Como usar a meditação para escapar do estresse cotidiano da arquitetura

Studio for Yoga-Kamadhenu / Carolina Echevarri + Alberto Burckhardt. Cundinamarca, Colombia. Image © Juan Cristobal Cobo

O bem-estar mental é um tema de verdadeira preocupação na arquitetura. Uma pesquisa recente do The Architects' Journal revelou que mais de 52% dos estudantes de arquitetura expressaram preocupação com relação à sua saúde mental. [1] Quando se leva em consideração a quantidade de tempo dedicado aos trabalhos, a natureza competitiva do curso, e a própria duração do curso, talvez isso não seja surpreendente. O costume de "virar noites" da maioria das escolas de arquitetura potencializa o problema, como estudos mostram que a falta de sono reduz a resiliência da mente para questões como ansiedade e depressão. [2]

No entanto, este aspecto do sistema de educação em arquitetura não está mostrando nenhum sinal de mudança. O que os estudantes de arquitetura (e profissionais) podem fazer para minimizar o impacto que a arquitetura tem no seu bem-estar psicológico? Eu diria que a resposta, pelo menos parcialmente, pode ser encontrada na prática da meditação.

wNw Cafe / Vo Trong Nghia Architects. Binh Duong Province, Vietnam. Image © Dinh Thu Thuy

Meditação, em sua essência, é uma prática baseada no simples ato do foco, normalmente na respiração ou em sensações físicas. Embora de origem budista, foi trazido à atenção do ocidente nas últimas décadas do século XX pelo cientista Jon Kabat-Zinn, que estava interessado nas formas em que a prática da meditação poderia ser usada para reduzir o estresse. Após um período particularmente estressante na minha vida há alguns anos atrás, eu pensei em tentar também, usando um aplicativo de dez minutos por dia de meditação.

A primeira vez que eu tentei meditar eu era bastante cético, embora dez minutos longe de telas e ruídos não pareciam fazer qualquer mal. Eu prometi a mim mesmo que iria fazer o exercício todos os dias durante uma semana, e com o passar da semana, estranhamente eu terminava cada sessão me sentindo mais calmo e mais equilibrado. E, ainda mais surpreendentemente, como resultado disso, comecei a me sentir mais feliz também.

Desde então, aprendi que praticar esses exercícios pode causar uma mudança física real no cérebro - uma redução em partes da amígdala. [3] Estas foram algumas das primeiras partes do cérebro a se desenvolver, e estão intimamente ligadas à nossa tendência a lutar ou voar. Apesar de voar ou lutar não serem particularmente boas decisões a tomar na sociedade moderna, quando ficamos estressados nossa amígdala nos bombardeia com adrenalina, o que faz com que muitos se sintam ansiosos ou preocupados. No entanto, você pode treinar esta parte de seu cérebro como um músculo, e com a minha nova e menor amígdala eu comecei a sentir não só uma sensação maior de calma, mas me senti muito mais consciente de como minha mente estava se comportando.

Os cientistas agora acreditam que a meditação pode nos oferecer muito mais do que simplesmente o sentimento de estar mais calmo e feliz. Nas centenas de estudos publicados nos últimos 20 anos, a prática de meditação tem mostrado resultados de um aumento da capacidade de foco, de realizar multitarefas, um aumento da criatividade, uma melhora na memória e até mesmo na capacidade de controlar emoções. Estas são habilidades importantes para um arquiteto e podem torná-lo muito mais empregável. Ter foco irá ajudá-lo a desenhar e modelar mais eficientemente do que os seus colegas, enquanto a capacidade de realizar multitarefas pode ser vital quando você trabalha em diferentes projetos em diferentes estágios. Melhorar sua criatividade irá ajudá-lo a se destacar em uma charrette; uma memória melhor o ajudará a recordar o nome de uma referência que você viu uma vez; e gerenciar suas emoções pode ser crucial em reuniões difíceis com professores, clientes, planejadores ou com a equipe de T.I. que pergunta se você tentou desligar e ligar o computador novamente.

