Practice 2.0: 10 Anos de Smart Geometry

Por: Daniel Davis & David Fano do CASE

Este ano marca o décimo aniversário da Smartgeometry. Para arquitetos, esta foi uma década de inovações constantes e pouca estagnação. Neste artigo revemos o sucesso da Smartgeometry e nos perguntamos por que a indústria da construção não está acompanhando a tecnologia.

Os incentivadores originais da Smartgeometry - Lars Hesselgren, J Parrish, e Hugh Whitehead – trabalharam juntos no YRM (agora parte do RMJM) no final da década de 80. Juntos ajudaram a introduzir a modelagem paramétrica e a geometria associativa no campo da arquitetura, e testemunharam como análises estruturais de três dimensões em estágio inicial e detecção de conflitos em estágio avançado podem mudar o nossa forma de trabalhar. Ainda em 2003, perguntaram-se desiludidos: "Por que mesmo depois de dez anos ainda não podemos sequer nos aproximar da capacidade que tínhamos então?" [1]. Em outras palavras, por que a indústria da construção falha em manter o passo, ou pior, fica para trás. Foi uma questão que inspirou a primeira conferência da Smartgeometry, e é uma questão que ainda ecoa uma década depois.

A segunda Smartgeometry (2004) começou com um workshop. Os participantes se reuniam em torno de laptops e juntos dividiam seu conhecimento em modelagem paramétrica - um assunto na época ainda predominantemente sob o domínio de construtores de barcos, engenheiros aeronáuticos e acadêmicos. O software era pesado, o equipamento era lento, mas o workshop foi um sucesso. Eles se tornaram os pilares da Smartgeometry e prenunciaram o que aconteceria nas escolas de arquitetura pelo mundo todo apenas uma década depois: estudantes ao redor de laptops compartilhando conhecimento sobre modelagem paramétrica, maneiras de desenvolver circuitos eletrônicos e métodos de controlar robôs. Os créditos são de  Lars, J, e Hugh, do primeiros participantes, e da patrocinadora e defensora do Smartgeometry: Bentley

A Smartgeometry deste ano foi foi organizada pela Bartlett em Londres e foi mais uma vez patrocinada pela Bentley. O evento viaja a uma nova cidade todo ano e essa foi a primeira vez no Reino Unido desde 2006. O período de sete anos catalisou uma transformação impressionante. Neste ano, a Smartgeometry cresceu e acomodou mais de uma centena de arquitetos, acadêmicos e estudantes. Um número ainda maior se juntou nos dois dias de palestras no final da conferência. Houve até visitas surpresa de arquitetos famosos curiosos para ver como pode ser seu futuro. Nos bastidores uma equipe de voluntários conseguiu de alguma forma  manter no evento a sensação de uma pequena comunidade, ao passo que cada vez mais ele se torna uma grande parte na comunidade arquitetônica.

A ligação entre o evento deste ano e o exercício da arquitetura não é necessariamente óbvia. Participantes se ocuparam coreografando robôs, desenvolvendo software, dirigindo câmeras térmicas, discutindo matemática e construindo modelos paramétricos. Construção teve uma parte menor no tema neste ano em relação às conferências anteriores, com metade dos grupos neste evento produzindo resultados inteiramente digitais. Foi uma realidade alternativa de arquitetura, frequentemente discutida, mas raramente vista. Esta conferência apresentou, de certo modo, o embrião do que os arquitetos trabalharão no futuro, ou ao menos de como trabalharão. Os participantes se sentaram um ao lado do outro - alunos de graduação trabalhando com professores, trabalhando com engenheiros de software, trabalhando com gerentes sênior de CAD. Juntos trabalharam em direção à tese central da Smartgeometry: tecnologia ganha relevância através da sua aplicação e compartilhamento.

Um dos projetos mais interessantes a sair do workshop foi RoboticFOAMing, liderado por Marjan Colletti, Georg Grasser, Kadri Tamre, e Allison Weiler. Os dezesseis participantes usaram o plugin HAL para Grasshopper para coordenar os movimentos de três robôs ABB. Os robôs foram treinados para trabalharem juntos, pegando três superfícies unidas por espuma e separando-as. A espuma se esticou como chiclete em arcos e colunas truncadas onde se estabeleceu uma forma solidificada. Sua questão na oficina foi como materiais podem ser imprevisíveis quando usados de formas previsíveis; como a precisão robótica pode interagir com propriedades heterogêneas dos materiais.

