Yes Is More: A Filosofia do BIG

Anders Møller é co-fundador da GRASP Magazine, onde este artigo foi originalmente publicado.

O que o internacionalmente premiado Bjarke Ingels Group (BIG) tem a ver com Friederich Nietzsche e Charles Darwin? Muito, de acordo com o fundador Bjarke Ingels, que criou uma poderosa mistura de Nietzsche e Darwin como a base filosófica da arquitetura do BIG.

Leia a seguir o fascinante artigo de Anders Møller sobre a inusitada filosofia do BIG.

Quando o arquiteto dinamarquês Bjarke Ingels apresenta a arquitetura de seu escritório BIG, é conhecido por fazê-lo de forma especial. Com conceitos como Sustentabilidade Hedonista, Subúrbio Vertical e Pragmatismo Utópico, as peças arquitetônicas se relacionam a contradições e paradoxos, apresentadas em histórias fascinantes.

Para Bjarke Ingels, conflitos da sociedade são os principais ingredientes para o trabalho analítico de criar arquitetura. Ao invés de olhar para os conflitos de um dado projeto como limitantes, Ingels vê a tarefa do arquiteto como a busca de uma "maneira de incorporar e integrar diferenças, não afiliação ou escolha de um lado, mas atando interesses conflitantes em um nó górdio de novas ideias".

Isso é o que BIG entende como Pragmatismo Utópico. Os problemas pragmáticos da sociedade são o conflito que os pensamentos utópicos do arquiteto tenta resolver.

O arquiteto está, no entanto, junto e não contrário à sociedade. Não se trata da imagem tradicional do homem jovem se rebelando contra o sistema mas sim respondendo a tal ponto às suas demandas que a réplica se torna algo radical.

Agradar normalmente não é um sinônimo de ser radical. Dizer às pessoas o que elas querem ouvir ou mostrar a elas o que elas querem ver não costuma ser exatamente algo drástico ou inovador. O sucesso de BIG tem a ver com a mistura do pensamento do naturalista Charles Darwin com o do filósofo Friederich Nietzsche, apresentada no manifesto Yes Is More - uma teoria da evolução.

Darwin é parafraseado ao se dizer que a espécie mais adaptável a mudanças sobrevive. É um pensamento que Ingels usa para descrever sua arquitetura. Como uma espécie tenta superar as demandas da vida, suas diferentes ideias arquitetônicas tentam responder as demandas da sociedade; algumas  bem sucedidas, outras se tornando "aberrações", arquivadas, mas sempre prontas a serem revividas para uma nova tentativa.

Atribuindo à sociedade o mesmo papel que a natureza desempenhava para Darwin, o nó górdio de interesses se torna um ponto chave. As novas ideias da arquitetura não são apenas belos edifícios mas uma força no processo evolutivo da sociedade.

Agora é possível se perguntar: o que torna isso um programa radical? A resposta está na inspiração de Nietzsche. Entre outras coisas, ele é conhecido por ressaltar a afirmação de algo em detrimento da negação de outro. Como Darwin, Nietzsche é levado de seu enquadramento filosófico a outro. Para Ingels, não se trata do indivíduo dizer sim a si mesmo, mas à sociedade. A crítica de Ingels ao jovem e rebelde arquiteto mencionado anteriormente é a seguinte: Ao simplesmente dizer "Não!" ao sistema, ele também diz não à sociedade.

O mesmo serve para o debate sobre o ambientalismo. Ao definir um coflito claro entre ecologia e economia, tende-se a dizer não à sociedade e focar nas suas limitações. Contrariamente, Ingels prefere a busca por novos meio de desenvolvimento ecológico e econômico, usando ao invés de reduzir e maximizando ao invés de minimizar.

Sustentabilidade Hedonista é o conceito de Ingels para essa aproximação, combinando irreverência e responsabilidade com aprovação de ambos lados do espectro político.

Com a combinação do pensamento evolutivo de Darwin e o poder criativo de Nietzsche, Bjarke Ingels conseguiu criar uma poderosa matéria arquitetônica que o catapultou ao panteão dos arquitetos em velocidade recorde.

No entanto, Ingels definitivamente não é o primeiro a combinar os pensamentos de Darwin e Nietzsche. O desejo básico de mudar a sociedade pode ser visto como a junção da evolução social e a ânsia de criação. É uma mistura que diz-se ter inspirado alguns ditadores, mas, igualmente, todos os agentes de mudança das sociedades.

Ingels descreve o papel da arquitetura na mudança da sociedade como algo a corresponder às nossas aspirações: "Quando algo não se encaixa mais, nós arquitetos temos a habilidade - e a responsabilidade - de nos certificarmos que nossas cidades não nos forcem a nos adaptar a sobras obsoletas do passado, mas sim à maneira como queremos viver". 

É uma tarefa e tanto fazer o mundo se adequar à maneira como queremos viver, especialmente se não sabemos como queremos fazê-lo. Para a maioria das pessoas isso se referiria a um companheiro amoroso, um bom trabalho e talvez filhos, mas nós realmente sabemos como queremos viver?

Essa pergunta remete ao trabalho psicanalítico de Sigmund Freud, no qual sua resposta é que o indivíduo, basicamente, deseja seu progenitor do sexo oposto. Mas como ele poderia saber disso? Definitivamente ele fez seus pacientes acreditarem nisso. Eles o viam como um cúmplice no entendimento de si mesmos, enquanto ele podia muito bem seduzi-los a acreditar nisto.

Bjarke Ingels usa a metáfora do arquiteto como cúmplice para explicar seu papel na sociedade; você poderia, do mesmo modo, se questionar como os arquitetos podem ser capazes de descobrir o que realmente queremos?

Independentemente se BIG e especificamente Bjark Ingels têm as características de um cúmplice, um sedutor ou algo entre os dois, a fascinação internacional é inevitável. Eles são reconhecidos em todo o mundo; Ingels está em entrevistas e perfis em grandes meios de comunicação e tem mesmo seu Don Juan pessoal. BIG consegue definitivamente irromper na mídia. Mostra um modo de fazer inédito. Isso se refere a seus edifícios, mas também a seus conceitos de Sustentabilidade Hedonista e Utopia Pragmática. Enlaçam partes conflitantes e assim criam algo radicalmente novo.

Leia o manifesto de Bjark Ingels Yes is More

Anders Møller é co-fundador da Grasp Magazine, onde este artigo foi orignalmente publicado. Foi baseado na sua tese de Bacharelado em Filosofia e Administração "BIG Philosophy – en filosofisk undersøgelse af Bjarke Ingels Groups grundlag og samfundsrelevans” (em dinamarquês), escrita juntamente com Johan Ellersgaard Christensen.

Sobre este autor
Cita: Anders Møller. "Yes Is More: A Filosofia do BIG " [Yes Is More: The BIG Philosophy] 28 Mai 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-116507/yes-is-more-a-filosofia-do-big> ISSN 0719-8906

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