Alguns materiais mudam a história da arquitetura a partir do momento que começam a ser empregados. Os primeiros materiais usados na construção certamente o fizeram: barro, pedra, madeira. A possibilidade de construir pode ser considerada a origem da disciplina. Com o desenvolvimento tecnológico, as técnicas também se apuraram e, no século XIX, a industrialização disseminou o uso de outros materiais, alterando e ampliando a possibilidade construtiva: ferro e vidro.
Desde a Revolução Industrial, a tecnologia da construção avançou rapidamente, e outros materiais fizeram história nas manifestações e linguagens arquitetônicas. No século XXI, parece existir um convívio entre todos esses materiais, com destaques e recorrências diferentes. Por um lado, é crescente a noção sobre a capacidade poluente do concreto, e as construções têm feito mais uso de materiais naturais como a madeira – que, dentre os materiais “primevos”, é considerada muito nobre. Por outro, alinhado à estética etérea do digital, o vidro continua associado a uma espécie de assepsia e precisão, sem contar os efeitos alcançados com sua transparência – de fachadas a interiores e vitrines.
Apesar das ressalvas, é inegável o valor que ambos têm no decorrer histórico da construção. A madeira segue como sinônimo de aconchego, de algo familiar e, atualmente, de material ecologicamente responsável. Dependendo da aplicação, encaixes e cavilhas sempre impressionam, e os desenhos dos veios, as tonalidades variadas fazem um belo complemento para a construção sem que seja necessário forjá-los – com impressões ou texturas simuladas, por exemplo. Já o vidro continua um ótimo representante da modernidade: além de ser listado como um dos cinco pontos da nova arquitetura – postulados pelo “pai” do modernismo, Le Corbusier –, afinal, as janelas em fita são possíveis graças a esquadrias mais finas e placas de vidro maiores. Além disso, casas icônicas como a Glass House de Philip Johnson e a Casa de Vidro de Lina Bo Bardi continuam referência para projetos até hoje.
Não à toa, projetos contemporâneos fazem uso desses dois materiais recorrentemente, e tiram partido das associações, significados e desempenho que estão ligados a eles. Os resultados não deixam a desejar, confira.
Casa Kruppa / Capa Arquitectura
“É uma casa preta em seu exterior e de madeiras claras em toda a superfície interna, buscando contrastes. É um lugar de níveis e alturas duplas, um lugar claro cheio de aberturas com diferentes matizes de cor. Nele, a luz nunca entra na mesma direção, o que permite um jogo de claros e escuros em todo o seu percurso. As fachadas envidraçadas e rotacionadas geram uma transparência transversal em toda a casa.”
Edifício ‘t Bosbad / GAAGA
“A maioria dos apartamentos possui amplas janelas de canto e grandes varandas que oferecem a oportunidade de "entrar na paisagem". As varandas são contínuas e sustentadas por uma colunata de troncos de árvores reais. […] Em termos materiais, o edifício é "aus einem Guss" (um único molde) com a madeira sendo o material principal. A madeira reutilizada na fachada e os pilares de troncos de árvores conferem ao edifício uma aparência natural, entrelaçando-o com a paisagem florestal e suavizando o seu layout racional.”
Pavilhão ∞ / Atelier Lai
“O Pavilhão ∞ é moldado com o ‘osso’, mas não pelo ‘osso’. Exceto pela construção de madeira da estrutura de suporte, ele é transparente como um pavilhão em todos os lados. Ele também empresta a paisagem da vista das montanhas ao longe. Ao mesmo tempo, a estrutura de madeira não é mais a protagonista e se retira para trás, como um refúgio para olhar para a natureza. Embora esteja em retirada, ainda assim, devido à sua forma, ele entrega um certo encanto a esse espaço.”
Fazenda Mangmi / Todot Architects and Partners
“A variedade de espécies de madeira no projeto e a iluminação natural que penetra na cortina de vidro maximizam a profundidade espacial e o calor do espaço simples. A Fazenda Mangmi é projetada para fornecer um refúgio para cidadãos que vivem em cidades densas com texturas frias, proporcionando um espaço para relaxar e se conectar completamente com a natureza.”
