Arquitetura para o Apocalipse (Agora)

O vencedor do Segundo Prêmio do New York City Vision Context imaginou uma cidade de Nova York como Patrimônio da Humanidade, protegido dos elementos com uma barreira de parede. 

Em 1945, os Estados Unidos jogaram 2 bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Enquanto o ato devastou e destruiu estas cidades japonesas, também criou um clima político inteiramente novo, baseado em temores apocalípticos. Como as tensões com a Rússia Soviética aumentaram, e os Estados Unidos entraram numa era de destruição nuclear potencial, a própria paisagem adaptada em resposta - tornando-se cheia de bunkers e abrigos - "respostas concretas às preocupações políticas sociais e existenciais da era atômica."

Avançando rapidamente aproximadamente setenta anos, estamos atualmente confrontados com um novo cenário apocalíptico. Supondo que você está lendo isso, todos nós sobrevivemos ao Apocalipse Maia. Parabéns. No entanto, isso não quer dizer que nossos temores apocalípticos, e sua arquitetura resultante, vieram e foram. Nosso apocalipse é mais baseado no medo dos desastres naturais - furacão, tornado, doença viral, até mesmo pessoas infectadas - zumbis - do que ataque nuclear, e nossa arquitetura apocalíptica tem menos de diversos tipos de bunkers, e mais de fazendas / fortalezas verticais. Vamos chamá-la de DES:Design Extremamente Sustentável.

O Svalbard Global Seed Vault as visto no pôr-do-sol. Image © Global Crop Diversity Trust

Considerando que os bunkers dos anos 1950 foram feitos com o intuito de proteger de um ataque nuclear vindo de cima (na verdade, usando os telhados verdes como camuflagem), as estruturas apocalípticas de hoje são muito mais propensas a ter um telhado verde para fins de produção de alimentos apenas. Quando ocorre um desastre natural - seja enchente, seca, ou um terremoto - será a escassez de recursos (mais do que o próprio desastre), que irá se revelar o fator mais perigoso. Na verdade, um dos poucos bunkers mais recentes a ser construído não está nem perto de ser um bunker para as pessoas, mas sim para plantar sementes - as primeiras vítimas da mudança climática.

Citadel Skyscraper, a fortaleza contra tsunamis de Victor Kopeikin + Pavlo Zabotin © Victor Kopeikin + Pavlo Zabotin.

E enquanto uma fortaleza contra tsunamis pode parecer a melhor resposta (veja o projeto para uma fortaleza à prova de tsunami, um "escudo de defesa [...] das forças destrutivas da natureza", acima) a maioria dos arquitetos reconheceria que nenhuma estrutura feita pelo homem sobreviverá a ira da mãe natureza para sempre. Afinal, esses bunkers que foram construídos na década de 50 para suportar um ataque nuclear, já começaram a mostrar sinais de decadência. E, como qualquer espectador do Life After People do History Channel sabe, de uma forma ou de outra, mesmo os maiores edifícios irão sempre, eventualmente, cair.

Então, há uma arquitetura que poderia sobreviver ao apocalipse do século 21? Dê uma olhada em algumas das características necessárias sugeridas neste post sobre Arquitetura Sobrevivente, via Coffee With An Architect:

Envelope do edifício energeticamente eficiente - Em um ambiente de recursos escassos, quanto menos energia um edifício requer, melhor.

Orientação solar passiva - Chave tanto para o aquecimento passivo e iluminação natural, este é um elemento essencial para qualquer composto de sobrevivência.

Sistemas de captação de chuva - Concordemos, não há um cenário em que a água potável e serviços de esgoto sanitário permanecerão operacionais, logo, um sistema de reaproveitamento de água básico é realmente um item não negociável de qualquer projeto.

Cobertura verde - (especificamente um jardim no terraço) Cultivar a própria comida é sempre uma boa ideia, cultivar alimentos em um local razoavelmente defensável e oculto é outra.

Energia Solar / Fotovoltaica - Enquanto a probabilidade de encontrar peças de reposição em um terreno baldio pós-apocalipse é remota, a disponibilidade de eletricidade poderia ser particularmente útil durante o período de transição, desde que seus vizinhos não saibam que você tem.

Turbinas eólicas - similares à energia fotovoltaica, exceto que todo mundo vai saber que você tem.

Materiais de vida longa / fácil manutenção - Você vai estar muito ocupado lidando com o dia-a-dia de estocar mercadorias e procura de alimento, a última coisa que vai estar em sua mente é: "Quando foi a última vez que eu limpei as calhas? "

Materiais com baixo teor de COV (Compostos Orgânicos Voláteis) - Há uma chance significativa de que você estará gastando muito tempo em ambientes fechados, a última coisa que você precisa é estar lidando com claustrofobia ao mesmo tempo.

As descrições pós-apocalípticas acima parecem mais com uma lista de verificações para a certificação LEED do que a sobrevivência ao apocalipse. Que é exatamente o ponto.

Uma das entradas para a Zombie Safe House Competition © 2011 Zombie Safe House Competition.

Como Matt Jordan, um dos arquitetos por trás de "Look Out House", a vencedora do terceiro prêmio na competição Architects Southwest Zombie Safe House (projeto de casas para o apocalipse zumbi), disse ao The Economist: "ela precisa ser simples e sustentável, capaz de gerar sua própria energia, alimentos e água, e de gerenciar seus resíduos [...] Isso amplias as ideias de "fora do sistema" e "sustentabilidade", ajudando a tensionar os limites e imaginar como poderíamos viver se nossas conveniências modernas fossem retiradas de nós." Design Extremamente Sustentável (DES).

E no final (literalmente), DES se resume a projetar edifícios que trabalhem com a natureza ao invés de contra ela. 

Ted Givens, da 10 Design em Hong Kong, está levando essa premissa como tema de sua própria pesquisa, buscando aplicar design cinético na arquitetura de uma forma que nos permita adaptar-se a ambientes climaticamente inseguros. Em suas representações para seu "Subúrbio à Prova de Tornado", Givens descreve sua abordagem: "Ao invés de tentar dominar e transformar a paisagem, jogando fora a homeostase ecológica natural de um ecossistema, este projeto oferece uma solução que funciona dentro dos parâmetros do ambiente, aprendendo com ele e respondendo a ele de forma passiva."

Projeto de 10Design para um "Subúrbio à Prova de Tornado" © 10Design.

De fato, visto desta forma, a arquitetura apocalíptica é realmente nada diferente de arquitetura utópica. Como John McMorrough escreve em "Design for the Apocalypse:"

"Em um mundo de complexidade esmagadora - de economia de soma zero e pico de petróleo - o apocalipse não surge como problema, mas como resposta. O 'fim' também implica um 'começo' - uma chance para recomeçar e repensar. [...] Para passar do utópico ao apocalíptico não é apenas definir os termos de uma relação adversa, mas entender a sua semelhança."

Enquanto DES pode significar o fim, também é um lembrete do início – um que a prevalência do design ecológico e sustentável prova que nós já começamos a experimentar o fim. O Apocalipse é agora. E não é tão ruim.

Sobre este autor
Cita: Fernanda Britto. "Arquitetura para o Apocalipse (Agora) " 12 Jan 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-90932/arquitetura-para-o-apocalipse-agora> ISSN 0719-8906

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