Em defesa do edifício Emoji e da arquitetura poder ser divertida, às vezes

É sempre fascinante quando a arquitetura rompe os limites da profissão e torna-se um tópico de debate no campo mais amplo. Felizmente, graças à internet, não faltam ocasiões como essa: seja o artigo que se espalhou tanto que encontrou um cliente para um improvável projeto de uma casa em um penhasco ou fóruns que de repente decidiram que a arquitetura moderna parece “malvada”, os virais garantem que há muitas oportunidades para o leigo oferecer suas contribuições na produção de nossa profissão.

A sensação do verão de 2017 foi a Fachada Emoticon de Attika Architekten. Este edifício cuidadosamente sensato e educado chamou a atenção do público graças à inclusão de adições decorativas em forma de emojis. Enquanto a maioria da internet respondeu com olhos de coração, não faltaram pessoas que consideraram que estes emojis esculpidos são uma indicação clara de que a arquitetura, e por extensão a sociedade, e por extensão toda a vida como a conhecemos, está condenada, e nunca se recuperará. Tal opinião é legitimada por artigos como este em Wired, de Sam Lubell, que, ao reportar sobre o edifício, encontrou dois especialistas dispostos a fazer um grande e velho sorriso amarelo para a obra de Attika Architekten. Dado o papel que esses especialistas desempenham na condução da conversa entre o público, seus argumentos foram aqui analisados.

O primeiro é Sean Khorsandi, professor de história da arquitetura, que argumenta que “arquitetura é assunto sério. Estamos usando materiais copiosos e estamos ocupando a terra. Existe uma responsabilidade que vai junto com isso. Se tudo é uma piada; reduzida a esta moda descartável do "eu gosto disso no momento", essa é uma atitude perigosa de se ter". Lubell acrescenta que Khorsandi " acha que a maioria das discussões sobre o prédio se concentrou nos emojis, não em seu projeto bastante trivial".

Ok, então vamos falar sobre esse projeto, vamos? Localizado em Amersfoort, na Holanda, o complexo de dois edifícios tem uma materialidade simples e austera e um volume sutilmente cívico que claramente se inspira em grandes nomes do passado da Holanda, como Willem Marinus Dudok e Hendrik Petrus Berlage, ou a outros proeminentes norte-europeus. proto-modernistas como Gunnar Asplund.

© Bart van Hoek

Em seu tratamento de fachada, o projeto pega emprestado da Escola de Chicago da mesma forma que as grandes esquadrias possibilitadas pela estrutura em aço são enquadradas por elementos horizontais e verticais; no entanto, enquanto os arranha-céus da Escola de Chicago enfatizavam os elementos verticais, nesse projeto de baixa estatura são as faixas brancas horizontais dominantes. As vitrines de lojas de vidro do térreo criam uma conexão aceitável, se não exemplar, com o que parece ser um espaço público abaixo do esperado.

© Bart van Hoek

Decorações de emoji ou não, você não encontrará ninguém que considere esse projeto uma obra-prima, mas não seria sensato concluir que todo o projeto é uma espécie de piada de mau gosto. Mesmo a adição jocosa dos emojis serve a um propósito arquitetônico: em vez de serem usados em todo o projeto, os emojis ficam confinados à fachada principal do prédio de aparência mais cívica do complexo (aquele que é encimado pela face do relógio). A atenção extra dada a esta fachada estabelece uma hierarquia dentro do projeto, dando-lhe coerência. Em conclusão, a arquitetura é assunto sério, e isso é uma arquitetura séria.

Além disso, sob o risco de adicionar outra opinião indesejada à pilha, por minha consideração, é a própria simplicidade do projeto que faz com que os emojis funcionem. Eles aparecem em um lugar que você esperaria ver um pequeno embelezamento de algum tipo, mas em um prédio que você nunca esperaria ter senso de humor. É essa espécie de propaganda enganosa que traz deleite.

Outra preocupação levantada no artigo da Wired é que o uso de emojis - que nos últimos anos viram seus projetos evoluírem rapidamente - pode fazer com que o prédio pareça um "pouco 2016 demais", ano em que foi concluído. "Pode ser fofo agora", disse a historiadora de arte Susan Kart para Lubell, "mas imagine um prédio que usasse cabeças com penteados mullets dos anos 1980 do mesmo modo que este edifício usa emojis. Não é muito fofo ou moderno depois que o penteado passa. ”

Você sabe o que mais realmente data arquitetura? Datas. E ainda por centenas de anos, era prática bastante comum para os edifícios exibirem orgulhosamente a data em que foram construídos, presumivelmente porque os projetistas daquela época não tinham nenhum senso de vergonha. Só podemos imaginar como os arquitetos do século IV do Arco de Constantino devem estar aliviados agora; seu uso de referências culturais romanas em sua decoração poderiam ter sido realmente embaraçosas, mas felizmente todos ainda usamos togas diariamente e o Arco de Constantino ainda é totalmente atual.

Tomando a citação de Kart um pouco mais seriamente, todos os edifícios são produtos da época em que são produzidos, independentemente de quaisquer referências ostensivas da cultura pop feitas pelos arquitetos. É difícil imaginar o kitsch pós-moderno emergindo em qualquer período de tempo diferente dos anos 80, ou o gótico se desenvolvendo em algo diferente da sociedade religiosa da idade média. Mais importante, os edifícios contam histórias sobre as sociedades que os construíram. Histórias fascinantes podem ser contadas através da arquitetura, e é preocupante que um historiador da arte desconsidere a nossa capacidade de criar nossas próprias histórias. Uma versão melhor do comentário do Kart pode ser: "pode ser fofo agora, mas quanto tempo vai demorar até que se torne interessante?"

© Bart van Hoek

Uma preocupação final é levantada por Khorsandi nos comentários do artigo. Respondendo a outro comentarista, ele escreve: “Eu vejo emojis não como decoração, mas como texto - ideogramas. Ao contrário de outros meios de ler literalmente a arquitetura ... estes ícones não estão anunciando a alta cultura, nem procuram representar um significado mais profundo. Eles são apenas uma coleção heterogênea de ideogramas”.

Aqui nós podemos estar chegando a algum lugar. Os emojis supostamente significam coisas, e essa "linguagem", simples como é, foi amplamente ignorada no projeto do edifício. Mas o perfeito é o inimigo do bom e, para a maioria do público, tais preocupações nem sequer ocorreriam quando observasse esse edifício. Talvez projetos futuros possam usar emojis de maneira mais sofisticada, mas Attika Architekten fez um serviço para testar como as pessoas reagiriam à ideia. E adivinha? Na maior parte, o público até que gostou.

© Bart van Hoek

Quando um arquiteto quebra esse status quo - para o deleite de literalmente milhões de membros do público -, por que alguns investem tanta energia na tentativa de convencer os outros de que era uma ideia ruim e mal considerada? Por que somos tão rápidos em encobrir o pensamento e o conhecimento que foram trazidos para um projeto, a fim de fazer os arquitetos parecerem que eles não têm ideia do que estão fazendo? É o suficiente para um emoji de uma cara triste chorando.

Emoticon Facade / Attika Architekten

See the full project here.

Sobre este autor
Cita: Stott, Rory. "Em defesa do edifício Emoji e da arquitetura poder ser divertida, às vezes" 17 Jul 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/898355/em-defesa-do-edificio-emoji-e-da-arquitetura-poder-ser-divertida-as-vezes> ISSN 0719-8906

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