Por que as cidades africanas precisam de um planejamento específico ?

Neste artigo, originalmente publicado em Future Cape Town como "Designing African Cities: Urban Planning Education in Nigeria", os professores Vanessa Watson e Babatunde Agbola discutem uma mudança de paradigma que acontece nas Escolas de Urbanismo da Nigéria: das teorias de planejamento americanas e europeias até então aplicadas na Nigéria às novas teorias mais apropriadas para lidar com os desafios únicos das cidades africanas.

Em junho de 2011, o Governador do Estado de Osun inaugurou um Comitê de dez membros para o Programa de Renovação Urbana do Estado. O Comitê, do qual eu era presidente, deveria preparar um Plano Diretor de Renovação Urbana para cada uma das 9 cidades selecionadas no Estado. Na inauguração, o Governador enfatizou que o tipo de planos que antecipou para cada uma dessas cidades não eram os modelos de Nova York, Washington, Londres ou qualquer outra cidade euro-americana. Os planos deveriam refletir a realidade das cidades africanas e, portanto, ter relevância nas vidas de seus moradores.

Estas observações do Governador apontam para a crença nigeriana generalizada de que há uma disparidade entre o que os planejadores aprendem e sabem e o que colocam em prática para o bem estar geral e a qualidade de vida da população. Reconhecidamente, a teoria alimenta e informa a prática, mas quando teorias de certas regiões são transplantadas para a prática em outras, o resultado só pode ser desastroso. Este é o efeito do conhecimento e da educação de planejamento contemporânea sobre a morfologia das cidades nigerianas.

Continue lendo para saber o que está sendo feito a respeito deste dilema educacional.

Visualização do Plano Diretor de Abuja, 2006 – 2008. Imagem Cortesia de www.as-p.de

De acordo com Watson e Agbola (2013) em seu livro ‘Who will Plan African Cities’, "Planejamento é a ferramenta mais importante à disposição dos governos para administrar o rápido crescimento da população urbana, e a Nigéria parece tê-la em abundância para realizar as mudanças desejadas no espaço urbano nigeriano".

Hoje, (fevereiro de 2014) há na Nigéria 49 Escolas de Urbanismo, 31 delas em Politécnicas e Faculdades de Tecnologia, enquanto Planejamento Urbano e Regional é ensinado em 18 Universidades espalhadas de forma irregular pelo espaço geográfico da Nigéria. Este é o maior conjunto de escolas de urbanismo no continente Africano. A questão mais pungente, entretanto, é como este número de escolas e seus produtos impactam a morfologia das cidades ou a qualidade de vida de seus cidadãos?

Vista aérea de Part Harcourt, para The Human City Project, Nigéria. Imagem Cortesia de cargocollective.com

O fato deste número de escolas de urbanismo e seus produtos não ter afetado de forma efetiva ou positiva a morfologia das cidades nigerianas pode ser atribuído a três fatores: ou os currículos das escolas de urbanismo são falhos; ou os produtos dessas escolas não conseguem colocar em prática o que aprendem; ou ambos. Na visão de Watson e Agbola (2013), é um currículo problemático que alimenta a prática profissional equivocada que busca produzir cidades euro-americanas no continente africano.

A maioria dos educadores de planejamento na Nigéria é produto de escolas de ponta da Europa e da América, incluindo este escritor. O conhecimento recebido por estes educadores são em sua maioria opostos às necessidades, aspirações e realidade das cidades africanas. O resultado é o transplante de conhecimento de planejamento americano e europeu para a Nigéria. No entanto, a forma, as funções e os processos dessas cidades da África são extraordinariamente diferentes. Muitos dos problemas atuais das cidades nigerianas não são as questões do hemisfério norte. Não é espantoso que as cidades nigerianas permaneçam subdesenvolvidas, mas crescendo, e que seus maiores problemas continuem sem solução.

Vista aérea de Makoko. Imagem Cortesia de thecreatorsproject.vice.com

Há portanto uma necessidade de renovar o ensino de planejamento na Nigéria. Esta necessidade tem sido destacada pela Associação das Escolas de Planejamento Africano (Association of African Planning Schools - AAPS), tendo início em 2008 quando foi realizada uma grande conferência sobre o desenvolvimento de um novo currículo. Nesta conferência, o pensamento de educadores africanos foi exposto e cinco temas principais que devem ser incluídos no currículo de todas as escolas africanas de planejamento foram identificados:

 

  • Informalidade
  • Acesso à terra
  • Mudança climática
  • Colaboração entre planejadores, comunidades, sociedade civil e outras partes interessadas
  • Incompatibilidade entre planejamento espacial e de infraestrutura

 

Além deste esforço e engajamento em desafios ousados de desenvolvimento urbano na Nigéria, o Nigerian Institute of Town Planners (NITP) e o Town Planners Registration Council (TOPREC) têm encorajado Escolas de Urbanismo a apresentar currículos revisados considerando questões de relevância prática para a vida dos nigerianos. Assumindo a liderança, por exemplo, o TOPREC Mandatory Compulsory Development Programme (MCDP) 2013, uma série anual obrigatória de seminários por todo o país foi baseada em Mudança Climática, com uma mensagem de que todas as escolas deveriam incluí-la em seu currículo.

Projeto de comunidade flutuante por NLÉ. Imagem Cortesia de thecreatorsproject.vice.com

Estas mudanças curriculares para incluir todas as cinco questões identificadas estão sendo realizadas com seriedade pelo TOPREC, conforme emitem certificados periodicamente, rejeitando qualquer escola de planejamento que não tenha questões de relevância prática e comum. 

A mudança necessária é muito desafiadora, mas com determinação coletiva das escolas de planejamento e a aplicação persistente pelos órgãos de supervisão, a batalha por um currículo mais realista para as escolas de planejamento da Nigéria pode ser desenvolvida e implantada.

Com isso, a forma urbana e paisagística das cidades nigerianas pode ser mais inclusiva, crescendo com desenvolvimento, com a possibilidade de ter cidades decididamente nigerianas com as quais os moradores possam se identificar e das quais possam se orgulhar.

Vanessa Watson é professora de planejamento urbano em School of Architecture, Planning and Geomatics na Universidade de Cape Town (África do Sul) e Vice-Reitora do corpo docente. Sua pesquisa nos últimos trinta anos tem foco em planejamento urbano no hemisfério sul e os efeitos de práticas e teorias de planejamento inapropriadas especialmente na África.

Babatunde Agbola é atualmente Diretor de Planejamento Físico na Universidade de Ibadan na Nigéria. É também membro do International Scientific Council (ICSU), Escritório regional africano. Em 18 de outubro de 2012 tornou-se Presidente da Association of African Planning Schools (AAPS) com sede na Universidade de Cape Town, África do Sul.

Professor Vanessa Watson is professor of city planning in the School of Architecture, Planning and Geomatics at the University of Cape Town (South Africa) and Deputy Dean of the faculty. Her research over the last thirty years has focused on urban planning in the global South and the effects of inappropriate planning practices and theories especially in Africa.

Professor Babatunde Agbola is currently the Director of Physical Planning at the University of Ibadan in Nigeria. He is also a member of the International Scientific Council (ICSU), African regional Office. On October 18 2012 he became the Chair of the Association of African Planning Schools (AAPS) with headquarters in the University of Cape Town, South Africa.

Sobre este autor
Cita: Vanessa Watson & Babatunde Agbola. "Por que as cidades africanas precisam de um planejamento específico ?" [Why Africa's Cities Need African Planning] 23 Abr 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/601255/por-que-as-cidades-africanas-precisam-de-um-planejamento-especifico> ISSN 0719-8906

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