Eficiência no canteiro de obras, reduzir desperdícios, diminuir custos, aprimorar a segurança, melhorar o planejamento e trazer as máquinas para auxiliar na construção e processo projetual. Hoje estes tópicos podem ser associados à automação na arquitetura, no entanto, para que a tecnologia chegasse até esse ponto, de brindar maior possibilidade de ousadia criativa e sustentabilidade, houve um longo caminho. Para conhecer essa trajetória, apresentamos uma breve linha do tempo que ajuda a compreender como ela se desenvolveu e quais são as possibilidades que ela traz para o futuro da profissão.
A história da automação predial provavelmente se inicia a partir de uma invenção realizada em 1883 por Warren Johnson: o termostato. Este dispositivo que impede a variação de temperatura em um determinado sistema, nos seus primórdios, ficava numa sala de caldeira e acendia uma luz quando havia queda de temperatura, alertando aos zeladores a necessidade de colocar mais carvão no forno para manter o aquecimento do edifício.
Já a mecanização na arquitetura, que hoje coincide com processos automatizados, foi introduzida no Movimento Moderno. O funcionalismo e a construção em série abrangeram os ideais modernos e influenciam em grande parte o modo como pensamos a tecnologia associada à arquitetura até hoje. No contexto pós-guerra, com efeitos do Plano Marshall e estabilidade econômica, a construção civil foi impulsionada por meio de políticas desenvolvimentistas e habitacionais, resultando em cada vez mais tecnologias de automação predial - tendo como um dos principais símbolos o Seagram Building, realizado em 1958. Além disso, é nessa mesma época que surgem as vanguardas futuristas como o ArchiGram e os metabolistas japoneses, que em suas propostas vislumbravam as possibilidades da tecnologia aplicada à arquitetura para imaginar diferentes formas de experienciar a vida e o ambiente construído.
Sistemas automáticos de controles foram se aprimorando com o decorrer dos anos, até que as técnicas de hidráulica e pneumática - que ajudavam a controlar a temperatura do ambiente a partir de termostatos, válvulas e estações centrais em grandes edifícios -, que predominaram até as décadas de 1970 e 1980, começassem a ser revistas com o advento dos computadores. Junto deles, nasce a relação com as teorias cibernéticas e, nos Estados Unidos, surge o paradoxal conceito de "Edifícios Inteligentes", o qual abarca as edificações que possuem qualquer tipo de mecanismo de supervisão e controle automático - que se tornava um grande diferencial na época gerando um status no qual a tecnologia exercia papel fundamental para a venda do empreendimento, associando o edifício a ideias futuristas por adotarem sistemas informatizados. É neste cenário que sensores prediais despontam e começam a identificar e reagir de acordo com o calor, fumaça, intensidade lumínica etc. Aqui ainda são mecanismos baseados em ações programadas pelo homem, ou seja, um sistema que não é capaz de aprender a partir de situações ocorridas.
Com o avanço tecnológico a conceituação de um Edifício Inteligente, após inúmeras críticas, passou a contemplar uma preocupação com o processo projetual, técnicas e elementos construtivos, e gerenciamento ambiental. O BIM se torna mais sofisticado e a partir desse sistema, por exemplo, tornou-se possível conjugar de forma racional e econômica os recursos técnicos disponíveis que tornam o canteiro mais inteligente e viabilizam uma obra mais econômica.
Como desfecho dessa era, destaca-se o final da década de 80, quando o computador central dá lugar a equipamentos independentes que se comunicam a partir de um sistema único e com a popularização da internet, a partir de 1995, quando os dispositivos passam a suportar softwares baseados em nuvem, tornando possível a operação por qualquer computador que esteja conectado à web. Com controladores locais de baixo custo conectados numa rede global, tornou-se possível reportar uma enorme quantidade de dados que disponibilizam as informações necessárias para avaliar e aprimorar a própria tecnologia de acordo com seu uso. Assim, problemas de conforto, desperdício de materiais e energia passam a ser mitigados ao ponto que ocorre uma operação mais eficiente dos sistemas construtivos e automatizados na arquitetura.
Assim, com o encontro entre a inteligência artificial, processos de digitalização e automatização com a arquitetura, vemos uma rápida inovação na indústria, de modo que a criatividade arquitetônica ganha cada vez mais possibilidades para ser executada. O design computacional e o design generativo, por exemplo, ajudam a automatizar tarefas cotidianas, economizam tempo ao otimizar compatibilizações e também geram desenhos de altíssima complexidade. Para além disso, o grande diferencial se vê numa digitalização da construção que é mais segura, possibilita novas estruturas e melhora a eficiência do projeto e sua execução.
Para o futuro, certamente podemos esperar sistemas no qual ferramentas digitais entrem cada vez mais em contato com o mundo físico, de modo que aquilo que projetamos em um computador tenha a possibilidade de ser impresso ou fabricado no mundo real. Com o uso de tecnologias de projeto e fabricação digitais esta sentença já é uma realidade. Como exemplo, podemos citar o trabalho do Block Research Group da ETH Zurich, que pôde calcular e construir uma estrutura de casca autoportante usando o material mínimo necessário, resultando numa sistema de cobertura sinuosa ultra-fina de concreto, com uma espessura média de apenas cinco centímetros. Outro grupo que se destaca nesse campo é o ICD/ITKE University of Stuttgart, que através de suas pesquisas e construções aponta para a crescente influência da robótica na arquitetura, culminando no seu último projeto, a Maison Fibre, exposta na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano.
A história provavelmente nos mostrará que quem acessar e dominar essas tecnologias poderá ampliar o campo de inovação na arquitetura. Se a automação foi lentamente integrada à construção civil no passado, de agora em diante elas parecem estar fadadas a uma parceria que pode vislumbrar o inédito, mas também repensar o vernacular e aprimorar todo o ambiente construído, visto que o que se inicia, na verdade, é a busca por uma precisão absoluta que permite materializar de forma mais eficiente o que for imaginado.
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