Até onde vai sua autonomia? Sobre a emergência de práticas de envolvimento

As presentes reflexões emergiram do SENEMAU, Seminário Nacional de Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo, que aconteceu em Uberlândia, Minas Gerais, entre 9 a 18 de agosto de 2019. O encontro nacional que acontece desde 1997 reuniu 12 coletivos de estudantes de diversas cidades do país em uma imersão sobre a extensão universitária, o papel social e político dos arquitetos e urbanistas. O encontro autogerido pelos estudantes realizou uma mostra de trabalhos, debates sobre temas diversos, e vivências em territórios de interesse na cidade. 

Proposto no bioma do cerrado, o encontro foi organizado pelo escritório Buriti, recém formado por estudantes da Universidade Federal de Uberlândia, e teve como tema proposto a autonomia: até onde vai nossa autonomia? Como a arquitetura pode colaborar com comunidades a adquirirem mais autonomia? Como o exercício da autonomia pode transformar a sociedade?

Foto: Caipora Comunidade Rural

Os escritórios modelo são espaços autogeridos pelos estudantes, experiências situadas na periferia do sistema de aprendizagem, que possibilitam a prática em uma relação afetiva com os territórios e comunidades engajados, onde há maior liberdade, experimentação e aceitação do erro, do processo. O encontro reuniu estudantes de diversas cidades do país envolvidos em práticas mais ecologicamente e socialmente engajadas e profissionais que seguem atuando dentro deste espectro de metodologia de trabalho - dentre os convidados, estava Helga Tavares, Maurílio Chiaretti, Vinício Coeli, Liana Oliveira, Hélio Cavalcanti, Luiza Ribeiro, Jairo Santos, Mairla Melo, Maris Beatriz Cappello, Edmar de Almeida, Caio Santo Amore, do Peabiru, Flavia Burcatovsky do Sem Muros, e Marcella Arruda, do Instituto A Cidade Precisa de Você.

Foto: Caipora Comunidade Rural

Compreender a autonomia dentro de uma chave da criação das próprias regras, através da escolha de quais relações escolhemos alimentar e, portanto, manter vivas - e, dessa forma, como catalisamos sistemas socialmente justos e ecologicamente comprometidos, através de processos de cooperativos de organização social e da criação de uma cultura permanente, em equilíbrio com o ambiente. O mito do des-envolvimento e do progresso criaram uma cultura de exploração e violência, de uso irrestrito dos recursos e, portanto, em contraponto com a finitude e os limites do planeta. Diante de uma emergência das catástrofes contemporâneas, o cotidiano, os corpos, espaços, as relações de produção e consumo devem ser urgentemente transformadas; desde o micro ao macro.

Foto: Caipora Comunidade Rural

O pertencimento é visível e o envolvimento necessário: o planeta é um só, os ciclos naturais estão conectados independente da distância geográfica. O que acontece na Amazônia está conectado ao Sudeste, e vice e versa. A arquitetura, assim, é compreendida então como um sistema de relações vivas: com o abrigo, com a energia, o alimento, a água. Como nossa casa é construída, como a energia é produzida, como o alimento é plantado, como a água é utilizada? Arquitetos ou não, somos todos corresponsáveis pelo estado do mundo - o que podemos fazer com relação a isso?

Como desejamos outras arquiteturas - outras cidades? Como, através da arquitetura, podemos propor um modo de vida que volte a envolver os corpos ao ecossistema? Como criamos contextos férteis para a reprodução e recriação da vida? Como produzimos um outro mundo, que defenda a potência de vida e da diversidade, dentro do mundo existente? Quais as possibilidades da permacultura nas cidades?

Foto: Caipora Comunidade Rural

Os estudantes, as comunidades engajadas, os profissionais, todos deixamos o encontro com a necessidade da contínua partilha destes outros desejos, da potência dos afetos, da troca de experiências, e na certeza de que um projeto comum situado no espaço, no tempo, na cultura, no coletivo, emerge como possibilidade de um futuro agora. 

“O centro do pensar e do fazer da arquitetura é o uso: relacionado a uma cultura, a uma história, a procura sempre de uma arte de viver na natureza. Essa arquitetura deve ser realizada com materiais simples, disponíveis, em quantidade mínima, a serviço de uma estética formal forte, exprimindo uma simplicidade construtiva. Afinal, qualquer construção está submetida a uma realidade social.” - Edmar José de Almeida, a respeito de Lina Bo Bardi.

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Sobre este autor
Cita: Marcella Arruda. "Até onde vai sua autonomia? Sobre a emergência de práticas de envolvimento" 24 Ago 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/923408/ate-onde-vai-sua-autonomia-sobre-a-emergencia-de-praticas-de-envolvimento> ISSN 0719-8906

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