Migração de materiais: como a arquitetura se transforma entre as fronteiras

A forma como os materiais se moldam na arquitetura e o modo como projetamos. Embora os arquitetos geralmente considerem a origem e a fabricação de materiais, os próprios produtos físicos também se moldam e adaptam à medida que cruzam as linhas geográficas e nacionais. Quando a matéria migra, por sua vez, projeta suas próprias ideias, conta a história de uma arquitetura que transcende a construção e o clima, bem como as fronteiras reais e imaginárias.

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Cortesia de Estudio Teddy Cruz + Fonna Forman

A condição da fronteira entre os Estados Unidos e o México tornou-se um excelente exemplo de como os materiais e as ideias arquitetônicas podem migrar e mudar em regiões maiores. Como afirma o Estúdio Teddy Cruz + Fonna Forman, esta é uma "região de fluxos", que rompe os conceitos convencionais de construção e o fornecimento de materiais com uma lente mais abrangente. “Podemos compartilhar as práticas, normas, interesses e aspirações como critérios essenciais da comunidade — todos os quais, normalmente, fluem desimpedidos através dos muros de fronteira, como se fossem os nossos”, disseram eles.

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Cortesia de Estudio Teddy Cruz + Fonna Forman

No projeto Manufactured Sites, o Estúdio Teddy Cruz + Fonna Forman explora os fluxos de resíduos e materiais. Através de uma série de fábricas montadoras, o projeto se tornou o resultado de uma década de pesquisas sobre a fronteira entre o subúrbio de San Diego e as favelas de Tijuana, no México. O projeto é, em sua essência, um sistema de andaimes que permite densificar Tijuana. O andaime funciona como uma estrutura sobre a qual podem ser dispostos caixotes de leite, pneus, folhas de metal corrugado, taipa e blocos de concreto, com ênfase particular no desenvolvimento vertical.

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Cortesia de Estudio Teddy Cruz + Fonna Forman

Conforme observa o estúdio, o sistema explora como a indústria de montadoras contribui com processos de pré-fabricação, para produzir excedentes e sistemas de micro-infraestruturas de apoio, que reforçam a habitação informal em Tijuana. A proposta Manufactured Sites consiste em uma estrutura pré-fabricada maquiladora, que atua como um mecanismo de dobradiça para mediar a multiplicidade de materiais reciclados e sistemas trazidos de San Diego e remontados em Tijuana. Este equipamento é também o primeiro passo na construção de um andaime maior, entrelaçado e aberto. Por sua vez, o quadro questiona o significado da manufatura, dos materiais e da habitação, no contexto da construção e abastecimento.

Ao considerar a migração de materiais, devemos também observar os sistemas que já transcendem as fronteiras criadas pelo homem. Ao contrário dos edifícios, as ecologias não respeitam fronteiras, elas podem se desenvolver em vários territórios e configurar sistemas complexos, operando em várias escalas. Há mais de uma década, o arquiteto sueco Magnus Larsson recebeu o Prêmio LafargeHolcim, por aplicar a biotecnologia para impedir a invasão do deserto em Sokoto, Nigéria. Esta técnica de "anti-desertificação das dunas" foi criada em resposta à iniciativa Green Wall Sahara. Larsson descreve como as dunas de areia no norte da Nigéria se movem para o sul, a um ritmo de cerca de 600 metros por ano. Desta forma, o Saara destrói quase dois metros de terra arável por dia, além de afastar fisicamente as pessoas de suas casas.

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Cortesia de Magnus Larsson

O plano foi usar microorganismos para conectar a areia solta no arenito e criar formações como dunas estáveis, para promover o esforço de esverdeamento do deserto. Ao utilizar Bacillus Pasteurii, a areia se solidificaria e ajudaria a conter a destruição causada pela desertificação. Essas dunas protegem novos oásis, onde as pessoas deslocadas pela desertificação podem viver. Embora seja uma abordagem conceitual, o efeito colateral dessa ideia territorial em grande escala é uma "arquitetura de dunas" que cruza as fronteiras nacionais. Ao olhar para a questão e sistemas mais amplos no Saara, Larsson obteve uma tipologia que repensa o potencial da arquitetura regional entre os países.

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Cortesia de Magnus Larsson
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Cortesia de Magnus Larsson

Os materiais em transição e os sistemas arquitetônicos podem ser feitos de peças que suportam a reciclagem, a pré-fabricação e o investimento local. Com sistemas naturais, a grande arquitetura é resultado de processos de construção circulares. Para o Superuse Studios, a arquitetura sustentável está enraizada em um ciclo contínuo de criação e recriação, uso e reutilização de materiais locais. Ao adotar a reutilização como uma estratégia de design circular, o estúdio está desenvolvendo estratégias para que as cidades conectem diferentes fluxos e integrem esses sistemas ao ambiente urbano existente.

Para o Superuse, as propriedades latentes de materiais e produtos usados oferecem valor agregado a novos produtos e edifícios. Isso se aplica a materiais de construção, bem como suprimentos de energia, recursos humanos, água, tráfego e ciclos alimentares. O estúdio distingue 14 fluxos diferentes, que entram e saem de edifícios e ambientes urbanos, de forma a criar várias plataformas de conhecimento e intercâmbio, que vão desde o mercado material (Harvestmap e Pulsapp) e conhecimento ambiental (woodguide.org) a uma coleção de conhecimento acessível sobre o uso circular de fluxos de recursos (cyclifier.org). Essas ferramentas estão abertas a outros arquitetos para apoiá-los no desenvolvimento de sua prática na construção, ao considerar a migração e reutilização de materiais.

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Cortesia de Superuse Studios
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© Frank Hanswijk

Além das manifestações físicas de movimentos materiais, ou ecologias em grande escala e sistemas circulares, existe também a migração que está transformando o abastecimento de materiais por meio das mudanças climáticas. Como observa Ksenya Samarskaya, os caminhos da migração geográfica são riachos com potencial de se tornarem rápidos córregos. "À medida que as regiões mais pressionadas e menos estáveis forem atingidas, as pessoas precisarão se deslocar. Portanto, olhe não apenas para o país em questão isoladamente, mas também para seus vizinhos, supondo alguns efeitos colaterais" no contexto da mudança climática e seu impacto socioeconômico. Esses efeitos colaterais se estenderão à migração de material e à construção, que está disponível em uma determinada área.

A migração de materiais continuará a moldar o ambiente construído. Através de forças examinadas e tidas como certas, bem como fatores da ocupação humana e da tradição, continuaremos a caminhar para um futuro onde a arquitetura se transforma através de suas condições materiais.

Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: Migrações. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos mensais. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.

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Sobre este autor
Cita: Baldwin, Eric. "Migração de materiais: como a arquitetura se transforma entre as fronteiras" [Material Migration: How Architecture Transforms Between Borders] 22 Ago 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/966061/migracao-de-materiais-como-a-arquitetura-se-transforma-entre-as-fronteiras> ISSN 0719-8906

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