Borja Fernández

NAVEGUE POR TODOS OS PROJETOS DESTE AUTOR

Clássicos da Arquitetura: Laboratórios JORBA (La ‘Pagoda’) / Miguel Fisac

Quais são as condições e fatores que fazem com que uma obra de arquitetura se transforme em um ícone, um clássico? E o que isso tudo tem a ver com a construção da memória coletiva do lugar? Primeiramente, uma obra de arquitetura icônica deve ser capaz de despertar a admiração por suas características e formas únicas. O nascimento de um ícone da arquitetura tem a ver com uma série de fatores históricos, e principalmente em como ela ecoa o espírito de seu tempo. Ainda assim, algumas destas obras perecem e desaparecem prematuramente, passando a habitar um outro território: o território mítico da memória. La ‘Pagoda’ de Miguel Fisac, é um destes ícones míticos da arquitetura, o qual começou a ser construído em 1965 e foi demolido - em um evento carregado de teatralidade e dramas sociais - em poucos dias durante o mês de julho de 1999, trinta e poucos anos depois.

Carinhosamente apelidado de La ‘Pagoda’ pelos madrilenhos, evidenciando sua semelhança com as construções asiáticas, o icônico edifício de Fisac nunca foi  uma obra unânime entre a comunidade de arquitetos. Ao longo de sua construção, auge e declínio, o Edifício de Laboratórios JORBA passou por uma centena de episódios e eventos trágicos: denúncias movidas por instituições religiosas, negligência por parte de seus administradores, especulação imobiliária, ciúmes profissionais e uma comunidade incapaz de compreender e apreciar a qualidade de uma obra de arquitetura que, nos dias de hoje, é vista como um mito ou mártir; vítima de uma injusta demolição. 

‘Bizarre Columns’: a desconstrução da coluna, por ENORME Studio

Coluna [Sust. f. do lat. columna] Elemento de suporte vertical e alongado, generalmente de seção circular, que serve para decorar e dar suporte a outros elementos estruturais. 

Carlo Scarpa, o arquiteto da água

Desde a sua mais tenra idade, Carlo Scarpa, aquele que se tornaria um dos mais importantes arquitetos italianos de todos os tempos, tinha muito presente o elemento fundamental que descreveria e fundamentaria sua obra muitos anos depois: a água. Enquanto brincava e se divertia por entre aquele emaranhado de vielas e canais, Scarpa vivenciava todo um universo de informações, especialmente a riqueza de estímulos que sua cidade natal o oferecia. Sua enorme sensibilidade para com o espaço è fruto dos estímulos que lhe proporcionava Veneza, sua mais bela inspiração. Sua devoção pelo simples, pelo despretensioso, exatamente o contrário da exuberância, do cenográfico e ostensivo, vai sendo construída pouco a pouco; a arte, o espaço e a história estavam presentes em suas leituras, em sua viagem em direção ao conhecimento.

Carlo Scarpa desenvolveu sua arquitetura à partir de sua extraordinaria cultura visual e de seu respeito pela tradição; percorrendo as evidências do passado e reinterpretando-as à sua manera, transformando-as em espaço arquitetônico onde todas as peças são unidades independentes mas bem orquestradas, uma narrativa espacial que, como ele mesmo dizia, poderia ser interpretada como uma música. Utilizava toda sua sabedoria e sensibilidade para se posicionar em relação ao passado, às preexistências. Mergulhando na história e interpretando o passado, construía suas obras de modo que valorizassem o contexto onde estavam inseridas. 

RCR Arquitectes: território, paisagem e vida como um único relato imanente

O arquipélago catalão está conformado, em quase toda sua extensão, por uma pequena serra que o acompanha crescendo desde a linha da costa, tangente ao mar, formando falésias, até as poucas dúzias de quilômetros que conformam sua máxima expressão.

A própria arquitetura desta porção costeira tende a ser catalogada, recorrentemente, como arquitetura catalã; obviando e contaminando a arquitetura própria de terra, escura, sombria, pesada. Uma arquitetura - a interior - de digestões lentas, de luz de fundo e ar imóvel, que soa diferente.

Ao noroeste, encontramos uma região onde as faias permanecem imóveis e crescem a uma altura inferior a qualquer outra área do país. Onde a luz é mais suave, turva, onde as sombras são mais tênues e mais profundas. Onde chove diferente. Onde se fala diferente. Onde os campos são diferentes. Aqui vivem. Aqui trabalham. Falamos de Olot. Falamos de RCR.