O arquiteto Vo Trong Nghia recentemente pagou para todos os 80 funcionários de sua equipe para participarem de um retiro de meditação vipassana, conhecidos por longos períodos de silêncio. Estes se concentram no que os budistas chamam de três marcas da existência: a impermanência, o sofrimento e o não-eu - tudo que parece particularmente relevante para os arquitetos. A empresa também incorporou uma sessão de 2 horas de meditação obrigatória em seu dia. [6]

Embora não indo muito para esse caso extremo, eu agora realizo uma sessão semanal de meditação em nosso escritório, o Assael Architecture. Apesar dos equívocos comuns, isso não envolve velas perfumadas ou cantar de mãos dadas. Ao invés disso, pense em exercícios de respiração, visualizações e no aperfeiçoamento de sua consciência em relação aos sons ao seu redor ou o peso do seu corpo pressionando sua cadeira. Qualquer pessoa no escritório é bem-vinda para participar, não apenas os arquitetos, e muitas respostas positivas tem sido percebidas. Quase todos aqueles que participam pela primeira vez, relatam quanto eles se sentiram relaxados depois, enquanto aqueles que vêm praticando a mais tempo dizem que já aguardam a sua hora de almoço para poder escapar do caos da indústria da construção. Aqui também reside a beleza da meditação, que pode ser visto como uma ferramenta para fortalecer e moldar sua mente a longo prazo, ou simplesmente como uma boa maneira de desfrutar de dez minutos de silêncio.

Se você gostaria de testar a prática da meditação, na próxima vez que você estiver se sentindo estressado ou ansioso, aqui estão alguns exercícios simples para você começar:

  • Mexa seus dedões do pé nos seus sapatos. Concentre-se na sensação de eles tocarem as partes de cima e de baixo de seus sapatos, e qual é a sensação de apertá-los e soltá-los.
  • Dedique 30 segundos para se concentrar apenas na sua respiração. Isso não significa que você precisa respirar tão fundo a ponto das pessoas ao seu redor notarem, mas simplesmente prestar atenção no que está acontecendo enquanto você respira. Preste especial atenção à sensação do ar passando por suas narinas, ou ao movimento do seu peito e abdômen. 
  • Pare o que está fazendo e observe o que você pode ouvir. Ouça além das pessoas falando, e foque nos sons ao seu redor. Talvez o edifício em si esteja emitindo ruídos, ou você possa ouvir aviões passando que você nunca percebeu. Torne-se genuinamente curioso, como se estivesse ouvindo esses sons pela primeira vez.

Fazer uma ou mais dessas atividades irá fazê-lo focar no momento presente e, esperamos, tirá-lo das situações que induzem ao estresse em que nos encontramos na maioria dos dias.

Ben Channon é arquiteto sênior na Assael Architecture e atualmente está realizando um treinamento para se tornar um profissional na meditação. Ele é dono do Instagram @mindful.inspiration e está atualmente escrevendo um guia de design sobre arquitetura e bem-estar mental.

Referências:

  1. Waite, Richard and Braidwood, Ella, "Mental health problems exposed by AJ Student Survey 2016," The Architects' Journal, 28 July 2016
  2. "Sleep and mental health," Harvard Mental Health Letter, July 2009.
  3. Ireland, Tom, "What Does Mindfulness Meditation Do to Your Brain?" Scientific American, 12 June 2014.
  4. Seppälä, Emma M, "20 Scientific Reasons to Start Meditating Today," Psychology Today, 11 September 2013.
  5. Hartigan, Patrick, "Architect Vo Trong Nghia meditates on creative process," The Saturday Paper, 15 October 2016.
  6. Chan, Allison and Hague, Corey, "Vo Trong Nghia: Concentrating on harmonising architecture and nature," Australia Plus, 28 July 2016.

Sobre este autor
Cita: Channon, Ben. "Como usar a meditação para escapar do estresse cotidiano da arquitetura" 03 Mai 2017. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/870256/como-usar-a-meditacao-para-escapar-do-estresse-cotidiano-da-arquitetura> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.