolvidas a taxas exponenciais. O Pixelismo oferece uma visão do que a arquitetura (ou a cidade) pode se parecer se nós, como arquitetos, realmente começarmos a extrapolar o status-quo modernista. 

Jonathan Choe é arquiteto e trabalha no escritório WOHA. Também é artista, urbanista e blogueiro. Este artigo foi originalmente publicado em seu site urbanARCHnow.com

Sobre este autor
Cita: Jonathan Choe. "Um novo estilo arquitetônico para a era do individual" [A New Architectural Style for the Age of the Individual] 27 Ago 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/626069/um-novo-estilo-arquitetonico-para-a-era-do-individual> ISSN 0719-8906

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