Jordi Borja

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Notas para um manifesto. Fórum Alternativo ao Habitat III (Parte II) / Jordi Borja

*Texto desenvolvido pelo autor no marco do Fórum Alternativo ao Habitat III, que foi realizado entre 17 e 20 de outubro na cidade de Quito, paralelamente ao Habitat III.

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Notas para um manifesto. Fórum Alternativo ao Habitat III (Parte I) / Jordi Borja

*Texto desenvolvido pelo autor no marco do Fórum Alternativo ao Habitat III, que foi realizado entre 17 e 20 de outubro na cidade de Quito, paralelamente ao Habitat III.

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Podem nossas cidades sobreviver aos... arquitetos?

O título dessa matéria remete a um grande e esquecido livro de Josep Lluis Sert, escrito durante a Segunda Guerra Mundial. Sert sintetizou as ideias do Movimento Moderno a partir das CIAM (Conferências internacionais de Arquitetura Moderna) juntamente com suas próprias ideias e as de outros jovens profissionais, como Josep Torres Clavé, morto na frente republicana durante a guerra civil. Sert, como Torres Clavé, teve uma relação estimulante com Le Corbusier mas, como se percebe no livro citado, ele possuía uma sensibilidade cidadã especial, que nem sempre esteve presente no temperamento do líder das CIAM.

Os arquitetos podem ser também urbanistas, mas nem todos os arquitetos, uma pequena parte inclusive, o são. Da mesma forma, existem muitos urbanistas que não são arquitetos. Como Ildefonso Cerdà, engenheiro civil e um dos fundadores do urbanismo moderno. Há urbanistas que procedem de carreiras técnicas, das ciências sociais ou da gestão pública. Na realidade, o urbanismo é uma prática que com o tempo, a acumulação de experiências e a análise crítica constitui um corpo doutrinal respeitável e muito mais sólido que as ciências sociais acadêmicas, já que elas não dispõem da verificação na vida social.

Mas são os profissionais que definem a cidade?

Cidades inteligentes ou vulgaridade de interesses?

Houve alguma vez cidades estúpidas? Teriam sobrevivido as cidades, a construção humana mais complexa, se não houvesse inteligência coletiva? Somente a distribuição de água, a iluminação e a energia, a eliminação de resíduos, a construção em altura, o abastecimento de alimentos, a organização do transporte, etc. supõem tecnologias e modos de gestão de inteligência acumulada e de capacidade de inovação permanente. Agora a moda é descobrir que as cidades podem ser inteligentes. Se não fossem não existiriam.

Na realidade se trata de um reclame publicitário. Das cidades? Aparentemente sim, mas a fama dura pouco. Houve tantas cidades adjetivadas para atrair atenção e nenhuma memorável. Pela simples razão de que a todas é mais ou menos possível aplicar o adjetivo promissor. Além disso, este adjetivo quase nunca é qualificativo, mas define da cidade. Cidades patrimônio da humanidade? A UNESCO encontrou um nicho bastante lucrativo, é preciso pagar pelo título. Em toda parte encontramos patrimônio. Cidades globais? Saskia Sassen selecionou a principio três cidades globais, mas outras grandes cidades protestaram. Ampliou a lista, mas teve então que estabelecer categorias. Quase ninguém estava satisfeito. Além disso, se muitas eram globais, perdia-se o valor de distinção. No final, assim como Castells, acabou reconhecendo que todas as cidades, algumas mais e outras menos, têm dimensões e elementos globalizados.

É possível pôr em prática políticas progressistas nas grandes cidades latino-americanas de hoje?

Nestes primeiros anos do século XXI a maioria das grandes capitais latino-americanas está sob governo de partidos ou coalisões progressistas ou de esquerda, com um importante apoio popular. São cidades de alta visibilidade, com meios para realizar políticas transformadoras num sentido democrático e de justiça social. Referimo-nos a Cidade do México, Bogotá, Quito, Lima, La Paz, Santiago, Montevidéu, São Paulo, Caracas. Destaca-se a ausência de Buenos Aires, que teve governos duvidosamente progressistas nos anos 90 e início dos 2000 e hoje é governada por uma direita neoliberal que substitui a justiça pela demagogia. Uma experiência (ruim) a ser levada em conta.

Um governo progressista que pretende consolidar políticas de reforma precisa durar, ao menos, dois ou três mandatos. Para fazer progredir a cultura política democrática nos parece muito conveniente realizar uma análise dessas experiências, como começaram suas jornadas, os primeiros resultados de suas políticas e seus atuais desafios. Não pretendemos agora realizar esta análise de todas as cidades citadas, o conhecimento não seria suficiente e não caberia em um artigo de periódico. Exigiria ao menos uma série. Apenas pretendemos propor alguns critérios do que pode ser uma política de esquerda ou progressista a partir de um conhecimento básico dos casos citados. Como avaliar uma política de esquerda? Consideramos três critérios e cada um deles se situa em uma escala diferente.

Espaço público, teste da cidade democrática

A cidade é espaço público