O artista Mark Lascelles Thornton fala sobre sua obra "The Happiness Machine"

O artista Mark Lascelles Thornton fala sobre sua obra "The Happiness Machine"

Há pouco mais de ano, publicamos uma ilustração em andamento que fisgou nossa atenção e imaginação pela combinação de sua enorme escala e seu detalhamento meticuloso. Agora, "The Happiness Machine," um desenho de 2,44m x 1,52m, de Mark Lascelles Thornton, está completo, após três anos e mais de 10 mil horas de trabalho árduo.

Lascelles Thornton, um artista autodidata que mora em Londres, que descreve a si mesmo como "uma daquelas crianças que estava desenhando antes mesmo de caminhar", concebeu a obra como resposta pessoal à crise financeira global, focando em temas socioeconômicos como consumismo, globalização, escassez de recursos, urbanismo e arquitetura. Nós conversamos com Lascelles Thornton sobre sua obra, discutindo os temas da peça e o compromisso - ou, como ele descreve, "engenharia emocional" - necessária para esta empreitada colossal.

Leia a entrevista completa e veja algumas imagens detalhadas do trabalho, a seguir.

O artista Mark Lascelles Thornton fala sobre sua obra The Happiness Machine - Mais Imagens+ 16

© Mark Lascelles Thornton

A criação deste projeto levou 3 anos - aproximadamente quanto tempo real de desenho ele envolveu, quantas horas?

Eu iniciei o desenho há 3 anos, em agosto de 2011. Em termos de tempo de desenho real fica um pouco mais complicado - eu diria que foram bons dois anos de desenho, mas eram mais de 100 horas por semana. Períodos muito focados. Até mesmo obsessivos. Você não dorme direito, não come direito. Antes que perceba você está com essa grande barba espessa e acha que vai levar uma boa hora para se livrar dela, mas você não pode desperdiçar esta hora. É apenas uma hora, mas é tempo precioso de desenho.

Demora umas boas cinco horas antes que minhas mãos estejam funcionando de forma eficiente. Depois de 10 ou 15 horas você pode desenhar praticamente qualquer coisa e você não quer parar. Esta, obviamente, não é uma maneira muito saudável de existir, e você precisa de um certo tipo de engenharia emocional. Mas você também precisa pontuar o processo com pausas, e é aí que entra em jogo o ano extra. São 10 mil horas ao longo de dois anos, com pausas que, somadas, equivalem a um ano.

© Mark Lascelles Thornton

O que fez você decidir enfrentar um projeto de desenho tão monumental como este?

Eu vinha realizando trabalhos pequenos durante muitos anos. Desenhos que me tomavam duas semanas. Desenhos de um mês. Dois meses no máximo. Eu queria mudar de direção e tive esse enorme anseio de produzir algo com uma escala real. Você pode facilmente passar batido por um pequeno desenho. Eu queria produzir algo que você simplesmente não pudesse ignorar.

© Mark Lascelles Thornton

O que estava por trás do processo de desenho - foi meticulosamente planejado anteriormente ou ele foi surgindo à medida que ia sendo realizado?

Pensei nisso por alguns anos. O colapso financeiro de 2008 desempenhou um papel fundamental na sua criação, com certeza. De repente, tudo está sob ameaça e você fica sendo dito por seus líderes políticos para ir às compras. É completamente louco, e eu queria dizer algo sobre isso. Realizei diversas investigações, procurando respostas. Como chegamos a esta confusão? Esse tipo de pesquisa é um trabalho constante, e você está olhando para uma infinidade de temas interligados. Consumismo, economia e recursos finitos.

A imagem não se formou em minha mente até que ousei entrar em um daqueles supermercados de dois andares. Estes são um conceito relativamente novo no Reino Unido. Eu estava no mezanino deste complexo de supermercado de vários andares, e, diante de mim, no andar térreo, estava o que parecia uma metrópole. Corredores de supermercados que pareciam quarteirões da cidade, completos com cabos e aparelhos de ar condicionado sobre os refrigeradores. Como olhar para uma cidade de cima do edifício Empire State. Um desses momentos de epifania, eu acho. A imagem básica se formou na minha mente em questão de segundos.

