Da China à Colômbia, 5 cidades tornam suas ruas mais seguras através do desenho urbano

Em 2015, a comunidade global se comprometeu a reduzir pela metade as mortes e ferimentos gravesdecorrentes de acidentes de trânsito até 2020. Mas as ruas das cidades ainda não são seguras. Mais de 3.200 mortes nas vias ocorrem todos os dias, e este número deverá triplicar até 2030, à medida que aumenta o número de veículos nas ruas. Um adicional de 20 a 50 milhões de pessoas são feridas e deixadas com deficiências permanentes.

Os impactos ocorrem de modo generalizado. A produtividade econômica diminui. A qualidade de vida sofre. Como era de se esperar, cidades com redes viárias mal projetadas percebem os maiores danos. De fato, 90% das mortes no trânsito ocorrem em países de baixa e média renda.

Felizmente, viemos testemunhando um movimento global para repensar como as ruas são projetadas para todos os usuários. Tornar os espaços nas cidades mais seguros costumava ser limitado a certas cidades europeias como Amsterdã ou Copenhague, lugares onde um bom desenho urbano foi colocado em prática nos últimos 40 anos ou mais. Hoje, essas melhorias são sentidas em todo o mundo. Destacamos cinco cidades localizadas no Brasil, China, Colômbia e Índia que estão mudando a forma como as pessoas vivenciam as cidades. Cada uma está implementando intervenções inovadoras de desenho baseadas em evidências como parte da Iniciativa Bloomberg para Segurança Global no Trânsito.

São Paulo

Antes e depois da Rua Joel Carlos Borges. Foto: Daniel Hunter e Pedro Mascaro/WRI Brasil

A Rua Joel Carlos Borges conecta a estação de trem Berrini ao centro financeiro da cidade. A estação atende milhares de usuários diariamente. Antes de setembro de 2017, a rua tinha calçadas estreitas que não conseguiam acomodar com segurança o fluxo intenso de pedestres (cerca de 22,5 pessoas por veículo durante o horário de pico).

Como a rua é o principal caminho até a estação, ela representava um grande risco à segurança dos usuários. A cidade decidiu redesenhar a Joel Carlos Borges para incluir mais espaço para pedestres, melhorar a sinalização, diminuir os limites de velocidade e adicionar mobiliário urbano e infraestrutura verde. As calçadas estreitas e degradadas agora têm mais 3,5 metros de largura, oferecendo amplo espaço para o tráfego de pedestres.

Alargar as calçadas e estreitar as faixas de circulação reduz a velocidade do tráfego e cria uma experiência mais agradável e segura para todos. Este novo e melhorado desenho de “ruas completas” não apenas fornece padrões de ruas mais seguras, mas também lembra aos motoristas que a segurança de pedestres é crucial e deve ser a atenção prioritária ao dirigir.

Esta foi a primeira intervenção viária temporária na capital paulista e foi bem recebida pelo público. A cidade está agora considerando esforços semelhantes em outros locais.

Fortaleza

Antes e depois da Cidade 2000. Fotos: Rodrigo Capote/WRI Brasil

A Cidade 2000 é um bairro residencial durante o dia e um agitado bairro de restaurantes à noite. Apesar do grande volume de pedestres, o espaço da rua era fortemente dominado por veículos e tráfego, deixando pedestres e ciclistas vulneráveis.

Para melhorar a segurança dos pedestres, Fortaleza anunciou uma Área de Trânsito Calmo em maio de 2017, transformando 1.200 metros quadrados anteriormente utilizados para estacionamentos e faixas de tráfego em uma praça funcional para pedestres. Então, em setembro de 2017, o bairro recebeu a primeira transformação temporária de rua, chamada Cidade da Gente. A intervenção incluiu a remoção de uma faixa de tráfego, diminuindo o limite de velocidade para 30 km/h, alargando as calçadas e implementando extensões de meio-fio e cinco novos cruzamentos de pedestres. A transformação também incluiu arte de rua, infraestrutura verde e mobiliário urbano para criar um espaço claramente para pedestres e tornar a rua mais acolhedora.

O projeto mostrou aos moradores como o urbanismo tático pode trazer vida nova a ruas degradadas. Devido ao grande retorno positivo do público, a intervenção provisória está se transformando em uma instalação permanente. O prefeito também anunciou que a cidade vai realizar intervenções similares de baixo custo em outras áreas.

Mumbai

Cruzamento de Nagpada. Foto: WRI Índia

O cruzamento de Nagpada, como muitos outros em Mumbai, é caótico e desafiador para todos os usuários, motorizados ou não.