Stig Nielsen e Mani Williams analisam a performance térmica do elemento de fachada ligado à câmara de de testes no centro da imagem. Foto cortesia de Bentley

Thermal Reticulations foi liderado pelos veteranos da Smartgeometry Mark Burry (que discursou na primeira Smartgeometry em 2003) e Jane Burry, juntamente com uma equipe de líderes que incluía Alexander Pena de Leon, Kamil Sharaidin, e Flora Salim. Eles trouxeram, de Melbourne, uma caixa equipada com sensores de calor e testaram a performance térmica de elementos de fachada localizados em uma das extremidades da caixa. Estes resultados foram comparados a simulações digitais, alimentando os projetos com dados provenientes de uma rede de mais de uma dúzia de softwares. Os grupos mostraram como simulações em estágios iniciais podem ser estendidas além da simulação digital, também demonstraram as complexas questões de interoperabilidade que arquitetos contemporâneos enfrentam quando encadeiam uma série de pacotes de softwares díspares.

Stefan Müller ajusta a posição de um edifício enquanto um projeto em tempo real sobrepõe sombras simuladas. Foto cortesia de Bentley

Projections of Reality desenvolveu um sistema em que os objetos colocados sobre uma mesa eram identificados por um sensor Kinect e então geravam uma simulação projetada sobre a mesa. Isto envolveu vários dias desenvolvendo software e calibrando projetores, mas o resultado final foi uma paisagem urbana que poderia ser intuitivamente manipulada e simulada; uma interface concreta para dados. O projeto se assemelha ao workshop Interacting with the City do evento de 2011, e se aproxima ainda do Illumiroom da Mircosoft Research. Com os avanços em realidade aumentada sendo feitos rapidamente, Projections of Reality sugere um futuro onde informações virtuais são sobrepostas a objetos manipulados pelos arquitetos no mundo real.

E é aqui que reside a luta da Smartgeometry: inovações na década passada ocorreram em grande parte fora do campo da arquitetura. O workshop Interacting with the City foi um projeto interessante em 2011, mas a Microsoft já está perto de lançar tecnologia parecida como um produto de consumo em 2013; Projections of Reality faz uma boa demostração, mas será a Google e outras companhias de tecnologia que irão capitalizar isso no novo mercado. Arquitetos já viram isso acontecer muitas vezes, foram alguns dos primeiros a usar impressoras 3D, imprimiram modelos em gesso de seus edifícios, escreveram manifestos proclamando como o mundo estava à beira de uma grande revolução, e então pararam. A revolução foi cedida a companhias como Shapeways e Makerbot, enquanto os arquitetos diziam apenas "eu avisei".

Para toda a inovação que tem acontecido na última década - por mais que Lars, J, e Hugh tenham tentado nos levar de volta à capacidade que tinham no YRM - o exercício da arquitetura não mudou substancialmente. Edifícios ainda são caros, ainda causam danos ao meio ambiente, ainda são arriscados, ainda levam muito tempo para serem projetados e construídos. Para a maioria dos arquitetos, conceitos como Building Information Modeling ainda são considerados inovações apesar de estarem no mercado há mais de uma década. Compare isto à indústria de celulares. Há dez anos atrás participantes chegaram à Smartgeometry  com celulares com dez botões e uma tela em preto e branco. Usaram o telefone para fazer ligações e enviar mensagens SMS escritas com as telas numéricas como se estivessem usando código Morse. Os discursos neste ano foram preenchidos com smartphones. Participantes se conectaram à internet, deslizando sobre telas coloridas, tirando fotos e compartilhando-as no Facebook, Twitter e Instagram - três companhias que nem sequer existiam há dez anos. Essas empresas estão ganhando milhões com o design de ambientes virtuais para pessoas se conectarem; arquitetos ganham centavos para projetar os ambientes físico que as abrigam.

Então enquanto a Smartgeometry deste ano nos deu um vislumbre de um possível futuro da arquitetura, ainda - uma década depois - não encontrou a resposta para a questão: "Por que mesmo depois de dez anos, ainda não podemos nos aproximar do tipo de capacidade que tínhamos então?" Por que a tecnologia está desenvolvendo tantas outras indústrias e deixando de lado a arquitetura? Por que os arquitetos não estão à frente dessas revoluções tecnológicas? Suspeito que seja porque arquitetos gostam de observar eventos como a Smartgeometry, gostamos de ver os resultados oficiais e nos maravilhar com as engenhocas, mas em última instância vemos como nosso papel criar edifícios, e não a tecnologia que os transforma.

Cite: 1. Peters, Brady, and Terri Peters, eds. 2013. Inside Smartgeometry: Expanding the Architectural Possibilities of Computational Design.

Sobre este autor
Cita: Jordana, Sebastian. "Practice 2.0: 10 Anos de Smart Geometry" [Practice 2.0: 10 Years of Smart Geometry] 06 Ago 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Marcon, Naiane) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-132327/practice-2-dot-0-10-anos-de-smart-geometry> ISSN 0719-8906

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