Tippet Rise Art Center combina arquitetura, arte, música e as montanhas de Montana

O que Frederic Chopin, Alexander Calder e as Montanhas Beartooth, em Montana, tem em comum? Um dia longo de verão no Tippet Rise Art Center busca fazer as conexões audíveis, visíveis, e tangíveis.

Fundado pelos filantropos e artistas Cathy e Peter Halstead e inaugurado em junho de 2016, o Tippet Rise começou - e em grande parte permanece - como uma fazenda de trabalho. Ele se estende pelos 11.500 acres de colinas e planaltos aluviais do sudoeste. A oeste estão as nevadas Montanhas Beartooth. A leste, as colinas dão lugar às pradarias douradas que se estendem até o horizonte.

Nesta paisagem privilegiada, os Halsteads e equipe tem inserido estrategicamente enormes esculturas ao ar livre de Alexander Calder, Mark di Suvero, Stephen Talasnik, além de três obras especialmente encomendadas ao escritório espanhol de arquitetura Ensamble Studio. E escondido em uma pequena depressão perto da entrada da grande fazenda, o edifício LEED Platinum Olivier Barn serve tanto como acampamento base para os visitantes como uma sala de concertos de ponta.

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Portal Invertido no primeiro plano com o Portal Beartooth Portal ao fundo, ambos por Ensamble Studio. Imagem © Andre Costantini

Alban Bassuet, diretor do Tippet Rise, renomado especialista em acústica e ex-funcionário da Arup, liderou a equipe de arquitetura e acústica. Outros membros incluem a arquiteta de Wyoming, Laura Viklund, da Gunnstock Timber Framing; a Arup Engenharia; e os paisagistas Oehme, van Sweden & Associates (OVS).

Ressonância da Terra

Da pegada de carbono ao impacto visual, um princípio-chave direciona o projeto do ambiente construído: alterar o mínimo possível o meio natural, intensificando a conexão dos visitantes com ele.

Tippet Rise ocupa uma paisagem que, à medida que você se move por ela, está em um constante estado de fluxo. A infinidade das planícies a leste aparecem e desaparecem enquanto você se move na propriedade. Da maioria dos mirantes, as Montanhas Beartooth cobertas de neve permanecem uma bonita, mas não imponente, linha branca e azul no horizonte. Mas, ao se aproximar do topo da uma colina, elas podem aparecer de repente e de forma sublime. Quando você desce para uma das depressões verde-douradas da propriedade, elas desaparecem completamente.

"Nós olhamos tantos lugares, mas a primeira vez que eu dirigi por Tippet Rise e vi a paisagem se desdobrar, eu soube imediatamente este era o lugar", diz Cathy Halstead.

Olivier Barn / Alban Bassuet com Laura Viklund e Arup Engenharia. Imagem © Andre Costantini

Para minimizar o impacto, os edifícios são aquecidos e arrefecidos inteiramente por sistemas geotérmicos e iluminados por energia solar. As colinas mantem os estacionamentos ocultos até que você esteja praticamente em cima deles. O Oliver Barn parece à primeira vista apenas um celeiro. E a partir do terraço do celeiro, vê-se o Portal Invertido, uma obra especialmente encomendada ao Ensamble Studio, que parece ser um par de rochas depositadas por alguma geleira antiga em uma colina distante.

Mesmo que levemente, os artistas, arquitetos e designers de Tippet Rise deliberadamente brincam com variabilidade quase interminável da propriedade. Como os altos picos e planícies distantes, os edifícios e esculturas - e até mesmo as estradas que os ligam - aparecerem e desaparecerem e reaparecerem à medida que você se move pelo relevo da terra. Como resultado, o ambiente construído revela-se ao olhar como quando em uma única peça de música o compositor introduz, desconstrói e reprisa um tema musical.

Portal Invertido / Ensamble Studio. Imagem © Iwan Baan

A Acústica da Intimidade

Assim como escultura e arquitetura são projetadas para provocar conexões surpreendentemente íntimas com um vasto terreno, a simplicidade e a pequena escala da sala de música do Olivier Barn é projetada para envolver os ouvintes na vastidão do encontro musical.

"Quando você entra pela primeira vez no edifício, você é imediatamente cercado pelo calor e a beleza que vem de um celeiro de madeira", diz a arquiteta Laura Viklund.

Olivier Barn / Alban Bassuet com Laura Viklund e Arup Engenharia. Imagem © Andre Costantini

Bassuet explica que as dimensões do salão são inspiradas em espaços íntimos e envolventes como a sala no Palácio Esterházy, onde Joseph Haydn compôs e interpretou a música de câmara. O Snape Maltings Concert Hall da Inglaterra, um dos favoritos dos Halsteads, também foi uma importante referência. Assim como o Snape Malting, o Olivier Barn é construído com um teto inclinado e uma estrutura de madeira difusora de som que dá a sensação não de que a música está sendo projetada a partir do palco, mas que o público está, literalmente, dentro da música.

"Porque salas pequenas são menores que um grande salão (normalmente o dobro de seu tamanho), elas permitem reflexões mais fortes e curtas da parte de trás, que reforçam a sensação de envolvimento", explica Bassuet. "Com menos assentos, elas podem ter uma longa reverberação, e no geral sua acústica é íntima, clara, reverberante, alta, envolvente e rica".