Edifício MFA Lakeside Brielle / 2by4-architects
“O amplo telhado do alojamento aumenta o apelo visual do edifício. Decorado com painéis de madeira preta, o telhado cria um surpreendente contraste com a fachada de vidro e madeira do segundo andar. Além disso, tábuas pretas verticais no telhado brincam com a luz do sol e as sombras ao longo do dia, criando um ambiente dinâmico e atraente ao ar livre.”
Casa de Vidro / atelierRISTING
“Enormes peças de vidro isolante, transparente e fosco, foram reaproveitadas da obra de reforma de um edifício comercial. A modulação de 2,40 metros foi utilizada para minimizar o desperdício das peças de madeira, criando um grande pano de vidro em três das quatro frentes da casa. Cada uma das aberturas pode ser operada independentemente e de forma manual, proporcionando a ampla iluminação e ventilação natural da casa. […] A madeira foi deixada em seu estado natural, empregando em alguns pontos uma pátina de cor cinza quente, típico das construções de celeiros da região. Todos os pisos foram executados com uma espécie de cortiça natural.”
Vidro + Madeira / Hamada Design
“Este edifício possui dois andares, considerando assim o meio ambiente e o consumo de energia. Esta preocupação também determinou o uso de madeira (método de Hardware). Ambos pavimentos são totalmente envidraçados para enfatizar a bela vista para as montanhas ao sul. Também foi projetado uma espécie de envolvente de madeira que é muito importante nas construções anti-sísmicas. O uso do cedro vermelho puro confere uma textura ao exterior do edifício.”
Casa Pré-fabricada Sula / Diana Salvador
“Cinco materiais exclusivos, madeira, pedra, metal, vidro e PVC intervêm de forma pura e proporcional para consolidar um elemento ambientalmente equilibrado. A participação de cada material foi pensada em termos de suas condições de eficiência e flexibilidade. A madeira compensada é o material mais representativo, que foi usado para construir a estrutura, as paredes internas, os móveis e o telhado. A precisão do formato combinada com um processo de corte mecanizado garante a otimização dos recursos.”
Escritório em Sanno / Studio Velocity
“Para evitar que o espaço interno seja dominado em excesso por princípios estruturais, o material de tensão utilizado é o Hinoki (cipreste japonês) em vez de cabos. Isso criou uma estrutura de madeira que não é muito diferente da usual, exceto pelas vigas curvas e muito planas onde as proporções dos pilares não sustentam o telhado.”
Casa de Vidro / Sigurd Larsen
“A estrutura de madeira do telhado forma uma estufa no primeiro andar. Ele contém um espaço amplo e luminoso que funciona como um estúdio para trabalhos criativos e um ótimo lugar para apreciar a vista e a luz do dia, independentemente do clima. […] Nas estações quentes, os espaços interiores e exteriores crescem juntos através das muitas aberturas na fachada do jardim. O interior da casa parece fundir-se com o jardim definido pela parede curva da casa e as sebes verdes do jardim. No inverno, a casa térrea compacta e isolada torna-se um lugar aconchegante e íntimo para se retirar e ver a paisagem e a luz mudando através das janelas panorâmicas. A estufa no andar de cima é um recurso extra que pode ser usado tanto quando o sol a aquece tanto quando o vento a esfria.”
Centro de Reciclagem Kamikatsu / Hiroshi Nakamura & NAP
“Concebemos uma arquitetura que não produzirá resíduos, poderá ser separada e, eventualmente, reduzida de tamanho. Nosso primeiro passo foi usar madeira de cedro que pudesse ser encontrada localmente para reciclar recursos florestais, reduzindo a pegada de carbono. Decidimos usar toras em sua forma original porque o corte rotativo de cedro produziria resíduos de madeira. […] O acabamento é visível, com parafusos utilizados para as junções, a fim de que empreiteiros locais possam lidar com a construção/manutenção, e a triagem seja simplificada quando demolida.”