A junção triangular conecta seis ruas principais e alimenta muitos distritos escolares. Mas acomodava apenas 3 mil veículos por hora nos horários de pico, criando longos congestionamentos. Os pedestres tinham pouco ou nenhum espaço na calçada, e o que existia da calçada estava em condições muito precárias. Todos esses fatores levaram a uma interseção ineficiente, perigosa e confusa. Dados de acidentes viários revelaram que Nagpada era responsável por um terço de todas as mortes no trânsito em Mumbai.

Em agosto de 2017, a geometria triangular da interseção foi modificada temporariamente pela cidade para canalizar o tráfego e fornecer caminhos mais seguros para os pedestres. As distâncias de cruzamento foram reduzidas e travessias de pedestres foram instaladas em todos os lados da interseção. O projeto também recuperou um grande espaço de estacionamento ilegal e transformou-o em uma praça. O cruzamento caótico tornou-se um local de encontro da comunidade. O novo arranjo também facilitou o gerenciamento das interseções para a Polícia de Trânsito de Mumbai.

O sucesso do redesenho de Nagpada levou a cidade a comprometer-se com sua implementação permanente.

Bogotá

Cruzamento da Carrera 80 com a Calle 43 Sur. Fotos de Carsten Wass, José Segundo López/WRI

O distrito de Kennedy, em Bogotá, é bem conhecido por seu tráfego intenso de pedestres e bicicletas. Para muitos moradores de Bogotá que moram na periferia da cidade, a bicicleta geralmente é a maneira mais conveniente de deslocamento entre casa, trabalho, escola ou outros destinos.

Entre 2013 e 2017, no entanto, 61 acidentes de trânsito e uma fatalidade foram registrados no cruzamento da Carrera 80 com a Calle 43 Sur. Pedestres e ciclistas corriam risco devido à falta de sinalização e rampas, além da ausência de semáforos para pedestres e ciclistas atravessarem a rua com segurança. A presença de medianas mal projetadas ao longo da rua conduzia os ciclistas em sentido contrário aos veículos e ainda gerava conflitos com pedestres.

Para garantir condições mais seguras a todos que circulam no local, a cidade redesenhou o cruzamento em janeiro de 2018. A renovação incluiu a redução das medianas para melhorar o conforto e a segurança dos ciclistas e pedestres, acrescentando marcações para bicicletas e faixas de pedestre, melhores rampas de acesso às calçadas e ciclovias e semáforos para pedestres. A renovação proporcionou um caminho seguro, contínuo e separado para os ciclistas e melhorou o conforto e a segurança dos pedestres.

Xangai

Rua Zhengtong Road. Foto: WRI China

A Rua Zhengtong conecta o distrito comercial de Yangpu com uma escola secundária e com o campus da Universidade Fudan em Xangai. A rua de 15 a 20 metros de largura atende ao tráfego misto e fluxos intensos de pedestres.

Zhengtong não dispunha de infraestrutura de caminhada e bicicleta de qualidade, o que dificultava a passagem segura de pedestres e ciclistas. Outra preocupação era uma travessia de pedestres na frente de uma escola secundária que colocava os usuários em risco.

Para promover um ambiente mais seguro, o Distrito de Yangpu instalou ciclovias protegidas e melhorou as calçadas. O distrito também estreitou a rua, facilitando a travessia de pedestres, acrescentou materiais refletivos (alimentados por painéis solares) para locais de parada e colocou marcações nas ruas, sinais de alerta e outras placas na frente das escolas.

A transformação da rua foi bem recebida pelos funcionários do distrito e classificada como positiva pelos usuários de bicicleta e estudantes. A Rua Zhentong é agora usada como um exemplo de segurança viária no entorno de escolas de outros distritos de Xangai.

As vias urbanas são alguns dos nossos espaços públicos compartilhados mais fundamentais, mas também são um dos mais desafiadores e negligenciados. Certa vez um nicho dominado por apenas um punhado de lugares, as cidades em todos os lugares estão percebendo que pequenas mudanças de desenho viário geralmente produzem resultados impactantes.

Sobre os autores:
Nikita Luke é Assistente de Pesquisa em Saúde e Segurança Viária no WRI Ross Center for Sustainable Cities.
Ben Welle é Gerente Global de Saúde e Segurança Viária do WRI Ross Center for Sustainable Cities.

Via TheCityFix Brasil.

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Sobre este autor
Cita: Nikita Luke e Ben Welle. "Da China à Colômbia, 5 cidades tornam suas ruas mais seguras através do desenho urbano" 29 Jul 2018. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/899071/da-china-a-colombia-5-cidades-tornam-suas-ruas-mais-seguras-atraves-do-desenho-urbano> ISSN 0719-8906

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