Olivier Barn / Alban Bassuet com Laura Viklund e Arup Engenharia. Imagem © Andre Costantini

No entanto, para Bassuet a experiência de audição se estende para além da ciência da acústica, para abranger a totalidade das impressões dos sentidos do ouvinte. É por isso que, por exemplo, ele e sua equipe optaram por uma paleta limitada de materiais naturais em tons quentes. Eles realmente fazem a música 'parecer' mais bonita em nossas mentes, diz Bassuet.

Portal Beartooth / Ensamble Studio. Imagem © Erik Petersen

Para adicionar uma outra dimensão ao prazer, a equipe de projeto também colocou uma grande janela, virada para oeste, atrás da área de apresentações. A janela enquadra um conjunto crescente de colinas verdejantes que terminam em picos de azul escuro e, acima delas, uma faixa azul do céu. Enquanto a música acontece, ventos agitam a grama silenciosa, sombras nas montanhas distantes mudam gradualmente e as vacas pastam nas encostas para dentro da cena com uma lentidão pastoral.

"Durante uma apresentação, tempo e espaço, os ritmos da terra e da música e o ambiente construído se misturam em uma experiência única, extraordinária", diz Sarah Bird, diretora criativa da Tippet Rise.

Domo / Ensamble Studio. Imagem © Andre Costantini

Entre Arquitetura e Paisagem

A 15 minutos de carro do Olivier Barn, uma estrutura estranha de repente aparece após uma curva na estrada. Chamado Domo, é um trabalho enorme realizado pelo Ensamble Studio. Mas o que é isso exatamente? Uma estranha extrusão da própria terra? Algum tipo de ruína? Um local de rituais antigos?

Na verdade, é uma estrutura que testa os limites entre paisagem e escultura, escultura e arquitetura.

Domo / Ensamble Studio. Imagem © Andre Costantini

"Olhando o que moldou a nossa abordagem em relação à terra, à música e à arte na formação geológica de Tippet Rise, Cathy e eu percebemos que a terra era muito vasta e muito atemporal para estruturas ou formas de arte convencionais", escreve Peter Halstead.

Literalmente, o Domo é formado a partir da paisagem. É em grande parte construído a partir de terra extraída do Tippet Rise, e em seguida, moldado para ecoar suas formas geomorfológicas. Antón García-Abril e Débora Mesa, do Ensamble Studio, descrevem o Domo e seus outros dois trabalhos em Tippet Rise - Portal Beartooth e Portal Invertido - as "estruturas de paisagem que nascem dela e dão-lhe ordem, transformando energia em espaço habitável."

Portal Beartooth / Ensamble Studio. Imagem © Erik Petersen

À medida que você se move ao redor e através das constante mudanças de forma do Domo, você descobre sinais definitivos da mão humana, incluindo a superfície polida e uma saliência em balanço. O balanço parece à primeira vista como uma formação natural, mas olhando bem, parece desafiar a física - outro sinal de que você está encontrando arte ao invés de natureza.

No entanto, o balanço também é uma peça complexa de design que torna a escultura maciça em uma obra de arquitetura: isto é, uma concha acústica muito incomum. A saliência protege os artistas dos elementos do tempo. Ela também foi pensada para projetar música com impressionante variedade e força em todo o terreno circundante.

Domo / Ensamble Studio. Imagem © Andre Costantini

Acabando com a Extravagância

Tudo isso soa como o tipo de lugar rarefeito que poucos tem a sorte de acessar por uma pista de pouso privada. A realidade é completamente o oposto. No fim de semana que eu fui, a maioria dos convidados vinham de fazendas vizinhas. Nas palavras de Sarah Bird, os Halsteads foram muito claros em seu desejo de "acabar com a extravagância" que muitas vezes fica no caminho entre a arte e o público.

Primero plano: Dois Discos / Alexander Calder (empréstimo do Museu Hirshorn) Ao fundo: Olivier Barn / Alban Bassuet com Laura Viklund e Arup Engenharia. Imagem © Andre Costantini

O portão de entrada do Tippet Rise parece com o de qualquer outra fazenda da área, exceto, talvez, pela fonte sutilmente minimalista da sinalização. A sala principal de música não é enfeitada com planos verticais atraentes, curvas ou revestimentos reluzentes metálicos. E o preço também não é nada pretensioso. Bilhetes para concertos custam US$ 10. E por mais US$ 10, os visitantes podem aproveitar um churrasco em estilo buffet e se juntar a seus companheiros nas mesas comuns de piquenique.

Em outras palavras, uma noite em Tippet Rise custa aproximadamente o mesmo que um filme e um lanche no McDonalds. Só que o menu de Tippet Rise inclui carne ao molho de mirtilos colhidos no local, costela marinada com cereja, um bom pinot noir e, em uma das noites que participei, cada um dos études de Chopin foram reproduzidos em ordem e de uma só vez - um feito de incompreensível complexidade.

Quarteto de Beethoven / Mark di Suvero. Imagem © Andre Costantini

As performances desta temporada já estão esgotadas, mas é possível fazer um tour na propriedade e visitar as esculturas de sexta-feira a domingo, das dez da manhã as seis da tarde. O número de visitantes são limitados. Faça sua reserva em tippetrise.org.

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Sobre este autor
Cita: Landon, Robert. "Tippet Rise Art Center combina arquitetura, arte, música e as montanhas de Montana" [Tippet Rise Art Center Combines Architecture, Art, Music and Mountains in Montana] 05 Ago 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Moreira Cavalcante, Lis) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/792336/tippet-rise-art-center-combina-arquitetura-arte-musica-e-as-montanhas-de-montana> ISSN 0719-8906

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