© Mark Lascelles Thornton

Qual é o significado ou a mensagem por trás do desenho - a relação entre as pessoas em primeiro plano e os arranha-céus ao fundo é importante?

Bom, como um artista que você não quer dizer muita coisa além do que a imagem quer representar. O espectador tem uma participação de 50% no seu verdadeiro significado. "O que este feto está fazendo aí?", geralmente esta é a primeira reação. Ainda estou para ouvir alguém perguntar "O que esta cidade está fazendo lá?"

Eu acho que é muito mais interessante porque você está entrando no tema das relações humanas. Sem relações não há nada. Toda a nossa civilização é construída sobre elas, e agora estamos colocando tudo em risco com o uso irresponsável dos recursos finitos. Há esta grande questão sobre a forma como todos nós iremos utilizar nossos carros quando o petróleo acabar, ou ficar caro demais. Nós não temos a energia para utilizar milhões de carros elétricos ainda, a realidade é que estamos grosseiramente superpovoados e vamos ficar sem comida, antes de tudo. Esta é a questão que temos de enfrentar.

© Mark Lascelles Thornton

O esquema de cores vermelho e preto é bastante marcante - há algum significado para o uso do vermelho, ou qualquer significado na colocação da cor?

Você pode discriminar qualquer país, cidade ou cidadão em duas cores, preto e vermelho. É uma questão de dinheiro. Ou se habita uma cor ou outra. A maior parte do mundo vive no vermelho, e isso é apenas a declaração de um fato. Então, chegamos à questão da dívida, déficit e um sistema econômico que necessita de crescimento. No momento há uma falha nessa ideia econômica, porque você não pode crescer para sempre. Cedo ou tarde você ficará sem recursos.

Sustentabilidade é uma palavra um pouco complicada, mas a imagem, de alguma forma, ilustra um mundo que tem vivido uma vida bastante insustentável. Sabemos como construir um edifício de baixa energia para o Bank of America ou Bank of China, ou seja quem for. Mas a construção não é nada sem seus ocupantes. Seriam as práticas dos ocupantes sustentáveis? No momento em que a resposta é não, então, por enquanto, todo o conceito cai.

© Mark Lascelles Thornton

Quando se trata dos arranha-céus icônicos ao fundo, Londres é talvez excessivamente representada, considerando a quantidade inferior de edifícios em altura que possui em relação a outras cidades. Isso é, simplesmente, porque você está em Londres, ou você acha que há algo específico nos arranha-céus de Londres que se presta a esse desenho?

Bem, Londres é sim meu centro e posso confessar que há um pouco de auto-indulgência. É verdade, os arranha-céus de Londres não podem competir em altura com os dos EUA e da China, mas eu precisava que eles competissem. Eu os trouxe para o primeiro plano, em parte como uma necessidade da composição e, em parte, porque eu só queria desenhar um grande Leadenhall Building. É aí que a minha auto-indulgência entra. Ele é, provavelmente, meu edifício favorito.

Mas acima de tudo, a localização central de Londres tem algo a ver com tempo médio de Greenwich. As Américas, a oeste, e China para o leste. É, espero, representativo de uma cidade. Uma cidade global ou uma cidade compacta, talvez. As cidades tornaram-se mais proeminentes do que os países no século XXI. Isso, provavelmente, sempre foi o caso, mas é muito mais evidente agora. E com as estatísticas sugerindo que a maioria da população mundial estará vivendo nelas, não é uma ideia que pode ser facilmente descartada.

Impressões em tamanho B1 (1000 x 707 mm) do The Happiness Machine podem ser adquiridas aqui.

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Sobre este autor
Cita: Stott, Rory. "O artista Mark Lascelles Thornton fala sobre sua obra "The Happiness Machine"" [Artist Mark Lascelles Thornton On His Completed Masterwork: "The Happiness Machine"] 08 Set 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/627009/o-artista-mark-lascelles-thornton-fala-sobre-sua-obra-the-happiness-machine> ISSN 0719-8906

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